terça-feira, junho 24, 2008

Materialismo Histórico - 7 (Base económica)

O materialismo histórico, no seu enunciado - e não se está mais do que a enunciar, e a convidar à reflexão conjunta -, tem a sua base. E a sua base é a base económica. Não no sentido, quase se diria pejorativo, que hoje merece o vocábulo economia e seus derivados, meros sucedâneos de finanças e moeda (ou dinheiro), mas no sentido de estudo da actividade racional do ser humano para, com os recursos naturais e com os que vai adquirindo ou socializando, satisfazer as suas necessidades, em que às naturais, biológicas, se vão somando as culturais, socializadas.
Já neste espaço e percurso houve quem, em comentário pertinente, tivesse vindo lembrar (até com a "ajuda" de Fidel Castro, e este "apoiado" directamente em Marx) que "na produção social da sua vida, os homens estabelecem determinadas relações necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma fase determinada do desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser social que determina a sua consciência".
Ora a base económica é precisamente a relação primeira entre o ser humano e a natureza (de que faz parte), relação que, pelo trabalho, se racionaliza e socializa, e de onde decorrem as relações de produção correspondentes ao estádio (histórico) do desenvolvimento das forças produtivas materiais, que são os recursos existentes e os transformados pelo recurso primeiro - porque o acesso e aproveitamento dos recursos começa pela mão e pelo que "está à mão" - que é a força de trabalho.
Neste passo do caminho que gostaria de percorrer, será oportuno dar expressão gráfica ao que vai sendo escrito:

Depois, e com essa mesma intenção, sublinha-se o já dito: que as necessidades evoluem, sempre se acumulando, sendo uma necessidade satisfeita o começo de uma mesma (embora diferente) necessidade, pois quem come para matar a fome não deixa de comer mas pode tornar-se num gastrónomo, e novas necessidades vão sempre nascendo, como as culturais ou de lazer:


Do mesmo modo (gráfico!), as forças produtivas desenvolvem-se incessantemente porque o ser humano, prolongando o seu corpo, criando meios de produção que o auxiliem, instrumentos de trabalho que actuam sobre objectos de trabalho, permanentemente aumenta o seu domínio sobre a natureza libertando-se da total dependência ou servidão (nem sempre, ou muitas vezes não tendo em conta que faz parte dessa natureza, agredindo-a/se ou delapidando-a/se):
E tudo acontece, ao longo dos tempos dos tempos, historicamente, dividindo-se o e cooperando-se no trabalho, num quadro de relações sociais de produção.

16 comentários:

Anónimo disse...

Sérgio, esta maneira de expores a matéria, com ajuda grafica, é muito boa e ajuda a perceber melhor o que tão bem explicas.
É que, como dizia a minha avó,a gente tem de saber porque é que chove.

Campaniça

miguel disse...

este ABC dá um jeitão!

Justine disse...

Gandalição a de hoje, stôr! E clarinha como água límpida, com os gráficos a animarem a página. Hoje dei um passo em frente na minha formação :))

Anónimo disse...

Ora viva Stôr!
Estou a gostar,e pergunto:-na parte alimentar,a rede de frio e congelação, não veio asselarar, a delapidação dos recursos, sobretudo na pesca?
Não seria preferível sabermos quantos somos,e de quanto precisamos, para viver?
Exageramos, na exploração dos recursos naturais, ao mesmo tempo que assistimos à morte de milhões de cidadãos, pela fome!
Estamos condenados a viver com este sistema capitalista?
Que fazer?
Desculpa se abuso da tua paciência, mas só fiz o 2º grau há 55 anos!

samuel disse...

E o chamado "trabalho intelectual"? Como se enquadra? Os meios de produção são tembém cada vez mais sofisticados e embora a actividade não tenda a delapidar os recursos naturais, quais são as "armadilhas" e contra-indicações?

Sérgio Ribeiro disse...

Meus caros amigos, vocês às vezes aceleram demais. Eu entendo: está um fulano nos caboucos e pergunta-se "então esse tecto... que me está a chover em cima?!". Isto é para o "manangão" e o samuel, a quem apenas peço alguma paciência. Os frigoríficos e os intelectuais (eh!eh!) lá virão a seu tempo (se vierem...)
A vossa ajuda - como a da Campaniça (e da avó dela!), do pedras contra canhões, da justine - são preciosas porque estimulantes. E de estímulos estou precisado porque esta tarefa sem estímulos não vai lá...

samuel disse...

Pronto, pronto!...
Uma massagem relaxante nos ombros, ajuda? Então, vá!...
Agora com um bocadinho de uma cantiga do Daniel Viglietti, com versos de Nicolás Guillén:

"Me matan si no trabajo
y se trabajo me matan
Me matan si no trabajo
y se trabajo me matan

Siempre me matan, me matan, ay
siempre me matan"

Abraço

Sérgio Ribeiro disse...

'brigadinho, Samuel. O teu conselho foi seguido e deu um resultadão!
Esse poema do Guillén também faz parte do M.H.
Abraços

Fernando Samuel disse...

Continua. Para proveito comum de todos os visitantes.

Abraço amigo.

Sérgio Ribeiro disse...

Mas qual é a dúvida?
3ªs. e 6ªs. cá estará um post.
Mas as suas "qualidades" estão muito condicionadas pelos comentários nos intervalos das "posturas".
E não tenho que me queixar da qualidade dos comentários (já da quantidade não digo o mesmo...).

Anónimo disse...

-Mas essa coisa do trabalho intelectual não é inerente a condição Humana?
-Não construi o humano no cérebro o objecto que depois vai aperfeiçoando.
-Imaginei eu claro os primeiros homens e mulheres claro a usar um pedaço de osso ou de pedra e a tentar transforma-lo dando-lhe a forma que "deseja" tosco primeiro para depois o aperfeiçoar.
-O domínio do fogo é claramente trabalho intelectual?

--Pois então para mim que já deito fumo por todo lado o trabalho intelectual encaixa um pouquinho antes do trabalho não intelectual ou lá como se chama o outro que já não me lembro.
-desculpem qualquer coisinha.
a.ferreira
-

Anónimo disse...

"Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser social que determina a sua consciência".

Sergio,
"....., o ser social que determina a sua consciência" Isto será consciência de classe..? Ou estou a dizer uma grande burrice?

J.Filipe

Sérgio Ribeiro disse...

O trabaho, por ser racional, todo ele é, em certo sentido, intelectual. Como é evidente, quando amigos põem a questão do trabalho intelectual estão a pensar num outro sentido, e é a ese que eu disse que "lá iríamos", quando devia ter feito o que fez o a.ferreira.
Muito obrigado. Parece-me um óptimo contributo para a reflexão, sendo esta, em si, a exemplificação do... trabalho intelectual. Desde que colectivo!

Sérgio Ribeiro disse...

Q'ais burrice?!
A consciência do ser social, de um ser com fome (social) pode ser a mesma de um um outro ser social que come e gastronomicamente (e socialmente)? O que determina essas consciências?
Aliás, há que dizer que o ser humano é a matéria no estádio de tomar consciência de que existe (e que é social).
E depois, ainda há que acrescentar um porMAIOR que é a partícula "em última instância" porque, comprovando a dialéctica, isto anda tudo ligado... e há sempre retornos.
Mas vocês estão a puxar demais por mim! Estou, apenas, a pensar em voz alta, recorrendo aos "arquivos do interior" e a partir dos vossos desafios.
Grandes abraços

Anónimo disse...

A base económica constitui o apoio sobre o qual se eleva a estrutura política (segundo Marx). Sendo também que o Trabalho (Trabalho Concreto) é, uma condição necessária para a produção (criando objectos úteis) a causa de toda a riqueza (Capital Variável) e de toda a cultura*, e como o Trabalho Produtivo só é possível na sociedade e para ela, pertencendo o produto final a todos os membros da sociedade.
*O Trabalho Intelectual (capacidade de trabalho socialmente combinada), o que a princípio me faz crer que (nos dias de hoje) há também muito Trabalho Abstracto (grande dispêndio de energia gasto na produção).

Reparei que o meu comentário não está aqui.
Era muito grande ou a besteira era tanta que apagaste (fico desde já agradecida).
Fiz agora um comentário tão reduzido, não sei se dá para entender.

Mesmo fazendo a minha figura (ignorante) estou a gostar imenso destes post’s.

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Muito Cara GR,
À pressa, venho dizer-te que não apaguei nenhum comentário teu. Longe de mim. São sempre tão bem-vindos! Pois se não apago nenhum comentário, mesmo de uns anónimos que por aí andam. E só o virei a fazer se forem ostensivamente ofensivos na defesa das suas opiniões e ideias (?!).
Obrigado por mais este contributo em que dás lastro para - mais adiante - tentar melhor esclarecer essa divisão entre trabalho concreto. trabalho abstracto, trabalho intelectual.

Saudações para todos