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Edição Nº2145 - 8-1-2015
O melhor de sempre
2014 foi o ano em que Portugal perdeu mais de 400 camas
hospitalares; em que 269 clínicos pediram à Ordem dos Médicos os certificados
para exercer a profissão no estrangeiro; em que 2082 enfermeiros emigraram, o
que dá uma média de 5,7 por dia; em que as urgências dos hospitais rebentaram
pelas costuras por falta de profissionais e camas para internamento, com tempos
de espera a atingir as 18 horas e mais; em que corporações de bombeiros
denunciaram que há ambulâncias a ficarem retidas nos hospitais por falta de
macas e demais material; em que houve pelos menos 66 mil processos de penhoras
de casas ou execução de hipotecas (dados de Setembro); em que só entre Outubro e
Novembro mais 1700 crianças perderam o abono de família; em que voltou a cair o
número dos que recebem o complemento solidário para idosos, o subsídio de
desemprego e o rendimento social de inserção, entre outros apoios sociais; em
que morreu gente no serviço de urgências sem ter sido atendida; em
que...
O rol podia continuar por aí, falando nos
dramas que cada número tem contido no bojo, acrescentando outros, tantos, que
não caberiam nestas linhas, mas tal seria não só deprimente como politicamente
incorrecto, nestes tempos em que Pedro e Paulo já não vislumbram nuvens negras
no horizonte, Pires transborda de confiança no crescimento da economia, e o
senhor Silva continua a cacarejar de contente sempre que o Governo põe um
ovo.
As desgraças do povo, consabidamente madraço, não cabem
no discurso oficial, cujo, insiste-se e repete-se até à exaustão, diz que o País
está bem e recomenda-se. Se não é o nosso caso paciência, azar, alguma coisa
fizemos ou deixámos de fazer para não estarmos a cavalgar a maré dos sucessos
que proliferam como cogumelos em terras de Portugal. A prova de que assim é
chegou-nos esta semana através do comunicado distribuído pelo
grupo BMW em Portugal, dando conta de que 2014 foi o
«melhor ano de sempre», com a venda de «12 961 unidades, entre automóveis BMW e
Mini e motociclos BMW, o que corresponde a um crescimento de 35% face ao ano
anterior».
Maria Antonieta terá dito «se o povo tem fome, por que
não come brioches?» Maria Luís não recomendou a compra de BMW, mas lá que alguém
anda a comprá-los com o nosso dinheiro, isso anda.
Anabela Fino
Boa!
2 comentários:
...e Voklswagen! du grupo:"skoda- audi-Porche".
Volks-wagen jà nao quer dizer antigamente la voiture-du-peuple mais voiture du profit cqfd.
Excelente comentário. Merci, Dimitri
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