terça-feira, agosto 26, 2008

Materialismo histórico - 19

A descoberta-invenção da roda, o seu uso em diversíssimas circunstâncias, a domesticação de alguns animais, correspondia a transformações fundamentais nas forças produtivas. O corpo, os braços, as mãos, as pernas que percorriam caminhos, tinham sempre novos e cada vez mais importantes complementos e auxiliares.
A possibilidade de atrelar ao peito animais domesticados, com muito mais força e resistência que o ser humano, mudou condições objectivas com que se fazia o arado penetrar a terra, torná-la objecto de trabalho e fértil, com que se podia transportar grandes pesos, já não por arrastamento porque havia a roda, com que se podia ir muito para além e mais depressa do que as pernas e os pulmões permitiam.
Os escravos não deixaram de ser a principal força produtiva de um momento (histórico!) para o outro, mas começou a haver outras forças produtivas que os podiam substituir e, nalguns casos, com grande vantagem. Basta pensar na diferença entre arrastar pesos apenas com a força humana, e poder fazê-lo com animais de tracção, atrelados ao peito, e sobre rodas.
No entanto, não foram. apenas, as mudanças nas condições objectivas. A exploração dos escravos agravava cada vez mais a contradição fundamental entre os possuidores de escravos e os escravos, produtores directos de bens materiais. Se havia classes, começou a haver luta de classes, sob a forma de revoltas de escravos.
A mais famosa de todas foi a conhecida por “third servile war” e pelo nome de Spartacus. Sobre esta revolta há um livro, de Howard Fast e, a partir deste livro, um filme, de Stanley Kubrick (que teve, em 1961, 4 Óscares),
em que se podem encontrar todos os sinais de uma dinâmica histórica que, com ou sem a consciência dos autores, é a do materialismo histórico.
Entretanto, e é necessário sublinhá-lo, para retomar já a seguir, o facto – importantíssimo – de, no modo de produção e formação social do esclavagismo haver excedentes, isto é, bens ou produtos que excediam as necessidades dos seus produtores directos, introduz a categoria económica da troca.

8 comentários:

Maria disse...

Quase sempre fico com "água na boca" quando chego ao fim dos teus posts sobre este tema. Apetece sempre ler mais, e tenho que esperar uma semana...
Temos ainda tantas aulas pela frente...

Obrigada, Sérgio

Fernando Samuel disse...

É aqui, então, com a formação das classes que surgem as ideologias - neste caso, a ideologia do esclavagismo...

Um abraço

samuel disse...

A tomada de consciência do real valor do que se produz, o espectáculo chocante do enriquecimento do dono de escravos com os frutos do trabalho destes, ideias e trabalhadores, mesmo que escravos... uma mistura explosiva.

(Depois onde é que se pode encadernar o curso?) :)

Abraço

GR disse...

Este sistema económico proporcionou a produção de grandes excedentes e superiores acumulações de riqueza.

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Maria - antes de ti, sinto eu a "água na boca", a vontade de continuar a refelxão, tomo notas para o "próximo episódio", espero os vossos indispensáveis comentários... e continuo a recusar a denominação de aulas!
Fernando Samuel - ora aí- AC seguir, e antes de passar ao feudalismo. nos deus traços gerais caracterizadores, a superstrutura do esclavagismo, a consciência social, e etc.
Samuel - a brincar te responso: nas boas casas da especialidade (que as houve, que as houve)
GR (que prazer ver-te) - ... e a terra a tomar crescente importância porque nele se "encontra" a natureza do valor ou o valor da natureza de onde não apenas se colhe mas faz produzir... porque há meios de produção.
Abraços gratos para todos.

Justine disse...

Chegámos então a uma fase crucial do desenvolvimento humano, da luta de classe e dessa coisa danada que é a troca, e que deu no que deu...
Vais ter muito que nos contar!
Cada vez mais interessante, o "curso":))

Anónimo disse...

Até aquí está tudo bem assimilado, agora vamos esperar que as trocas, não venham complicar os trocos,que não são própriamente os maridos das trocas.
Abraço, camarada!

Sérgio Ribeiro disse...

Estou a tentar "segurar-me". Embora, em relação ao que estava previsto, já nestes comentário tenho encontrado matéria para algumas alterações. 3ª cá estarão!
Abreijos