terça-feira, março 23, 2010

O PEC é o que é... mas não vai ser!

O PEC, como documento, é o que é. Uma “coisa” que, como a pescada, antes de ser já o era. Até porque, antes de ser, começou a receber elogios, cujos, além de vitupério porque em boca própria, vieram dos mandantes transnacionais, satisfeitos com as intenções no documento, à semelhança do que, em tempos, acontecia com o que se chamou cartas quando eram endereçadas ao FMI.
No entanto, o PEC não será, com certeza, o que diz que vai ser. Desde logo porque, na análise do documento, mais que a difícil viabilidade, se lhe descobre a inviabilidade.
O investimento depende do que é exógeno ao documento, particularmente daquele que se quer atrair do exterior, e para que se prometem todas as facilidades e prebendas;
a procura interna, quer a pública por opção política, quer a privada por cortes nos salários e dificuldades e exaustão no crédito, pelo desemprego no alto patamar a que se colocou e só tenderá agravar, será decadente mas dificilmente poderá ser tanto quanto estimada;
a procura externa que se prevê no documento, traduzida em exportações, além inconsistente e irrealista é a única âncora para justificar o objectivo do irrealista decréscimo do défice orçamental, sem melhoria na dívida pública.
Mas o mais importante não é isto atrás dito. O mais relevante é a certeza de que o documento, e de documento de projecções se trata, apresenta-se e lança-se como se não viesse a haver oposição à sua concretização, e por isso tanto se insiste - em campanha! - nas palavras confiança, que ninguém tem, e consenso, que não existe por mais entorses e maus tratos que se dê à etimologia.
O PEC, como documento, até poderia vir a ser realidade se não houvesse gentes ou elas fossem amorfas e masoquistas suportando sem reagir o que seriam as suas consequências em áreas sociais, no que se repercutiria nos viveres, que, dir-se-á, estão eivados de maus hábitos*. Alguns haverá, decerto, mas – pergunta-se – quem e que estratégias (de consumismo e crédito fácil e remunerador... para os bancos) criaram esses hábitos que hoje se anatematizam ?
Os PECs (aqui e onde) parecem, por isso, mais um “balão de ensaio” para se ver até que ponto as gentes irão aguentar as consequências das opções de sociedade sob a batuta do capital financeiro. Aqui e onde, em cada local com as situações e reacções que lhes serão próprias.
_____________________________________
* - Como escrevia Marx, em O Capital, “é totalmente indiferente se um produto real, por exemplo, como o tabaco é, do ponto de vista fisiológico, um meio de consumo necessário ou não; basta que, em conformidade com o hábito, ele seja um tal meio de consumo necessário”, ou tenha passado a sê-lo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Afinal é isto que o PC tem a dizer sobre o PEC. Vê-se mesmo que o capitalismo é estúpido e que a inteligência foi toda para o PCP.
deus é grande!

Sérgio Ribeiro disse...

O que deveria estar a ser aqui comentado é um "post" de Sérgio Ribeiro, entre muitos que vou fazendo sobre este e outros temas.
O que o PCP tem a dizer sobre o PEC já foi dito onde e por quem fala em nome do PCP. Quando eu/SR o fizer na qualidade de representante do PCP, direi com toda a clareza que é em seu nome.
Mas o comentário que está, fica. Porque sim, e pode servir para ilustrar uma certa postura... anónima.

Fernando Samuel disse...

o PEC é a política de direita no seu máximo esplendor...

Um abraço.

Graciete Rietsch disse...

Porque será que o PEC é tão apoiado por alguns e relativamente criticado por outros? Será porque estes últimos pretendem substuir os primeiros para fazer a mesma política e colher algumas benesses?
De uma coisa tenho a certeza.Se os que são mais atingidos não acordam ràpidamente virão a sofrer muito mais duramente.

Um abraço grande.