sexta-feira, junho 10, 2011

Ser ou não ser… economista

Há dois anos e meio, no regresso de uma viagem/visita ao Vietnam, escrevi isto, que vem mesmo a propósito do anterior "post" e vou levar para a "zona do pinhal" para o avantinho de Ansião:

Ser ou não ser... economista

À ideia que se faz de economista junta-se, consensualmente, a ideia de “homem de números”. O que faz contas. Contas mais complicadas que as da contabilidade, contas ditas de técnicas e métodos quantitativos, de estatísticas, econometrias e mais coisas inacessíveis aos comuns dos mortais.
Sempre combati essa conotação redutora. Gosto de ser economista, gosto de trabalhar números… mas, para mim, economia não são números, muito menos cifrões, $ ou . Economia é, sobretudo – escrevi: sobretudo –, uma ciência social.
Andei, pelos vietnames, no meio da economia real, das pessoas e das coisas. Das coisas no meio das pessoas. Não das pessoas no meio das coisas. Não das finanças, e seus joguetes.
Abro os jornais, “ouvejo” os noticiários, e é como se regressasse das economias, não às economias. O que, ontem, era +0,6% de previsão de crescimento do PIB – e, anteontem, muito acima – passou, hoje, a ser previsto descer aos –0,8% ou mais abaixo; o défice orçamental que, ontem, se chegasse a 3% do PIB era pior que, para o Código das Estradas, pisar um duplo risco contínuo e condicionava todas as economias nacionais (ou o que mantém esse nome), hoje, é dito que será de 3,9%... mas sabe-se, já, que vai ser bem superior; o objectivo do controlo da inflação, transformado em sine qua non (não se sabe bem de quê mas sine qua non) foi substituído pelo risco de deflação, que é o contrário sendo, socialmente, o mesmo; o desemprego – ah!, o desemprego –, ontem a grande maleita, com a criação de empregos (150 mil, não era?) como terapêutica inadiável (e para isso sendo necessária a maioria absoluta), hoje é a eminente inevitabilidade, com a taxa anunciada de 7,7% a subir para 8,5%, e são percentagens (às décimas de porcento…) que só querem dizer que se espera que vá aumentar muito e, logo, quem tem emprego que o guarde bem guardado, como benesse ou privilégio e que se deixe de direitos e essas fantasias…
Porquê? Porque se fizeram mal as contas? Porque não se supervisionou a actividade bancária, quando é esta que supervisiona o resto, voando acima de todos os ninhos de todos os cucos? Porque a economia nacional está dependente da internacional?
Mas não foi dito e redito, previsto e prevenido, que as políticas prosseguidas iam levar à demente financeirização, à crescente e trágica dependência do exterior?!, desde as de tradução técnica (balanças comerciais, de pagamentos, dívida externa), mas, sobretudo, alimentar, energética, na economia… real, isto é, das realidades. E assim sendo porque se desvalorizou o aparelho produtivo, maxime os trabalhadores. O que passou a valer, a ter valor, é o que compra os melões, e não o trabalho que planta e colhe melões e meloas, que tira e amanha peixe e outro pescado, que faz e troca queijos e quejandos.
Não embrulhem os cidadãos em números. Não digam que a culpa é dos economistas. É das políticas! É dos interesses (de classe) que servem. E que põem  (mal) ditos economistas ao seu serviço.

3 comentários:

José Rodrigues disse...

DIVULGUE-SE o Pequeno Curso de Economia,recentemente publicado pela edições Avante.Dá para perceber muita coisa e para ajudar à luta que continua.Notei a partir de tarefa em mesa eleitoral,que grande parte da juventude(+-30anos) não percebeu ainda que vai ter muito que lutar para ter direitos consagrados no artº 70º da Constituição da República Portuguesa.
Abraço

Justine disse...

Importante, a tua reflexão!

Graciete Rietsch disse...

Ser economista é fazer contas, mas contas "tendo em conta"as políticas viradas para um outro futuro.
Tu és economista.

Um beijo.