quarta-feira, dezembro 23, 2009

Notas caRIOcas - 14 - uma pequena crónica

  • Pausa (ou tréguas) na vida lida, ouvida, comentada. Em vez das notas, uma pequena crónica destes dias de quotidiano caRIOca. Com foto dedicada.
Manhã na praia. Entre o posto 9 e o posto 10 da praia de Ipanema. Duas cadeiras e um toldo alugados na barraca da Jana (uma personagem!), com serviço de dois cocos com água bem geladinha, a meio da manhã.
O sol a queimar, mesmo à sombra. Um grande passeio de ida e volta à praia do Leblon, "alguém" à procura do acaso de um encontro com um tal Chico Buarque..., um banho com direito a massagem de ondas pouco calmas.

Atravessada a Avenida Vieira Souto, numa rua transversal, um almoço em restaurante de rotina. Umas saladas e assim, no chamado Delírio tropical, o restaurante... A ver passar uns de gravata e casaco e outros, como um senhor de ar muito distinto, apenas vestindo uma "sunga" e descalço.

Noutro quotidiano, um passeio pela cidade, depois da ida ao SAARA, e uma surpresa ou prenda: o nosso amigo e primo (ou vive-versa) levou-nos (a mim!) a um bar, ou restaurante, ou boteco, para me mostrar o que está por cima do balcão. E aqui fica a foto tirada no Casual-Retrô, com dedicatória para toda a "lagartagem", em que me incluo... Os "cinco violinos"!

Deslocações em transportes públicos. De onibus, de metro, onde o Lula veio inaugurar um troço que, ao ser aberto ao público no dia seguinte, deu problemas, de táxi. Num destes, com "o maior taxista do Rio de Janeiro", um carioca de 57 anos, viúvo, que nos contou a vida toda (e da cadela que o esperava em casa, e que, durante o trajecto, nos foi indicando lugares de má frequentação, sem poupar as palavras, antes abusando do uso de putas e pánêleiros (assim!...), com pormenores que nos obrigámos a que saíssem pelo ouvido do lado contrário ao daquele por onde iam entrando.

À noite, fomos integrados num grupo de ex-colegas de trabalho que se encontrou para beber "um chope. Sem conhecermos ninguém integraram-nos sem dificuldade. Às tantas, falava-se (onde eu estava, claro) mais de Ourém, Tomar, Ovar que do Rio e adjacências. O jovem que me calhou ao lado na mesa é um português, filho de português, com opção voluntária e de muita vontade pela dupla nacionalidade, que vai com frequência a Portugal (temos que descobrir quem são o Joaquim e a Teresa que moram nos Castelos, e que ele visita...), e se sente que está feliz quando fala de Portugal.

O encontro foi na Avenida Atlântica, num dos locais assinalados pelo taxista e, aos poucos, fomos vendo chegar, passar, ficar, revoadas de "borboletas da noite" numa exposição de carne fanada, usada, maltratada, sem cor nem viço. Um mundo prostituto de nós separado pelo muro de amizades efémeras, coberto pelo manto diáfano de uma temperatura a convidar a convívio e solidariedade. O que nunca aceito, e me deixa indignado (surdamente, cá por dentro), é a observação desse mundo como se se estivesse num jardim zoológico, como se não fosse nosso também. Assim me acontece também quando passei e passo, nestes quotidianos, por gente deitada nos passeios. Tanta ainda criança, "mininos da rua"...

Também tivemos, num outro registo, uma vivência indirecta que nos deu a noção ao vivo de como funcionam os serviços de saúde e a sua ligação aos seguros e às viagens.

Respirar o dia-a-dia de uma cidade. Maravilhosa. Mas...

6 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Não me canso de ler estas notas. Também ando por lá sentindo a cidade maravilhusa...mas!!!!
Um beijo.

samuel disse...

Por aqui vamos, também. Quase tudo mal. Mas...

Abraço.

Márcia disse...

Sérgio ,
Esta nota está perfeita.
Tanto quando falas do motorista de táxi que contou-lhe a vida,é assim mesmo, raro são as pessoas que não vão falando, em fila de banco é pior, sim porque aqui há filas nos bancos.
A questão da prostituição em Copacabana é muito forte, tanto que há o turismo sexual, quando se aproxima do carnaval aumenta mais ainda, inclusive com crianças, é muito triste.
Outra questão são as pessoas que dormem nas ruas e quase todos acham "normal" pois eles se tornaram invisíveis.
Perguntamo-nos como isto é possível? como pode o ser humano chegar a este ponto de não sentir mais nada em ver outra pessoa, quase sempre famílias dormindo ao relento? embaixo de marquises? O contraste social em todo o país é muito grande, e não entendem o porque da violência!
abraços

Pata Negra disse...

Gosto mais de crónicas do que de notas: uma questão de coscuvalho.
Um Bom Natau. Também vou sair de casa! Ainda hoje vou ter de fazer 40Km de carro.
Abreijos

Fernando Samuel disse...

Por essa foto da «lagartagem» é que eu não esperava...

Um abraço.

cristal disse...

Estão quase a regressar e eu, que sinto saudades, quase não queria que regressassem porque pelas vossas mãos e olhos tenho andado de visita por aí. Não têm dado por mim?