terça-feira, janeiro 12, 2010

Correio d(est)a manhã - 2

Na sequência da leitura do jornal, folheado enquanto não chegava a feijoada (bem boa, por sinal...), antes de chegar à página 18, a caminho da qual ia, detive-me na página 6.
Pudera, não! Era de actualidade, tratava da falta de médicos, tinha cubanos em título, falava de Alpiarça, e anunciava polémica.
Ora o que surge primordial na notícia (a transbordar para a página 7) é o facto do Ministério da Saúde pagar 2.500 euros por mês cada médico e estes só receberem 500 euros. E começa desta forma capciosa «Cada médico cubano contratado pelo Estado português recebe apenas 500 euros de salário pago pelo Ministério da Saúde através do governo de Cuba», assim lançando a... polémica, em que não faltam achas (para a fogueira...) de um dirigente de um sindicato (independente) de médicos, de um secretário de Estado (que não se cansa de dizer que «este foi um bom negócio (!) para Portugal e que está a dar bons resultados»)
E também há depoimento de médicos cubanos, apesar do "veneno" de um parágrafo que diz que «A maioria destes médicos não quer falar à imprensa por "não estar autorizado", segundo confessou (!) ao CM um dos clínicos».
Fica também a saber-se que os médicos cubanos têm habitação (incluindo água, electricidade, gás, televisão e internet) e transporte garantidos pelos municípios da região onde estejam colocados. E o casal colocado em Alpiarça falou (!) ... e disseram-se "muito satisfeitos" e "adaptados". E mais coisa sobre o exercício da sua profissão. Aqui e em Cuba.
Não faltarão, evidentemente, aliciamentos para que os médicos cubanos se "privatizem", e passem a receber individualmente o que governo português paga ao Estado cubano, embora, no entanto, esse facto (político) pudesse não convir ao "bom negócio" do governo português - que é com o governo de Cuba -, e assim seria prejudicado.

Mas vejamos a polémica, para que polémica seja, de outra perspectiva, não de negócio:

Os médicos cubanos são médicos porque o Estado cubano, a sociedade cubana, criou condições para que a sua formatura não fosse um "investimento pessoal" mas a preparação para o exercício de uma profissão útil aos outros, em que possam, como escrevia Marx aos 17 anos, "acima de tudo, trabalhar para a humanidade". E, por isso, o nível da saúde pública em Cuba não pode ser ignorado e permite estes "negócios", a que chamaria, do outro lado da polémica, solidariedade, por mais que se queira vilipendiar o Estado cubano tal como é, e por mais que o ataquem e dificultem o seu desenvolvimento.
Polémico será também corrigir começo da mesma notícia. Escreveria assim: «O Estado cubano paga 500 euros a cada médico cubano e, segundo o contrato feito com o governo português, esses médicos terão direito a habitação e transporte gratuitos. Dado esse acordo entre os Estados, esses médicos cubanos vêm, solidariamente, contribuir para atenuar o problema da falta de médicos em Portugal, e o Estado cubano receberá uma compensação de 2.500 euros por cada médico cubano que se disponibilize para essa tarefa, verba que utilizará como entender, por exemplo, na criação de condições para que ainda mas melhor a saúde pública, e mais médicos se formem em Cuba, para ser possível reforçar essa solidariedade.»
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O socialismo é outra coisa! Não pode ser visto com óculos de negócio.


12 comentários:

Antonio Lains Galamba disse...

muito bem camarada! tenho o privilégio de conhecer muitos destes médicos que vieram para Portugal, nomeadamente muitos dos que ficaram colocados pelo Alentejo. estava ate com eles quando foi feita a reportagem que saiu no Público. Como é diferente a «realidade real» e a fictícia criada pelo capitalismo - através dos seus lacaios de serviço - incomodado que esta pelo exemplo dado pelos comunistas.
grande abraço

Maria disse...

Isso era se fosses tu a escrever...

Um abraço

Fel de cão disse...

Porque quero fugir à polémica dos "pagamentos" não vou comentar isso. Mas quero dizer uma coisa,de que ainda não ouvi falar, e que é a grande qualidade (ou melhor das grandes qualidades) dos meus colegas Cubanos...comparando com outros ,de qualidade duvidosa, que por ai andam de terra em terra, de hospital em hospital....É caso para dizer..Bom, Bonito e Barato.Bem hajam!

Pata Negra disse...

Feijoada... correio da manhã... Se tivesses comido dobrada que jornal comprarias?
Esta gente está muito preocupada com os vencimentos que Cuba paga aos seus médicos. E que tal se estivessem mais atentos ao novo código laboral?!
Um abraço com... ossos? ou carapaus fritos?

samuel disse...

Belo post!
Também li a notícia... infelizmente sem feijoada.

Abraço.

Unknown disse...

O trabalho desenvolvido pelos médicos e enfermeiros cubanos, um pouco por todo o mundo, é uma colossal demonstração da superioridade e vantagens, para os povos,do Socialismo e do seu carácter profundamente humanista.
Na generalidade dos países do Terceiro-mundo, Cuba coloca esses solidários profissionais de forma gratuita.
Relembro a Venezuela, onde milhares de pobres, cegos por falta de vítaminas, recuperaram a visão na sequência do que foi designada a "Operação Milagre". Relembro o Paquistão, para onde se deslocaram cubanos e cubanas de emergência, para salvarem milhares de vidas das vítimas do terrível terramoto. A lista é interminável.
A existência deste poderoso colectivo solidário é bem a demonstração de que o Homem novo existe já.
É natural que médicos capitalistas, os mesmos que se limitam a tratar das suas faustas e inúteis vidas, se sintam incomodados com a vinda dos revolucionários cubanos. Para eles a Medicina não passa de um chorudo negócio. É assim aqui. Foi assim na Venezuela e em todos os locais onde o capitalismo assassina, como nos EUA, milhares de pessoas por lhes recusar a necessária e básica assistência médica.
Vergonha é o que se passa em Portugal: a geração dos quinhentos euros vive miseravelmente e o grosso dos salários vai para as empresas ditas de trabalho temporário.
Um exemplo apenas: nas comissões de protecção de crianças e jovens trabalham centenas de técnicos há anos, colocados pela Segurança Social. Contudo, o vínculo deles, que vai terminar em Junho deste ano, é com uma empresa de trabalho temporário...
E o mesmo sucede por todo o país nas mais diversas actividades.
E já agora, porque há sete anos sou "obrigado" a ler o Correio da Manhã", que dizer do sistemático silenciamento e difamação do PCP nas páginas desse matutino?
Obrigado Sérgio pelo teu post. Se puderes visita (e, já agora, se não for pedir demais, escreve sobre) o destacável que no interior do jornal promove o lenocínio e o tráfico de mulheres e outras formas miseráveis de exploração de seres humanos.

Unknown disse...

E peço desculpa pela dimensão do comentário.

Anónimo disse...

Parece uma daquelas empresas de trabalho temporário. Gosto daquela do trabalho igual, salário igual.

Antuã disse...

Os comerciantes da medicina que, no seu consultório, levam 90 euros por olhar durante 2 minutos para o paciente incomodam-se, e de que forma, com os médicos cubanos.

Sérgio Ribeiro disse...

Samuel - Outro "invejoso da feijoada". Apareçam...
Pedro Namora - Obrigado pela tua contribuição para a reflexão. E não achei nada longa...
Anónimo - Parece? Mas não é. Aliás se a realidade fosse as suas aparências para que servia a nossa cabeça? Só para dar cabeçada uns nos outros? E se o visitante quiser confrontar os objectivos capitalistas e deshumanos das agências de trabalho temporário (mormente a prática de alguma) e o que se chama solidariedade, talvez nos poupasse a comentários como este.
Antuã - Pois é, camarada. É o negócio da doença em vez do direito à saúde.

Abraços

Sérgio Ribeiro disse...

Este meu re-comentário desapareceu, misteriosamente;. Tento refazê-lo:

Galamba - É sempre muito útil o cnhecimento vivido das realidades. E novidades tuas?
Maria - Olá, Maria. Há muito que não nos encontramos...
Fel de cão - Obrigado pelo fundamentado acrescento da qualidade. É importante. Mas... porque não polemizar, porque não encarar o problema do mercado e da concorrência? E outros? Porquê fugir a isso?
Pata Negra - Invejoso... da feijoada! E quanto à preocupações, a hipocrisia de quem se preocupa com 500 euros (e mais os direitos a educação, saude, habitação, saúde e outros9 para uns e ragateia 475 "a seco" (e ausência de direitos) para outros!

Abraços para todos

Carla disse...

Muito obrigada camarada pela racionalidade com que regularmente nos presenteias no teu blog. Este post é disso mais um exemplo.Quanto a esta notícias quando a li achei inacreditável a forma como pegaram na informação e a distorceram. Enfim é o costume... quando a verdade não agrada destorce-se.