sexta-feira, outubro 29, 2010

Humilhadas e ofendidas

O caso dos jovens comunistas que foram interrompidos pela PSP numa sua actividade de intervenção cívico-politica, detidos e humilhados e ofendidos, foi referido por vários vizinhos, amigos e camaradas, e foi-me chamada a atenção para ele por alguns mails. Senti indignação, terei deixado comentários, mas achei que "perdera a oportunidade" de aqui o referir. Agora considero que achei mal. Deveria tê-lo feito de tal modo o caso é grave.
Mais osinto, ao ler a excelente crónica de Manuel António Pina, no JN, que aqui quero reproduzir, por ter a qualidade (até a da extensão) de exprimir a indignação (e a repulsa, o nojo!) que este caso merece:

«Os corpos do delito

Não tenho por costume folhetinizar em episódios estas crónicas (como o taoista, chamo-lhes assim porque não sei que nome têm e posto que tenho que chamar-lhes alguma coisa), mas as declarações do "porta-voz oficial da PSP" ao DN acerca da detenção de quatro raparigas e um rapaz da JCP que pintavam um mural na Rotunda das Olaias, em Lisboa, talvez justifiquem, na sua exemplaridade novilinguística, uma excepção.
A PSP considera naturalíssimo e "decorre[nte] das medidas cautelares de polícia" que duas das jovens detidas (menores, tudo o indica) tenham sido obrigadas a despir-se completamente na esquadra. Porque tudo terá tido, pelos vistos, a maior pureza de propósitos: fazer-lhes uma "revista sumária" (imagine-se o que será uma "revista completa") à procura de "armas, de fogo ou brancas" ou "produtos cujo transporte pode ser considerado crime, nomeadamente drogas".
Dir-se-ia, pois, que é rotina da PSP, de modo a pôr a nu todas as suspeitas possíveis sobre comuns cidadãos "conduzidos à esquadra", pedir-lhes o BI e mandá-los logo pôr-se em pelota. Talvez seja, mas, a crer no que se passou, será só com jovens raparigas, já que, no caso, os agentes se dispensaram de qualquer actividade por assim dizer investigatória no corpo do rapaz. Aparentemente, nem as mochilas do grupo terão sido revistadas. Só os corpos das jovens.
Há-de ter havido um bom motivo para isso. Talvez até mais do que um.»

6 comentários:

Justine disse...

E não há castigo para essa besta disfarçada de polícia?

Graciete Rietsch disse...

Também li a crónica de Manuel António Pina e achei-a excelente.

Um beijo.

Anónimo disse...

Pois é provoca tudo isto muita indignação. Mas se fosse em Cuba, na China ou na Coreia do Norte estava tudo muito bem. Como diz o outro que nem sabe de que terra é quem te viu e que te vê, sempre dois pesos e duas medidas. A lião que se aprende aqui é que a indignação quando nasce não é igual para todos porque há uns mais iguais do que os outros. O sociólogo é que topa S. R. à distância e lhe diz umas verdades de que não gosta de ouvir que o arrumam num canto. Se é verdade que os polícias se portaram mal castigo para eles. Em Portugal não funciona um regime de ditadura como aqueles de que o P.C.P. gosta muito e em que se fazem coisas mil vezes pioers e nem uma lágrima de crocodilo vale a quem é do Partido Comunista.

Sérgio Ribeiro disse...

Justine - olha que a "besta" que deu explicações é um porta-voz.
Graciete - ... e há a anterior. Leste!

Por outro lado, há umas "bestas" que nem precisam de se disfarçar porque se escondem no anonimato, que pensam que os comunistas são como eles, para quem o que é feito aos comunistas é aceitável em qualquer sítio e por pior que seja.
NÃO! Uma atitude destas, fosse ONDE fosse, e fosse CONTRA QUEM fosse, mereceria a nossa indignação e protesto.
Para este anónimo, nem merece ser conhecida a ilegalidade, a ignóbil atitude, a inaceitável prepotência... porque foi contra jovens comunistas!
Tenha vergonha na cara e pense, como será o único argumento que aceita: pense que uma sua filha ou neta decide ser comunista!

Anónimo disse...

Ah ele é "besta", muito obrigado pelo respeito que revela ter por mim snhor Anónimo deste seculo apesar de não saber quem eu sou. É a mania do controleiro, também quer que eu meta a mão no ar como fazem no P.C.P. para saber quem sou? Caso não saiba, fica a saber nem sou da sua laia nem quero. Eu bem o vi muito incomodado com o que se passou e muito bem, mas em relação há pessoa que ganhou o P´remio Nobel da Paz não revelou o mesmo incomodo e até a mulhe dele está presa. É ter as duas caras que disse aqui que não tem. Na verdade gostava de poder prender-me por eu não ter as mesmas ideias que o senhor não é. E deixe os meus em paz que não foram para aqui chamados. Merecem-lhe mais repeito do que aquele que nao teve por mim. Mas já estu acostumado a ler o que escreve quando não gosta e ofende os outros e perde a razão duas vezes. Não é problema de ser comunista ou não é problema de educação. Passe bem e aproveite para ter também vergonha de não ter das caras.

Sérgio Ribeiro disse...

Que os tão visceralmente anti-comunistas, pensem na última frase que me saiu e que melhor formulo:
pensem que uma filha ou neta vossa pode decidir ser comunista e, sem cometer qualquer ilegalidade, e, só por estar a fazer uma tarefa que não agride ninguém, que não molesta ninguém, é "conduzida" à esquadra e, lá, como forma de a humilharem e ofenderem, a obrigam a despir-se... à procura de armas e drogas que não procuram sequer na sua mochila!
Eu indigno-me! Como me indignaria se fosse este o procedimento de agentes da PSP cubana, chinesa, de qualquer das Coreias, ou da Conchinchina, relativamente a alguém que não está a cometer crimes ou ilegalidades.
Quanto ao apodo de "besta" (entre aspas) não tinha intenções ofensivas ou de má educação, apenas aproveitei uma analogia sugerida por comentário ao comportamento do porta-voz da PSP.
E, acrescente-se, em várias circunstâncias, tenho sido um acérrimo - e muito vezes incompreendido - defensor dos agentes da PSP.