Que nos acontece quando morrem, e assim, por acidente brutal, homens a que tantos episódios da nossas vidas nos ligaram? Paramos, talvez perplexos. Ficamos lembrando, tristes, as relações pessoais, amigas, solidárias, que assim acabam.
E recordamos, inevitavelmente, os episódios mais marcantes da nossa vida que com eles partilhámos.
O Sousa Monteiro! Os seus gestos de solidariedade e amizade pessoais em momentos muito difíceis. Tão pessoais que os guardo bem dentro de mim.
E o Costa Martins! Para mim, um retrato do MFA. Não (só!) pelo acto heróico da tomada do aeroporto da Portela; não (só!) pelo que se pode ler em o cravodeabril. Também por comportamentos “curiosos” que para aqui não trago. Também por dois episódios que tão estranhos deverão parecer hoje, a quem julga que detém o poder político, a quem avalia os que, aparentemente, detém o poder político.
1. Aeroporto da Portela. Maio de 1975. Preparo-me para embarcar, integrado na missão à RDA composta por um oficial de cada ramo das Forças Armadas representando o MFA e o Ministro do Trabalho (o capitão Costa Martins), indo depois – o ministro e eu – para a Conferência anual da OIT. Um funcionário superior do ministério dirige-se-me e entrega-me um envelope “Sr. Dr., este é um envelope com X contos (não me lembro quantos) para qualquer despesa extra, de representação que o Sr. Ministro precise de fazer… assine aqui por favor… fica à sua responsabilidade!”. Olhei-o, se calhar não escondendo o espanto, sem saber que fazer. “É a regra, é assim…”. Fui ter com o Costa Martins. Expus-lhe a situação. “Ah!, pois… é o envelope. Deve ser o mesmo que o Barros Moura levou quando foi comigo à União Soviética… guarde lá isso!, não há-de ser preciso… mas eles querem…”. E lá embarcámos. Andámos, dia a dia, acompanhando-nos quase um mês, com o envelope esquecido, por ele e por mim, mesmo quando tínhamos algumas despesas… de representação. Quando regressámos, o envelope foi devolvido, intacto, sem ter sido aberto, como não o fora pelo Barros Moura.
E recordamos, inevitavelmente, os episódios mais marcantes da nossa vida que com eles partilhámos.
O Sousa Monteiro! Os seus gestos de solidariedade e amizade pessoais em momentos muito difíceis. Tão pessoais que os guardo bem dentro de mim.
E o Costa Martins! Para mim, um retrato do MFA. Não (só!) pelo acto heróico da tomada do aeroporto da Portela; não (só!) pelo que se pode ler em o cravodeabril. Também por comportamentos “curiosos” que para aqui não trago. Também por dois episódios que tão estranhos deverão parecer hoje, a quem julga que detém o poder político, a quem avalia os que, aparentemente, detém o poder político.
1. Aeroporto da Portela. Maio de 1975. Preparo-me para embarcar, integrado na missão à RDA composta por um oficial de cada ramo das Forças Armadas representando o MFA e o Ministro do Trabalho (o capitão Costa Martins), indo depois – o ministro e eu – para a Conferência anual da OIT. Um funcionário superior do ministério dirige-se-me e entrega-me um envelope “Sr. Dr., este é um envelope com X contos (não me lembro quantos) para qualquer despesa extra, de representação que o Sr. Ministro precise de fazer… assine aqui por favor… fica à sua responsabilidade!”. Olhei-o, se calhar não escondendo o espanto, sem saber que fazer. “É a regra, é assim…”. Fui ter com o Costa Martins. Expus-lhe a situação. “Ah!, pois… é o envelope. Deve ser o mesmo que o Barros Moura levou quando foi comigo à União Soviética… guarde lá isso!, não há-de ser preciso… mas eles querem…”. E lá embarcámos. Andámos, dia a dia, acompanhando-nos quase um mês, com o envelope esquecido, por ele e por mim, mesmo quando tínhamos algumas despesas… de representação. Quando regressámos, o envelope foi devolvido, intacto, sem ter sido aberto, como não o fora pelo Barros Moura.
reunião com o Ministro do Trabalho da RDA, Maio de 1975
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E foi deste homem que, nas notícias sobre a sua morte, voltou a ser insinuada a calúnia de se ter servido de dinheiros públicos, o que sentença de tribunal, em acção por ele pedida, negou totalmente sem qualquer margens para dúvidas.
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O meu testemunho e homenagem a Costa Martins. E ao amigo Sousa Monteiro.
11 comentários:
Sentida, bonita homenagem. Homenagem viva, pelo testemunho do vivido em comum. E eles, os amigos que vão partindo, ficam em nós no que se viveu em comum...
As Lágrimas bailaram nos olhos.
Nunca se poderá escrever o mesmo desta corja de malfeitores. Obrigado Sérgio
Maria do monte
Ontem fiquei em estado de choque.
Hoje não tenho palavras.
Vou até aos Olivais... se conseguir.
Um Beijo.
São estas as verdades que nos ensinam a Verdade.
Obrigada camarada Sérgio pelos teus testemunhos sobre COSTA MARTINS e SOUSA MONTEIRO. Ao capitão de Abril Costa Martins eu ouvi-o discursar, no Porto, num 1º de Maio e ainda sinto o entusiasmo com que eu e todos os manifestantes o ouviram e aplaudiram. Nunca, nem por um milionésimo de segundo, duvidei da honestidade dele. Recordo, isso sim, o maravilhoso dia de trabalho que oferecemos à Nação.Quanta alegria,quanta esperança, quanta emoção!!!!!!!
Estou muito triste pelo desaparecimento desses grandes homens, mas eles ficarão na História como verdadeiros heróis.
Um beijo.
é devido à honestidade de Costa martins que Vasco Lourenço não se sente bem no seu funeral.
Um testemunho muito importante, contado na 1ª pessoa.
Impensável nos dias de hoje, com estes usurpadores.
Farei das bonitas palavras da Graciete Rietsch, as minhas, porque também o ouvi no Porto e trabalhei num dos dias mais inesquecíveis.
Curvo-me perante o Capitão de Abril, ficando para sempre na nossa memória.
Bjs,
GR
Por todas as razões jamais será esquecido...(os).
Bela a sua homenagem...
Abraço
A honestidade fere os corruptos.
Muito bom!
Não terem muitas estórias destas para contar deve deixá-los nervosos...
Abraço.
Em nome da nossa família os agradecimentos pelas vossas palavras. Sousa Monteiro ficará para sempre na minha memória como grande amigo do meu pai. O meu pai, não tenho palavras, mas quereria sempre que falasse de Sousa Monteiro primeiro, pois colocou sempre os outros em primeiro lugar...
José B. Costa Martins
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