sexta-feira, outubro 03, 2008

Materialismo histórico - 26

Nestes períodos históricos torna-se predominante a produção mercantil, isto é, a organização da economia social em que os produtos não se destinam ao consumo de quem os produz mas à troca. Assim surge o “reino” da mercadoria, um produto que, se produzido para satisfazer necessidades dos seres humanos, é produzido, não para ser consumido imediatamente – no sentido temporal e no sentido de ausência de agentes mediatos, intermediários –, mas para ser trocado.
Começa a haver circulação de mercadorias entre produtores e consumidores, que por sua vez são produtores de outras mercadorias de que os outros produtores são consumidores, e lugares de encontro, feiras e mercados.
Aqui chegados, resolveu-se ir à “fonte”, beber um pouco de água que saciasse um pouco a sede permanente.
Abriu-se O Capital (na pág. 101 do livro 1º, tomo 1) e ficou-se saboreando: «Na troca de produtos imediata[1], cada mercadoria é meio de troca imediata para o seu possuidor[2] e equivalente para o seu não-possuidor, mas apenas na medida em que é para ele um valor de uso. Assim, o artigo em troca não recebe ainda qualquer forma-valor independente do seu próprio valor de uso ou da necessidade individual daqueles que trocam. A necessidade dessa forma desenvolve-se com o número e a diversidade crescentes das mercadorias que entram no processo de troca. O problema surge simultaneamente com os meios para a sua solução. Um intercâmbio[3] em que os possuidores de mercadorias troquem e comparem os seus próprios artigos com diversos outros artigos nunca se verifica sem que diversas mercadorias de diversos possuidores sejam, no interior do seu intercâmbio, trocadas por uma e mesma terceira espécie de mercadorias e comparadas como valores. Essa terceira mercadoria, na medida em que se torna equivalente para diversas outras mercadorias, recebe imediatamente, se bem que dentro de limites estreitos, a forma de equivalente geral ou social. Esta forma de equivalente geral nasce e perece com o contacto social momentâneo que lhe deu vida. De modo alternado e passageiro advém a esta ou àquela mercadoria. Porém, com o desenvolvimento da troca de mercadorias, ela fixa-se exclusivamente a espécies particulares de mercadorias ou fixa-se na forma-dinheiro.» Gado, peles, sal, conchas, o próprio homem na situação de escravo. Mas, como Marx sublinha (e foge-se, agora, à tentação de recomeçar a transcrever), nunca a terra foi usada como essa terceira mercadoria, equivalente geral, pois essa “solução” apenas surgiu na sociedade burguesa desenvolvida, na parte final do século XVII, quando as relações sociais que definem o feudalismo já estavam na sua fase de inadequação ou de não-correspondência com o desenvolvimento das forças produtivas, para o que a circulação e o dinheiro, com novas funções, muito contribuíram.
__________________________________
[1] Insisto nas duas formas de entender o vocábulo imediato, questão em que laboro há décadas e que, nesta transcrição, significativamente me assaltou. Adiante, e a propósito do saber como força produtiva - quando/se lá chegar - ,se verá a razão inicial desta (para mim) magna questão
[2] - Não se tratou (ainda?!) da questão da propriedade que teria começado com os escravo e passa para a terra e as mercadorias.
[3] - Relativamente ao episódio 24-anexo, os tradutores para edições avante! de O Capital, com a sua justamente reconhecida qualidade e exigência, encontraram as formas troca e intercâmbio para o que, nesse episódio, se designou por troca-troc e troca-échange, até porque o original não é francês...

11 comentários:

Anónimo disse...

Xô tôr.

Peço humildemente desculpa pelos incómodos e malentendidos que possa ter causado ao aqui vir pousar.

Julguei que isto fosse uma catedral. Afinal, deparou-se-me uma capelinha rural.

Abalo desiludido, mas compreensivo.

Sem ofensa.

A.Fagundes.

Sérgio Ribeiro disse...

Que pena!

Maria disse...

Clarinho e transparente, Sérgio.
Estamos já a chegar à fase em que "uma simples coisa" facilitou as trocas e a vida a muita gente - a moeda.
Terá mesmo facilitado??? Para já, provocou um abalo...

Obrigada por nos dares 2 capítulos por semana.

Abreijos

Anónimo disse...

Apróxima-se a passos largos o inicio de,a terra aquem não trabalha as mais valias a quem não faz nada, até que paulatinamente...
Uma vez mais como diria Vinícios de Morais " a benção meu irmão"

Justine disse...

Isto hoje está "puxado", com citações e gráficos! Vai exigir trabalho de casa...logo ao fim de semana:))

Anónimo disse...

Caros paroquianos,
experimentei a sexta...
um é de outra freguesia, de sés e catedrais, outro dá-me a benção, uma outra queixa-se de TPC e logo ao fim-de-semana... valeu-me "santa" maria!
Olhem, bom sábado e que ganhe o J.O.!

samuel disse...

Se não for pedir muito... não sujem muito a água benta, pois pelo que tenho pecado por palavras... não tarda nada estou a bochechar a dita.
Agradecido!

Ele há cada um!... Agora vou ter que ler tudo outra vez, que com as gracinhas das igrejas, verreu-se-me a lição...

Abraço

Anónimo disse...

O da Catedral deve ter ido religiosa e politicamente ao encontro da Sarah Palin.

Sérgio Ribeiro disse...

Com essa da água benta e a da miss A laska fiquei mais animadito...
Estou a brincar, que animação é coisa que não me falta aqui pelo Zambujal! A dificuldade está em escolher o programa.
Bom... hoje é dia de hóquei, começa o campeonato nacional da 2ª Divisão, em casa contra o Lavre! Vou equipar-me. Já li umas coisitas interessantes do ti Vladimiro e vou à vida (outra).

cristal disse...

Lido, anotado, mas acho que para comentar basta que diga que cntinuo muito interessada.

Sérgio Ribeiro disse...

Basta? Estimula!
Obrigado