segunda-feira, setembro 28, 2020

O Centro de Documentação Joaquim Ribeiro-Zambujal foi inaugurado

No meu quase-diário:

27.09.2020 


Como disse num post de 26:

Amanhã, serei um homem feliz

(depois passa-me... mas volta, com a luta!):

&-----&-----&

Foi isto que disse (mais ou menos assim):

 Caros Conterrâneos, Meus Amigos, 
Já lá vão quase 3 décadas
– o meu tempo conta-se por décadas… –,
estava há poucos anos no Parlamento Europeu e tive a tarefa de elaborar um relatório sobre desenvolvimento regional, e lembrei-me do Zambujal.
Era um relatório sobre a desertificação do chamado interior.

Lembro-me
que me lembrei do meu pai,
do que ele me contara do Zambujal
e das escolas por onde andara;
lembrei-me da emigração dos anos 60,
do meu amigo Bicho, companheiro de tanta traquinice,
morto matado no “salto”,
nos Pirenéus de França à vista,
lembrei-me da necessidade de regiões,
plasmada na Constituição Portuguesa de 76
– necessidade já referida no Plano de Fomento de 1968.
No meu relatório, defendi que a base
da fixação das populações está na vertente cultural.
Foi bem acolhido o relatório. E por aí se ficou… e nos ficámos!
Lembrei-o nestes últimos dias, em que acompanhei o trabalho de tantos para que se inaugurasse – hoje –, este Centro de Documentação, no recuperado edifício-Escola que eu vira nascer e de que sofrera a desactivação.
E lembrei-me que não me lembrara do episódio do relatório nas histórias que estou a escrever do tempo que vivi,
de que terminei o original para o 4º caderno, relativo ao intervalo estive no Parlamento Europeu.
Cadernos que edito para distribuir a quem os quiser, histórias-testemunhos de um tempo vivido, e que aqui ficarão disponíveis – entre muitos outros de outros – que contam casos da aldeia e do mundo, factos de luta e prisão por um futuro melhor, mais humano.

No que até agora disse, usei 7 ou 8 vezes o verbo lembrar

.Eu!...que não me canso de dizer que só se é velho quando se tem mais memórias que projectos, mais lembrares que fazeres.

Hoje, com tantas lembranças, vivo um projecto acalentado e concretizado.
Rejuvenesço no projecto de deixar acessível a todos,
- para que a alguns seja útil -
a memória do que vivi,
num espaço que era apenas lembrança triste 

e passa a ser memória viva.

Memória minha,

memória dos que aqui aprenderam,
dos que aqui ensinaram.
Memória que pode,
a partir de aqui, ir mais fundo.
Ir às raízes de Joaquim Ribeiro, também da Beata Tareja, de Francisco Vieira de Figueiredo.
De todos que aqui nasceram.

Às raízes de todos nós...

Sinto uma grande alegria
(e comoção),
que desejo partilhar.
Este foi projecto proposto a um executivo presidido por Paulo Fonseca, que comigo assinou o protocolo,
foi projecto concretizado pelo executivo que se seguiu,
presidido por Luís Albuquerque.
Dou particular significado a esta referência a nomes próprios (e apelidos) que em tantas circunstâncias estão separados,
(e separados estão de um de apelido Ribeiro e nome Sérgio)
mas que aqui se unem,
e os quero unidos ao nome de meu pai,
o Joaquim do Zambujal, de Ourém,
por isso ao meu, de meus filhos, netos e neta.

Esta partilha (e emoção) é, no entanto, bem mais larga,
É com os amigos que logo à partida me apoiaram,
e cito apenas o Quim Veríssimo da Atouguia;
é partilha grata com todos os trabalhadores da Câmara
e das empresas ligadas ao projecto e à sua concretização.
(alguns deles estão já acrescentados ao rol dos meus amigos,
e se os citasse, como mereceriam,
além de ultrapassar o tempo razoável de intervenção,
decerto deixaria de fora alguns, injustamente);
é partilha com a minha família!
… mas esta está em tudo,
até na dispensa do espólio que, por herança, seria seu…
… e o agradecimento fica lá para casa.
Por fim, muito gostaria de estar,
aqui, hoje,
no meio dos meus vizinhos, com toda a gente do Zambujal
… e mais que fosse. O vírus impede-o.
Mas vou fazer por que todos sintam
que a sua/minha aldeia passa a ter
um pólo,
a que terei dado o empurrão inicial ao entregar-lhe muito do que fica para além de mim,
empurrão a que tantos (e tão bem!) deram sequência;
um pólo com documentação
para quem queira saber como foi isso da moeda única,

que acompanhei da gestação ao parto,
e outras coisas (algumas anedóticas)
de um Parlamento onde fui voz
pouco seguida mas ouvida,
um pólo que é biblioteca acessível, aberta a contares meus
- e de muitos outros - de aldeias, de cidades, 
de mundos,
de vidas;
também um pólo de convívio, para encontros de antigos alunos e professores, de tertúlia, de lazer e de cultura.
A contrariar o envelhecimento e a desertificação.

Para apoiar o Centro de Documentação Joaquim Ribeiro-Zambujal como espaço vivo e jovem – com projectos! –, foi criada, em estreita articulação com a Câmara Municipal, uma Liga de Amigos. Todos nela têm lugar.                                                                          

                                                                         Sou, hoje,

um homem feliz.

Muito obrigado a todos

&-----&-----&

O modo como a sessão correu, justificou a esperança.

&-----&-----&

 Estivemos os que a pandemia permitiu e o almoço da nossa “equipa” foi agradável e fui, com o João e o Gonçalo (lembrança deste) por umas flores na campa dos meus pais e avós deles...

12 comentários:

Olinda disse...

Emotiva partilha,camarada,é justo o teu orgulho :Fez-se história,no Zambujal.Um abraço fraterno de quem tem aprendido muito contigo,ao longo destes anos. ( A aprendizagem é um instrumento de luta).

Maria disse...

Comovi-me com as tuas palavras.
Comovi-me com a realização deste sonho.
E com tudo o que adivinho que se passou e sobretudo que sentiste.
Um grande abraço!

Sérgio Ribeiro disse...

Partilho convosco, camaradas Olinda e Maria. Sempre presentes no que faço e como estou porque estamos juntos na luta.
Obrigado por sermos a força que somos... e que cada vez mais necessária é!

Augusto Carvalho disse...

O teu legado como História, a tua História como legado. O sonho tornado real, o projeto tornado espaço para receber pessoas e entregar-lhes experiência vivida e ideias, e a manter fértil a terra do Zambujal. Se bem entendi, pra fazer nascer, brotar gente boa. Assim como és, amigo Sérgio Ribeiro. Assim como o é, onde estiver, o teu espelho, Sr. Joaquim. Forte abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Muito obrigado, amigo Augusto. Sem ir aos Rousseau... ninguém nasce bom ou mau...faz-se e é feito pelas circunstâncias. Está nas minhas intenções ser parte das circunstâncias que ajudem a melhorar o humano e, por isso, a Humanidade.
Muito obrigado pelas tuas palavras certeiras, pela pontaria...não pelo alvo... Grande abraço

GR disse...

A realização de um sonho, feito de muita vontade, sempre pensando na comunidade, na Cultura, sempre pensando nos outros, sempre em prol do Colectivo.
Um local onde a Palavra, as Letras são prioritárias, mas o convívio é também prioridade.
A importância da (tua) Memória irá fazer uma Juventude melhor, mais culta e mais justa.
Orgulho, Alegria, Satisfação e muita comoção foi o que senti. Não estive presente, porém estive contigo, neste Grande dia.
PARABÉNS!
Grande Beijo
GR

M. disse...

Comoveste-me, Sérgio Zambujal, pelo que mais uma vez provas do que és e no que acreditas. Obrigada!
Um abraço amigo
M

Maria João Brito de Sousa disse...

Francamente solidária com este momento de alegria, deixo um abraço.

João Baranda disse...

Parabéns ao jovem Sérgio pela concretização do projeto (... "só se é velho quando se tem mais memórias que projectos, mais lembrares que fazeres")
Um abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, meu caro amigo. Está a tardar o nosso almoço...
Forte abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Para ti, minha querida M. que tão bem me acompanhas como amiga e camarada, um abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Para a Maria João, sempre presente e tão solidária que já faz parte deste blog,
um abraço grato e amigo