quinta-feira, dezembro 04, 2008

Materialismo histórico - 38 (desemprego)

No modo de produção capitalista, escondido na capa (também ideológica) de “economia de livre mercado”, desemprego é a situação do trabalhador privado de emprego, não encontrar procura para a sua mercadoria, a força de trabalho.
A situação de desemprego é das mais dramáticas na vida dos trabalhadores pois, enquanto nessa situação, atinge-os naquilo que os define como seres humanos, na sua natureza intrínseca.
Não se trata – apenas – de não conseguir, no mercado, resposta para a oferta do que pretende vender (tempo de força de trabalho contra salário), mas de ser a si próprio, como ser humano, que vê negada a utilidade de criar ou tornar acessíveis produtos de que necessita para viver por via da troca pelos produtos que outros produzem e tornam acessíveis.
O desemprego é gerado, tendencialmente, pelos mecanismos de funcionamento do capitalismo. O desenvolvimento dos meios de produção, instrumentos e objectos de trabalho, provoca uma diminuição relativa do capital variável na composição orgânica do capital, o trabalho vivo é substituído pelo trabalho passado, transformado em meios de produção.
Por outro lado, em resultado da evolução histórica ao nível das relações de produção, da luta de classes, conquistas sociais impedem que os proprietários dos meios de produção possam tratar a força de trabalho como uma mercadoria igual às outras, e há conquistas sociais que fazem com que os proprietários dos meios de produção procurem acelerar a substituição de trabalho vivo, no seu interesse imediato na concorrência intra-classista. O que é contraditório com a necessidade da classe se apropriar de mais-valia, só possível com o emprego da força de trabalho dos trabalhadores.
Donde resulta a busca de intensificação da exploração (e de outras formas de reproduzir o capital na sua forma monetária). Uma das vias é a da transformação do desemprego em variável estratégica, pois o receio de perda de emprego – a instabilidade e precariedade do emprego – muito fragiliza os trabalhadores na sua luta. Pelos salários e, particularmente importante, na defesa e conquista de condições sociais que contrariam “trabalho sem direitos”.
Nesta breve nota, para a tornar mais impressiva, o emprego pode assimilar-se a mercadoria (força de trabalho) em armazém. Noutros termos, assim se cria o “exército industrial de reserva”.

14 comentários:

samuel disse...

O exército de (quase sempre) involuntários traidores da sua classe, os dispostos a sujeitar-se a tudo.

Anónimo disse...

claríssima estaa nota...e faz-me também confusão aqueles que são explorados pela mão desta ágil manipulação, mesmo tendo consciência de tal...acomodam-se na passividade! assim engrossa o exército e há muito espaço porque já alargaram o armazém para os tempos que aí vêm...que nervos!

Justine disse...

As contradições, as manobras, a supressão de direitos intrínsecos aos trabalhadores...
Mas quando é que cai o capitalismo, já que podre está ele há muito (ou desde sempre)??

Esta "lição" de hoje é uma das mais importantes, na minha modesta opinião...

Anónimo disse...

Todos somos vítimas, da máquina capitalista, que consegue dominar o sistema produtivo e o sistema comercial, os trabalhadores produzem por cinco, o que depois vão comprar por cinquenta.
Os meios de produção, terão de passar a fazer parte das matérias primas nacionalizáveis.
A terra a quem a trabalha, as máquinas a Quem trabalha com elas!
Camarada Sérgio não foi minha intensão acrescentar nada à qualidade do teu texto, que me incentivou a ter este desabafo talvez desinsserido do contexto.
Grande abraço

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Sérgio Ribeiro disse...

O sr. a.fagundes não desiste. Gabo-lhe a pertinácia. E, pertinaz que sou, apago-lhe os comentários em que resvala para o que considero não ter lugar aqui. Pelo tom, pela pesporrência, pelo provocatório, sobretudo pelo que a outros toca, pois não quero que este "meu canto" seja local para ele veicular provocações ou insultos para outros, sejam Marx, Odete Santos ou "paroquianos".
Aliás, a.fagundes repete-se. Eu repetir-me-ei por ter adoptado concepções e metodologias. Mas fi-lo, e faço-o, procurando manter o espírito crítico. Tanto, que leio atentamente o trigo que possa estar no que ele envia e em que persiste. Mas basta de dizer, repetindo à exaustão, que estou errado ao considerar a força de trabalho uma mercadoria - no modo de produção capitalista - e que, de acordo com outras tutelas que adoptou acriticamente, há uma coisa chamada custo de produção (a que me referirei breve) que é tudo e uma troca desigual que tudo é.
Para mim, que errado estarei..., a introdução da moeda e a evolução que teve o circuito monetário, se perturbadora não pode afastar-nos da raíz das coisas.
E por aqui me fico, lamentando que o tal tom e a arrogância insultuosa obriguem a este diálogo truncado.

Anónimo disse...

Xô tôr.

Dou por findos os meus esforços para fazê-lo abandonar os preconceitos em que labora e para chamá-lo à razão. A emoção é um sentimento dos diabos. Nada a fazer.

Vocelência leva tudo à conta de insulto. Não se pode apontar os erros do seu deus Barbas/Marx, que omnisciente não erraria, nem fazer referência às figuras tristes de camaradas seus de triste figura.

Desisto.

António José Pereira Fagundes.

Anónimo disse...

obrigado Sérgio...

Maria disse...

Virá o dia em que descobrirão que foram inimigos de si próprios...
Obrigada pela tua paciência, Sérgio!

Um beijo

Sérgio Ribeiro disse...

É curioso ver a triste figura dos outros e não se ver a triste figura que se faz quando se pretende impôr aos outros o que se pensa, se cataloga de preconceitos o que se não entende, se fazem esforços para chamar todos à SUA razão, e se acaba por declarar, omnisciente, que nada há a fazer...
Apontar erros a Marx? Ele próprio nos deu o exemplo de os reconhecer e corrigir!
Espero que a promessa se cumpra...

GR disse...

Parabéns pela exposição deste, magnifico texto.
Uma matéria que preocupa também e muito os portugueses.
O “meu” concelho é o segundo com a maior taxa, deste flagelo.
Centenas de Pequenas e Médias Empresas encerraram, as quatro Grandes Empresas (únicas no país), deslocaram-se para o estrangeiro ou simplesmente encerraram.
Que fazer?
A referência do terceiro parágrafo é também muito pertinente. Quantos desempregados não vendo saída para o seu problema, se suicidaram? Outros ainda ficaram em pior situação, silenciaram as suas justas reivindicações, são escravos do medo, por um emprego precário em troca de uns míseros euros.
O capitalismo sem a força de trabalho, também cairá!

GR

Anónimo disse...

Xô tôr.

Cumpre-se, sim senhor.

Como teve a gentileza de não apagar o último comentário, faço deste o último, corrigindo-lhe uma sua observação e enviando-lhe uma recomendação.

Quem demonstra os erros do deus/profeta omnisciente Barbas/Marx, segundo sei, não pretende ser omnisciente. Esforça-se por argumentar, e com argumentos válidos e premissas plausíveis julga ter refutado a concepção falsa com que o Barbas/Marx tentou explicar a exploração dos trabalhadores assalariados. Ao mesmo tempo, formulou uma explicação para a exploração que julga coerente e muito mais plausível do que a do Barbas/Marx.

Não sou o criador dessa explicação original. Aqui, apenas tenho servido de intermediário. Faxavor de não me atribuir qualquer originalidade na matéria. Também a mim não me foi fácil entender o assunto. E compreendo se ao xô tôr também não for.

Aqui fica então a recomendação: procure ajuda entre algum seu camarada versado em filosofia, que conheça minimamente as regras da argumentação sólida, e apresente-lhe a argumentação que refuta cabalmente a explicação do Barbas/Marx para a exploração dos trabalhadores assalariados.

Como se costuma dizer: desculpe qualquer coisinha. Com cordialidade.

António José Pereira Fagundes.

cristal disse...

Obrigada, amigo e parabéns pela tua paciência.

Anónimo disse...

António José Pereira Fagundes - Como se costuma dizer... aceito e retribuo a cordialidade, tomando-a por sincera.
Até um dia!

Sérgio Ribeiro