retirado do quase-diário:
Com tanto bicho careta a comentar as eleições, antes, durante e depois, também me está a dar vontade de fazer alguns comentários.
Um sobre a “golpaça” que elas foram, outro sobre as sondagens.
No PCP viu-se tudo, desde o início… e disse-o: o 1º ministro levou o PCP ao desespero de votar contra o OE (que outra coisa não podia fazer!) para se ver livre dos incómodos “apoios” de que precisava e tentar a maioria absoluta. E disse-o, sem eco porque a mordaça funciona no que respeita à massificação da informação.
Se alguém quiser ler o fundamento das posições – o que se disse antes e para campanha -, e se a leitura for mais fundo e mais atrás, verá com toda a clareza, que a posição do PCP era a de quem sabia os riscos enormes de umas indesejáveis eleições naquele momento, e a que se via obrigado. Foi para a luta para “minorar os estragos”. Com uma evidente - e capciosamente, para não dizer hipocritamente - aproveitada intenção de "não fechar portas".
Em contrapartida, o PS jogava (poucas vezes foi tão bem aplicado o verbo em política) a carta da maioria absoluta, com a escapatória, se nem tudo corresse bem, de poder apoiar-se a torto e a direito, conforme conveniente, tendo, do seu lado direito, partidos partidos ou sem real peso político em comportamento democrático, com uma aVenturesma a partir a loiça e a baixela, e do seu lado torto um desastrado (desgeringonçado...) Bloco, a ser manso quando deveria ser firme, a ser bruto quando deveria ser cauteloso… isto ainda com a reserva na manga, e muito ao jeito do PdaR, de um visível (ou invisível...) bloco central.
Foi quase um trimestre, no meio da pandemia a crescer em número de infectados, e com o Natalinho pelo meio, num a ver se te avias.
A tecla muito bem (es)premida dos culpados da crise, de dedo apontado, samarra para o Alentejo e muita força do lado de lá do Tejo, com a não sarada ferida de Almada a ajudar.
Depois, o corridinho das sondagens a serem aproveitadas “à maneira”.
E este é o segundo tema… não me retenho no aspecto técnico do que se baseia em amostras a terem de ser muito bem escolhidas num universo heterogéneo e de variáveis mutantes, mas no que ou para o que serviram.
Não vou por aí, por esse lado, vou pelo outro lado: as sondagens de previsão não fazem os resultados mas os resultados são feitos pelo aproveitamento que se faz das sondagens.
Foi de mestre (o que está longe de ser elogio) a manipulação da falsa dúvida sobre quem iria ganhar, numa quase (quase?!...) absurda falsificação de uma primeiro-ministração bipolarizada do que era para eleger deputados, circulo a circulo.
Poder-se-ia
ter feito melhor?, de certo que sim!, mas o mal maior vem de muito de trás, da
indigência de cidadania e da pobreza conceptual de quem deveria estar preparado
para a combater com as armas que não tem, e – bem pior – parece que se tem zanga
a quem as procura ter.
Uma coisa é certa, e comprovada: isto só lá vai com as massas!
Não é com
eleições como estas!
4 comentários:
Excelente texto! Didáctico, fluido, claro!
As eleições são o que são - um produto elaborado da democracia burguesa para fazer crer as pessoas que decidem alguma coisa ... mas ainda hoje de manhã ouvi uns trabalhadores dos transportes a gritar "A Luta continua".
E os novos grupos parlamentares? Será que vamos ter um ex-MDLP como líder parlamentar?
Abraço
A democracia está completamente adulterada.Estas eleições adquiriram contornos de manipulação sem limites para pressionar os eleitores a uma maioria. Sempre que seja necessário,saberemos demonstrar nas ruas uma maioria de luta.Bjo.
Isto foi tudo tão claro que eu espanto-me de haver pessoas que não entenderam a 'coisa'. Tenho repetido o que escreves (mais ou menos, com as minhas palavras) dezenas de vezes e só muito no fim é que me dizem 'pois é, tens razão, foi mesmo assim'. As pessoas esquecem o que ouviram meia dúzia de dias antes. E as ditas sondagens fizeram, de facto, o resto do trabalho.
Grande abraço.
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