terça-feira, agosto 05, 2008

Materialismo histórico - 16

Num dos livros (com a “bagatela” de 458 páginas!) em que se pode apoiar esta enorme caminhada em pequenos passos, encontra-se este trecho:
“A análise da prática e, antes de mais, da actividade dos homens no domínio da produção material, iria permitir ligar a ideia da existência objectiva do mundo material à faculdade activa do pensamento humano. A compreensão correcta da prática humana constitui o ponto de partida tanto da teoria do conhecimento científico como de toda a história do conhecimento.”

A comunidade primitiva, que corresponde à pré-história da Humanidade e aos primeiros tempos da história escrita, e que durou centenas de milhares de anos, assentava num modo de produção comunitário com propriedade colectiva dos meios de produção-instrumentos de trabalho, só muito lentamente deixando estes de ser simples prolongamentos do corpo humano, com as forças produtivas quase exclusivamente limitadas ao corpo humano-trabalho.
As relações de produção eram comunitárias, e o trabalho realizava-se em cooperação simples com divisão natural, por sexo e por idade.
De uma produção comunitária resultava uma repartição dos produtos com a finalidade de permitir a satisfação das necessidades de toda a comunidade. Em regra, não havia excedentes da produção.
As relações familiares, de parentesco, ligadas à reprodução natural da comunidade, quando não exclusivas tinham a maior importância.
Era o costume, a tradição que regulava a vida em comum e um papel proeminente era representado pelos “mais velhos”, os mais experientes, os que "sabiam mais" porque mais tempo tinham vivido.
O facto das relações de parentesco, paternais, e sobretudo, maternais, serem decisivas, não obviava a que o modo de produção fosse decisivo, assentes essas relações de parentesco na de divisão natural do trabalho e promovendo o desenvolvimento, lento mas constante, das forças produtivas, pela retenção e acumular das experiências.

11 comentários:

Anónimo disse...

Então bom-dia Setôr!
Estarei a ver mal ou nesta situação aplicava-se o pricípio de "cada um pela sua capacidade, a cada um pela sua necessidade", ou chegamos antes à conclusão de que "burro velho não aprende linguas"
Sérgio obrigado pelo teu trabalho, que eu bebo com avidez, e isso para mim é o mais importante.
Abração

samuel disse...

Pena, que já não seja possível um modelo deste tipo.
Bem... possível seria, os voluntários é que não serão muitos...
Muito do que se "ganhou" valerá mesmo a pena?
Claro que não estou a defender o regresso à vida selvagem e a atacar todo o progresso e tecnologia. Seria particularmente ridículo estar a fazê-lo... num Mac portátil.
O que defendo é um regresso a uma vida mais simples e solidária... mas é uma patetice, certo? :)

Abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Vamos lá a ver... essas fórmulas (que são importantes resumos) só têm sentido depois de muitos passos para lá se chegar. Não lhe chamaria princípios.
Na comunidade primitiva, lutava-se pela sobrevivência sob o jugo da natureza; as necessidades eram ao nível da alimentação, da defesa dos outros animais, do clima,... todos em comunidade(s) em confronto directo com a natureza e com outras comunidades.
"Cada um com as suas capacidades"? Sim, que eram quase só as naturais, sem outras "competências" (que só a retenção e transmissão de experiências foi dando), sem a "ajuda" de meios - instrumentos e objectos de trabalho - ou estes muito rudimentares , prolongamentos do corpo. Mas tudo a mexer...
"a cada um segundo as suas necessidades"? Parece-me que esta expressão exige uma organização social que não existia, a repartição era natural, se se produzia com o que havia "à mão"... consumia-se o que estava "à mão"... e "ao pé", sem problemas de propriedade e de distribuição.
Seria assim, enquanto foi, o modo de produção e a formação social...

Sérgio Ribeiro disse...

Não é nada parvoíce, Samuel.
Salta do materialismo histórico (não histérioc...) para o materialismo dialéctico que o inclui. Pensa em termos de tese-antítese-sintese. Nestes termos, na dimensão temporal de séculos de séculos, a comunidade não-primitiva será aquela em que o ser humano se libertou do "reino da necessidade" para entrar no "reino da liberdade" porque domina a natureza (atenção à sua preservação, que é uma forma de a dominar e se dominar, como natureza que é), e organiza-se acabando com a exploração do ser humano pelo ser humano (o homem lobo do homem).
Isto, claro, fugindo a esquemas e a fórmulas redutoras, embora não pareça...

Anónimo disse...

-Ainda nos movemos na tribo, a economia é do tipo comunista/ primitivo. -Mas já se prepara o salto.-Lá aparece o papá trazendo de baixo do braço os indícios do "desastre"
-O que ando a ler é fininho, fininho, fininho.Mas que me faz deitar muito fumo lá isso faz.
a.ferreira

Fernando Samuel disse...

Depois, com o esclavagismo - que, não parecendo, foi um passo em frente... - nasceram as classes e, com elas, as ideologias...
(isto sou eu, a propor-te que continues...)

Um abraço grande.

Justine disse...

Este estádo primitivo está percebido. Vamos lá então ao passo seguinte, como propõe o Fernando Samuel:))

Sérgio Ribeiro disse...

Pois claro, Fernando Samuel, está no estaleiro...
Mas, antes, ainda sairão um ou dois "episódios" sobre a comunidade primitiva, a rotura por ausência da correspondência necessária entre forças produtivas e relações de produção, o aparecimento do "meu" e do "teu" e das classes, das ideologias...
O que eu gostaria é que esta história do conhecimento se justapusesse à teoria do conhecimento que nasce do conhecimento experimental, concreto.
Grande abraço

Maria disse...

Finalmente consigo comentar!
Afinal parece tudo tão mais simples de perceber com os teus posts, claros como água límpida.
Apetece dizer que... seria tudo tão mais simples...

Abraço

Anónimo disse...

Enão camarada, nem uma palavrinha alegre sobre a morte do traidor Alexander Solzhenitsyn!?!?!?!

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, Maria, pelo alento que me dás.
Abreijo