quinta-feira, janeiro 20, 2022

Guerra civil nos USA?!

do quase-diário

No último sábado, neste blog, reproduzi um texto de António Santos, perguntando-me se não se estaria a exagerar:

 Nº 2511 (2022/01/13)


1861: o ano novo dos EUA

Em 1861 Henry Adams lamentava-se que «nenhum na América queria a guerra civil, nem a esperava, nem a antecipava». Na primeira semana de 2022, parece que todos os homens (e mulheres) da América a antecipam, a esperam ou a desejam.

«Vem aí a guerra civil?» perguntava, na semana passada, a manchete do New Yorker. «Enfrentamos uma segunda guerra civil?» ecoava, simultaneamente, uma coluna do New York Times. Três generais na reforma retorquiam numa coluna do Washington Post: «mais uma tentativa de golpe de estado» e ela pode mesmo estalar, avisavam. Entretanto, um estudo da Universidade da Virgínia revelou que mais de metade dos 74 milhões de eleitores de Trump acreditam que houve fraude eleitoral e defendem a secessão dos Estados republicanos. 44 por cento dos democratas concordam em partir a federação dos Estados.

No aniversário da patética tentativa de golpe ensaiada e gorada no capitólio, Biden perguntou-se se «vamos ser uma sociedade que aceita a violência política como a regra». Os sinais estão lá: a percentagem de estado-unidenses que admitem recorrer à violência para atingir fins políticos subiu de 10 por cento, na década de 90, para trinta por cento; o número de ameaças de violência contra congressistas duplicou em menos de um ano e, recorde-se, nos EUA há 434 milhões de armas para 330 milhões de pessoas e cerca 220 milícias. Oportunamente, Barbara Walter, uma consultora da CIA, promete ter todas as respostas no seu novo livro: «Como as guerras civis começam e como travá-las».

Os lunáticos tomaram conta do hospício?

Trump, surpreendentemente, embora enleado em processos judiciais, já escorraçado da Casa Branca e permanentemente censurado pelo Twitter, pelo Facebook e pelo Youtube, nunca foi tão popular. Segundo as últimas sondagens, reúne o apoio de 9 em cada 10 republicanos e conta com uma taxa de aprovação de 52 por cento dos estado-unidenses— mais do que quando se sentava na sala oval e o suficiente para sonhar com uma nova candidatura em 2024.

À medida que a hegemonia dos EUA esmorece, agravam-se as contradições internas da burguesia. Essas contradições tomam as formas mais diversas: são demográficas, num país urbano e democrata de costas voltadas para um país republicano e rural; são eleitorais, na distorcida sobre-representação dos republicanos no Senado; são económicas, na alta finança oposta à indústria e são, crescentemente, políticas, na amplitude de soluções propostas para salvar o capitalismo em crise.

É possível prever que 2022 traga, à semelhança de 1861, um clima político ainda mais polarizado, violento e volátil. É difícil dizer se esse clima conduzirá a mais erupções localizadas de violência ou à rotura da união dos Estados porque a resposta depende bastante de medidas de loucura. Mas, tratando-se dos EUA, ninguém ficará surpreendido se um dia os lunáticos tomarem conta do hospício. Por ser um hospício, primeiramente. E por estar apropriadamente a transbordar de lunáticos, já agora.

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Ontem, em Notícias Zap, podia ler-se:

MUNDO

EUA: e uma guerra civil em todos os Estados?

NUNO TEIXEIRA DA SILVA

 

18 JANEIRO, 2022

Muitos norte-americanos aceitam o cenário de cometer actos violentos 

que atinjam membros do Governo.

Guerra civil? Nos Estados Unidos da América? Não seria sequer um tema em 2022, para quase todas as pessoas. Mas, no início desse tal ano, as análises à volta deste assunto multiplicam-se.

Ron Elving, correspondente da National Public Radio em Washington, e alguém que acompanha constantemente os assuntos e os bastidores da Casa Branca, avisa: “Imagine outra guerra civil nos EUA mas, agora, em todos os Estados“.

Não é um cenário provável já para amanhã, ou para a próxima semana, mas a verdade é que vários inquéritos nacionais demonstram que há muitos habitantes nos EUA que aceitam a ideia de cometer actos violentos que atinjam membros do Governo. Não são a maioria, mas já são uma minoria significativa.

Revelaram as sondagens que 33% das pessoas achava que a violência contra o governo era “justificada, por vezes”. Esta percentagem era de 10% em 1990.

Aliás, ainda em 2020, em Outubro foi publicada uma sondagem nacional que revelou que a maioria dos norte-americanos acreditava que o país já atravessava uma situação de uma “Guerra Civil Fria”.

Em 2021 a maioria dos apoiantes de Donald Trump queria que o seu Estado deixasse de fazer parte do país. E, mesmo entre os apoiantes de Joe Biden, uma percentagem considerável (41%) admitiam a possibilidade de “dividir o país“.

Além dos problemas sociais e das desigualdades económicas, fica a ideia de que as pessoas que vivem nos EUA não acreditam no sistema democrático do país. Sobretudo os jovens não acreditam.

Esta noção foi transmitida por um inquérito revelado no mês passado, que também demonstrou que um terço dos inquiridos disse que estava à espera de uma guerra civil nos próximos tempos; e um quarto das pessoas pensa que, pelo menos, um Estado vai passar a ser totalmente autónomo.

Não se espera uma guerra que cause 600 mil mortos (ou mais), como causou a guerra civil nos EUA. Mas espera-se, e já é uma realidade, que assuntos importantes causem divisões fortes entre Estados – e, ainda antes disso, “a guerra está prestes a surgir à porta de casa de cada um“, lê-se no artigo.

desgaste é evidente, a atmosfera é “tóxica”. E num país onde há 434 milhões de armas na posse da população…

   Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

2 comentários:

Olinda disse...

Uma guerra é sempre de lamentar,pelas terríveis consequências inerentes.Pergunto ,quando se começa a falar de uma possível guerra civil nos EUA,não será já a tentativa de preparação de um ambiente propício para que tal aconteça? Carter afirmou há pouco tempo que os Estados Unidos estavam à beira de uma Guerra Civil.Numa sociedade como a Norte-americana,tudo é possível.Bjo

Monteiro disse...

O Trump não desiste.