Num outro desafio semanal (palavra puxa palavra):
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Num outro desafio semanal (palavra puxa palavra):
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O discurso presidencial de quase duas horas perante a Assembleia Federal, em 21/Fevereiro/2023, como é quase sempre típico dos discursos de Putin a este nível, foi inesperado. Antes de mais nada, no seu tom e nas suas prioridades.
O tom foi absolutamente calmo e confiante, e se tentar anotar as prioridades da mensagem a posteriori, não na ordem do seu significado, e não na ordem do seu enunciado (embora esta ordem seja também de considerável importância), mas na ordem de alguma coerência geral, então pode-se aproximadamente modelar o quadro seguinte.
O mundo moderno entrou numa era de mudanças radicais e irreversíveis (o que levou ao aparecimento de novas, bem como ao renascimento ou agravamento de conflitos anteriores). A Operação Militar Especial é um destes conflitos no qual há um combate não só pelas terras históricas da Rússia, como pela sua reunificação e também pela própria existência do nosso povo e do nosso Estado, uma vez que as elites ocidentais levaram ao poder um regime neo-nazi na Ucrânia exatamente do mesmo modo como anteriormente haviam levado ao poder o regime nazi na Alemanha. O objetivo de tais ações é infligir uma "derrota estratégica" à Rússia – e aos olhos do Ocidente este objetivo justifica quaisquer meios para o alcançar.
Os conceitos de honra, confiança e decência não se referem a estas elites ocidentais que praticamente ocuparam a Ucrânia, desencadearam ali um conflito e rejeitaram todas as tentativas da Rússia para resolver a situação pacificamente e criar uma nova arquitetura de segurança internacional. A Rússia está a usar a força para pôr fim a este conflito e está a fazê-lo de forma tão responsável, consistente e precisa quanto possível.
Contudo, o Ocidente, pelo contrário, está a fazer todos os esforços para escalar o conflito, gastando 150 mil milhões de dólares em assistência direta ao regime neo-nazi de Kiev, bem como a posicionar não só uma frente militar, informacional, mas também económica contra a Rússia (desconsiderando as suas próprias perdas decorrentes das sanções anti-russas).
Mas como resultado, nada foi conseguido – a Rússia acabou por se tornar muito mais forte do que os seus adversários esperavam. E a principal prioridade do nosso país agora não é a vitória sobre o regime neo-nazi Kiev "a qualquer custo", não "armas ao invés de manteiga", o seu objetivo é transformar todo o atual sistema de relações internacionais com acesso a posições de liderança tecnológica, social, financeira e económica. Temos todas as condições necessárias e suficientes para isto e precisamos aproveitá-las ao máximo.
Este objetivo é incompatível com o anterior posicionamento da Rússia como uma fonte de matérias-primas para o mercado livre global. De modo geral, a situação em que tecnologias chave, mercados de venda e empréstimos baratos para o nosso país estavam localizados exclusivamente no Ocidente já é uma coisa do passado. Portanto, os interesses financeiros e económicos das elites internas e, em geral, pós-soviéticas no estrangeiro deixarão de ser considerados na mesma medida (aparentemente, sem mencionar a sua proteção).
Estas elites, as quais agora enfrentam a realização da previsão de Putin "Torturem-se a engolir poeira!", devem fazer uma escolha: ou permanecem no Ocidente com o estatuto de "comida", ou ligam o seu futuro à Rússia com o apoio garantido do Estado e da sociedade.
Agora a linha da frente passa pelo coração de dezenas de milhões dos nossos compatriotas e os slogans "Pela Vitória! Pela Pátria Mãe" obtêm uma resposta poderosa por todo o país. Ao mesmo tempo, é garantido que todas as eleições, incluindo a eleição presidencial em 2024, serão realizadas em tempo útil e em total conformidade com a legislação russa.
Para os "parceiros" ocidentais foi feita uma declaração específica de que o nosso país ainda não se retirou do tratado estratégico de armas ofensivas, mas suspende a sua participação no mesmo. E no caso de reinício dos testes nucleares pelos Estados Unidos (ou outros Estados membros da "aliança de democracias", como o Reino Unido ou França) reserva-se o direito de efetuar tais testes.
Aqui deveria ser notado em especial que dados os modernos sistemas de armamento que a Rússia possui atualmente, pode-se pelo menos imaginar as consequências de testar "Poseidon" ou "Avangard" nas águas internacionais do Oceano Mundial – é pouco provável que esta perspetiva cause uma onda de entusiasmo em Washington, Londres ou Tóquio... A Rússia responderá a quaisquer desafios. A verdade está conosco!
Não há dúvida de que a reação da aliança de democracias que acabam de ameaçar Putin, o nosso país e todos nós pessoalmente com uma guerra de aniquilação, seguirá este discurso calmo e equilibrado do presidente russo.
Não só "em perseguição a quente", mas também a longo prazo. Como foi o caso com o Discurso de Munique de 2007 e o discurso federal de 2018. E pelo que esta reação acabar por ser, será possível julgar quão adequados são os líderes públicos do Ocidente coletivo. Embora este ponto, ao que parece, já esteja a tornar-se cada vez menos importante – e por razões puramente objetivas.
Do quase-diário:
04-05.02.2023
(06h30)
É
reconfortante saber que as ausências de informações (frases ou livros) e/ou
comentários nossos são sentidas
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Primeiro, a irregularidade de
postagens no anónimo, depois um período significativo sem aparecer – por/e sem)
razões diversas –, suscitaram algumas observações (não muitas mas todas simpáticas
quando não preocupadas).
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Poderia argumentar com a escassez
de comentários, mas parece-me ser frca desculpa pois s intenção é /deveria ser sobretudo
a de tentar compensar a escandalosa (para não dizer criminosa) manipulação da (de)sinformaçção
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Pois, valha o que valer (um leitor que seja), cá estamos.!
- Nº 2566 (2023/02/2)
O General alemão Harald Kujat deteve o mais alto cargo militar das Forças Armadas alemãs e, mais tarde, da NATO (presidente do Comité Militar até 2005). O que diz sobre a escalada imparável de armamento da NATO para a Ucrânia e os riscos associados é relevante, tal como é relevante que a entrevista tenha aparecido num pouco conhecido órgão de imprensa suiço (zeitgeschehen-im-fokus.ch, 18.1.23, republicada em espanhol em ctxt.es, n.º 292). Afirma Kujat que «esta guerra devia ter sido impedida e podia ter sido impedida [...] Talvez um dia se faça a pergunta de quem quis esta guerra, quem não a quis impedir e quem não a pôde impedir». Adianta que «não, esta guerra não é sobre a nossa liberdade. Os problemas de fundo que conduziram à guerra e que fazem com que ainda decorra, embora pudesse ter acabado há muito, são bem diferentes». Adianta: «o objectivo [dos EUA] é enfraquecer a Rússia do ponto de vista político, económico e militar, a tal grau que depois se possa virar para o seu rival geopolítico, o único capaz de ameaçar a sua supremacia como potência mundial: a China». Kujat lembra que «de acordo com informações fidedignas, o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson interveio em Kiev, a 9 de Abril [2022], para impedir a assinatura [do acordo Ucrânia-Rússia, alcançado nas negociações em Istambul]». Pergunta: «quem fez explodir o Nord Stream 2?». E lembra as declarações «claras» de Angela Merkel que afirmou «só ter negociado os Acordos Minsk II [2015] para dar tempo à Ucrânia. E a Ucrânia usou esse tempo para construir as suas Forças Armadas. O ex-presidente francês Hollande confirmou isso mesmo».
Os Acordos de Minsk previam que o Donbass agredido pelos golpistas de Kiev continuasse território ucraniano, com estatuto de autonomia. Os acordos não tinham apenas a chancela da França e Alemanha. Foram transformados (por unanimidade) em Resolução 2202 do Conselho de Segurança da ONU. Agora Merkel e Hollande dizem que não eram para cumprir. Estão a dizer que o eternamente dúplice imperialismo nunca quis a paz e a defesa da integridade territorial da Ucrânia. Falou de paz para melhor preparar a guerra. Diz o General Kujat: «Sim, é claro que foi uma violação do direito internacional [...]. Afinal somos nós que violamos os acordos internacionais». É sempre assim. Quando os acordos já não convêm, são rasgados. Como o acordo sobre o nuclear iraniano, país que está hoje a ser alvo de ataques militares. Como as resoluções e acordos sobre a Palestina, cujo povo está a ser massacrado todos os dias.