sábado, janeiro 02, 2010

"Casamentos" e "pontes", caminhos estreitos e becos

Quando passei, formalmente, a poder “dar aulas”, no D74* , porque A74** estava impedido de o fazer***, retomei a grande importância que, quando aluno, dei à primeira aula, de apresentação. E, sobretudo a partir de certa altura, comecei a insistir na ideia, após o que chamaria a troca oral de cartões de visita, de que eu tinha a enorme vantagem sobre quem estava ali à minha frente de já ter tido a idade deles e eles nunca terem tida a minha, com as consequências correlativas. Lembrei-me disto porquê? Porque, além de “disto” me lembrar com frequência e sem motivo aparente, muito me fazer lembrar "isto". Sempre mais...
Olho para a imprensa de que actualizo leitura e vejo:

E leio. Leio no artigo, de Jorge Nascimento Rodrigues, coisas sobre os casamentos de Keynes. E aprendo. E leio coisas sobre Keynes e a síntese neoclássica, e a “nova síntese neoclássica”, e a necessidade de novas “pontes” (e casamentos) com Keynes como margem (ou noivo). E lembro.
Em 1976, a Prelo Editora publicou

tradução de edição das Edições do Progresso, de Moscovo, 1974.
De lá, da introdução, retiro uma citação: “Durante muito tempo, o keynesianismo foi a tendência dominante na economia política e a única base teórica para a regulação estatal da produção capitalista. Hoje em dia, este papel está sendo crescentemente desempenhado pela síntese neoclássica, que resulta de uma fusão de concepções macroeconómicas keynesianas com teorias neoclássicas pré-keynesianas”.
Estava-se em período de crise no sistema capitalista. Procuravam-se saídas. Veio o monetarismo e o neo-liberalismo. Chegámos aqui. Novas saídas se procuram. Sem roturas, sem verdadeiras alternativas. Até porque, neste intervalo, estas perderam peso no panorama internacional. Mas não no plano teórico. Bem pelo contrário.
“Marx escreveu que assim que a classe trabalhadora organizada começou a atacar o capitalismo agudizou-se a luta de classes, soou a hora da economia política burguesa científica e a análise objectiva cedeu o passo à apologética rastejante do sistema capitalista. Marx entendia que a primeira função da economia política era analisar a natureza socioeconómica do sistema social e as suas contradições e regularidades fundamentais. Quando a economia política burguesa procura explicar as interconexões fundamentais do modo de produção capitalista que dão origem aos paradoxos da pobreza no meio da riqueza, da sobreprodução e instabilidade da situação da classe trabalhadora, é tão vulgar como era há um século e está igualmente dominada pela apologética do modo de produção capitalista.”
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Procura-se ignorar Marx. Como se fosse possível... No entanto, como ele escreveu, a propósito de John Stuart Mill, “Para evitar mal-entendidos, (se há quem seja de censurar) devido à contradição dos seus dogmas paleoeconómicos com as suas tendências modernas, seria inteiramente injusto confundi-los com a turba de apologetas económico-vulgares” ****.
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Pois! Há o bando de apologetas rastejantes e há os que se esforçam, com seriedade mas limitados por desconhecimento e preconceito (de classe), na procura de saídas do beco... sem querem sair do beco.
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* - D74 – Depois de 1974
** - A74 – Antes de 1974
*** - O que voltou a acontecer depois de 2003, por já ser reformado, disseram eles…
**** - O Capital, edições avante, Livro primeiro, Tomo III, pág. 695

3 comentários:

Maria disse...

E eu hei-de voltar aqui para ler outra vez e tentar aprender...
(que esta 'coisa' de estar a ler-te e a combinar idas a Peniche - amanhã - não dá bom resultado para mentes já cansadas...)

Um beijo

Graciete Rietsch disse...

Querido amigo e camarada. O que tu sabes! Tenho tentado aprender muito contigo, mas estou um pouco cansada (AiNatal,Natal e idade). Por isso ando sempre a reler-te.
Um abraço muito grande.

A CHISPA ! disse...

Pois é, como os "apologetas rastejantes" ainda há hoje quem defenda que a crise foi resultado do "neoliberalismo" e da falta de "regulação" do sistema capitalista.
Assim insurgem-se, contra a concorrência capitalista e apelam para a criação de novos mecanismos de "regulação",na vã tentativa de defender os interesses da burguesia nacional,em particular,os ditos "anti-monopolitas" pequenos e médios empresários.Quando Marx diz exactamente o contrário.
Se dúvidas houver,é favor ler o discurso de Marx sobre a "livre concorrência" feito em Bruxelas em 1848, que está exposto em "miséria da Filosofia" edições Avante.

"achispavermelha.blogspot.com"
"A CHISPA!"
José Luz