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2. Num outro plano, no plano da necessária adaptação das relações de produção à evolução das forças produtivas, o actual momento histórico parece explodir com este rastilho de crise sanitária e, sobretudo, com o seu aproveitamento.
O trabalho em casa, o tele-trabalho e outras modalidades surgem como recurso para compensar a impossibilidade ou perigosidade de grupos e equipas, e afigura-se-me que está a ser tentado fazer, como emergência, o que seria muito difícil de conseguir em situação aparentemente normalizada mas com natural e não escamoteável luta de interesses antagónicos, de classe.
Nas “soluções” emergentes, devido à emergência…, o trabalhador fica isolado, o seu camarada do mesmo tipo ou perfil de trabalho surge-lhe, é-lhe apresentado ou sugerido, como seu concorrente, não há contratação colectiva, proíbem-se as greves, horários de trabalho são inexistentes e geridos em função dessa concorrência, também quase impossibilitadora de posições colectivas e solidárias. A precariedade aparecerá como inevitável. E apresentar-se-é como sendo naturalmente decorrente das novas condições e não como adaptação (e continuidade) da exploração às novas condições.
A frente sindical de origem e razão de classe pode vir a ter de confrontar enormíssimas dificulades para cumprir o seu papel de organizações de defesa económica dos trabalhadores e das suas condições de trabalho, nomeadamente na questão dos horários, verdadeiramente básica para a concepção do trabalho como criador e social, e do tempo livre como objectivo e expressão de liberdade.
continua