terça-feira, março 09, 2010

Reflexões... lentas - sobre a violentíssima actualidade

Não no Iraque, Irão, Afeganistão, e noutros lugares e expressões da violentíssima actualidade. A violentíssima actualidade aqui. Do PEC e da estratégia de sua implementação e inoculação nas mentes. Um “legos” de peças simples e ajustáveis, glosando quatro oucinco palavras, ideias-força:
1. desresponsabilização relativamente ao “estado a que se chegou”;
2. prioridade absoluta para a “salvação da pátria”;
3. recuperação, que passa, necessariamente, pelo “sacrifício de todos”;
4. responsabilidade exigida às forças partidárias e "encontro de consensos";
5. irresponsabilidade (e insinuada falta de patriotismo) de quem fique fora dos consensos.
Vamos por partes:
1. Chegou-se a “este estado” não por acidente mas por prática de políticas. A fuga/desresponsabilização pelo álibi do “acidente” não é nem original nem nova (Marx, em O Capital, já escreveu “Observa-se uma inépcia enorme dos economistas que, sem poderem negar o fenómeno da sobreprodução e das crises, se contentam em dizer que nessas formas há simplesmente a possibilidade de crises, logo que é puro acidente não surgirem as crises, assim como é também acidental elas surgirem.”). No caso português, as responsabilidades são repartidas pelas governações partilhadas pelo PS, PSD e CDS/PP, ao longo de 34 anos, ao serviço de interesses do capital financeiro, cada vez mais centralizado e transnacional.
2. Se o “estado em que estamos” é o que é, sendo a situação do País muito preocupante, e há que lhe fazer face, também é abusivo, e até perverso, identificar a “salvação da pátria” com a procura de medidas que permitam continuar as políticas que nos puseram neste estado, para mais impostas do exterior, numa aceite (ou pedida) tutela por parte dos interesses em cujas mãos se foram colocando os “destinos da pátria”.
3. Dado a situação, a invocação dos sacrifícios a terem de ser feitos por todos é de uma violência revoltante por duas razões:
a. “todos” quer dizer os que beneficiaram das políticas que aqui nos trouxeram e os que foram prejudicados por elas, como facilmente o comprovam as agravadas desigualdades sociais;
b. na repartição dos sacrifícios, a falsa partilha seria inversamente proporcional aos efeitos que tiveram as políticas nos estratos e classes sociais.
4. Do mesmo modo, a exigência de responsabilidades (para a “salvação da pátria”), e no mesmo caminho até aqui trilhado, não distingue os partidos que se desresponsabilizam do que querem que seja tomado por “acidental” e os que sempre denunciaram onde esse caminho iria levar, e a música celestial dos consensos terá sido composta para vir a ser a estes que se atribuirá a fragilidade das medidas para que se vai conseguir a maioria habitual (com cambiantes para dar colorido) PS-PSD-CDS/PP na forma encantatória de consensos.
5. Recusam-se, como violentíssima agressão que se quer fazer passar e inculcar na dita opinião pública (que tanto preocupa quem se alimenta de votos), as acusações de irresponsabilidade e de “falta de patriotismo”, muito particularmente por virem de onde vêm, de quem colocou a pátria nas mãos de agências de rating, e nelas se quer continuar a acolher, como se tudo fosse um acidente e uma inevitável fatalidade. Não é. Há alternativa. Nas nossas mãos. Como se virá a verificar. Cedo ou tarde.

4 comentários:

Curioso do Mundo disse...

"Cedo ou tarde"... estejam criadas as ditas cujas condições objectivas e sujectivas não é assim ?

Abraço

Curioso do Mundo disse...

(Correcção) Subjectivas porque suje...cheira a sujeira e isso é o que mais há de há 34 anos para cá,fora os 48 do Dinossáuro Excelentíssimo"!

Antuã disse...

O José sousa e outros da mesma laia serão ultrapassados embora ainda o povo tenha muito que penar.

Graciete Rietsch disse...

Venceremos!!!!!!!!!

Um beijo