sexta-feira, outubro 22, 2010

AQUILO DE SER ex-comunista…

Ser ex- já é bom, porque se foi e porque se deixou de ser, isto é, foi-se duas vezes e está-se em condições de passar a ser uma terceira vez (ou mais). É de ser!, e só não se diz é de homem! porque também há mulheres que são ex-.
(Aliás, lembrei-me agorinha de um companheiro de viagem do paquete Moçambique - viagem de fim de curso a Angola, em 1958 - que me deu um cartão de visita com o nome dele e, por baixo, ex- seguido de várias “qualidades”, até à última de ex-passageiro do paquete Moçambique.)
Fechado o parênteses, melhor que ser ex-, assim sem mais nada, é ser ex-comunista. Isso é que é. Desde logo, é atestado de maturidade… e de “ter escola”, de ter aprendido onde se aprendem coisas que, depois, nunca se desaprendem todas, embora se ponham ao serviço do contrário da finalidade para que foram aprendidas.
Nem todos os ex-comunistas são iguais. Claro que não. Nunca alguém é igual a outrem. Mas é uma enorme qualidade comum de vários.
Há os que são ex-comunistas porque nunca foram comunistas mas viram no fazerem de conta que o eram uma oportunidade. E como não deu, deixaram de ser o que nunca foram.
Há os que são ex-comunistas porque se desiludiram, isto é, não eram comunistas por o serem mas porque tinham ilusões, que é coisa que os comunistas não podem ter.
Há os que são ex-comunistas porque ficaram “órfãos” da União Soviética, ou seja, tinham uma ideia de que ser comunista era estar ao lado, a par de uma certa realidade que seria inevitável vencedora de um confronto e que, naquele tempo histórico, o perdeu. E como tinham uma curta medida para o tempo histórico, ou seja lhes faltava substrato histórico/ideológico… recusaram a orfandade.
Ah!, há tantas maneiras de se chegar a ex-comunista. Não posso referir todas. Nem as muitas que conheço (de ginjeira…). Mas não quero deixar de deixar referência aos que, antes de serem ex- definitivos passaram por ser ainda mais comunistas do que o eram, achando errada a maneira como o eram aqueles que o eram e continuam a ser. Quase todos desistiram depressa e passaram a ex-comunistas; alguns, passaram depressa a ex-comunistas e em acumulação com serem outras coisas, até "subirem" a deputados, secretários de Estado e ministros. E de tão ex-comunistas são mais anti-comunistas que os anti-comunistas. São vidas!
Ah! e há ainda os ex-comunistas que se recusam sê-lo porque seriam, isso sim, os únicos comunistas, os mais que todos, puros, únicos e intransmissíveis, sozinhos ou em grupinho, e que o são sempre ao ataque aos que os são em colectivo, com estatutos, organização e luta contínua.

11 comentários:

Justine disse...

Estás lúcido, m....!!!
Gostei mesmo do texto:))

folha seca disse...

Caro Sergio Ribeiro
Como já lhe disse há muitos anos que tenho por si grande estima e consideração. Diga ou escreva o que quizer, creio nunca perder esta ideia que tenho de si.
O seu escrito de hoje esquece uma realidade, ou seja foca-se num conjunto de pessoas que foram membros do PCP e se catapultaram a lugares de relevo, aderindo a outros partidos. Sobre isso não me pronuncio.
Queria sim dizer-lhe que há muitos outros, sem duvida a imensa maioria de membros do PCP que o abandonaram e não foi para ir para outro Partido, mas porque certamente tiveram as suas razões muito variadas.
Vejamos: o PCP chegou a ter cerca de 200.000 militantes (ou inscritos) nos ultimos numeros conhecidos andava pelos 70.000. Será que esta diferença não o devia fazer debruçar-se melhor sobre a real situação. mas digo-lhe mais o PCP e nas coligações que promoveu chegou a ter 1.200.000votos. Hoje tem 300 e tal mil.
Creio caro Sergio Ribeiro que a ilacção retirada do seu texto, confunde a arvore com a floresta e é pena, vindo de um dos grandes intelectuais de esquerda.
Hoje assino
Um ex membro do PCP (mas que nunca se tornou anti-comunista ou mesmo anti-PCP) sei que na sua concepção(pelo que parece) esta espécie não exista.
Cumprimentos

Graciete Rietsch disse...

Claro que podemos ter as nossas posições sobre determinados assuntos que não estarão totalmente em sintonia com outras que nos são propostas. Mas porque não expô-las nos locais próprios, por exemplo reuniões , assembleias, etc, para que somos sempre convocados? Talvez essas opiniões, aparentemente discordantes, pudessem até melhorar as conclusões finais. Isto porque nós somos um Partido que funciona num colectivo e as posições de base chegam sempre aos órgãos de direcção e sempre são tidas em conta, excepto se não colaborarmos.
Nas minhas opiniões nunca me senti ultrapassada pelo Partido.
Há realmente muitas razões para que as pessoas deixem o Partido. Há a euforia dos primeiros tempos , há o oportunismo e há principalmente uma grande desinformação.
Isto é o que penso sobre a militância no PCP, o Partido que para mim representa a esperança.

Um beijo, camarada Sérgio.

samuel disse...

Mesmo admitindo que exista, como diz o Folha Seca, mais uma ou outra "categoria" de ex... decididamente,

"Há os que são ex-comunistas porque se desiludiram, isto é, não eram comunistas por o serem mas porque tinham ilusões, que é coisa que os comunistas não podem ter." ... é muito bom!!! :-)
Belo texto!

Abraço.

Sérgio Ribeiro disse...

Justine - Obrigadinho. Vindo de ti... sinto-me lúcido, merda! (se o poeta o escreveu com as letras todas porque não o escrevemos nós?)
folha seca - meu caro, este seu comentário merece-me todo o respeito, embora não me traga reflexões em que que não ande mergulhado há anos (que digo eu? há décadas!). A "categoria" dos ex- tem várias subdivisões e nunca pretendi esgotá-las. Acrescento que, nesta série, tenho a ideia de, sem me arvorar em juíz de outros e das suas decisões pessoais (que apenas suas são), tratar do que eu chamo Isto de ser PCP e Isto de ser ex-PCP(o que não é o mesmo que ser comunista e ex-comunista). Talvez deite mais achas para a fogueira... mas é uma reflexão honesta, logo susceptível de erro e de avaliação injustiça.
Graciete - Depois do que escrevi acima, na resposta ao comentário do "folha seca" (não é por acaso este pseudónimo, descortino-lhe uma mágoa e uma ofensa muito grandes por efeito de uma frase de Álvaro Cunhal de há umas décadas...), este teu comentário só me leva a dizer que já estão começados os nºs. que se seguem na série.
Samuel - Não vou repetir o que escrevi antes. Tem todo o cabimento como comentário ao teu comentário. Isso das ilusões é uma parte do problema de alguns. E superar problemas que daí decorrem, como coisas que, ditas ou feitas, magoam muito o indivíduo que todos somos, comunistas ou não?

Abreijos

Pata Negra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Parabéns pelo teu blogue. Vim aqui ter por acaso. Tu és comunista? Vou-me já embora!
Amigo do Zé Luis

José Rodrigues disse...

Se não estou em erro foi o comunista Lenine que disse mais ou menos isto:ninguém pense que a Revolução é um passeio pela avenida Nevski...

Abraço

Antuã disse...

Pelo Outono aparecem sempre as folhas secas.

Anónimo disse...

E Mao acrescentou que a revolução não é um convite para jantar. Mas para o revisionismo moderno, a revolução não foi outa coisa, desde 1974, do que um "passeio" pela Av. da Liberdade".

E no dia 24 é mais outro de braço da dado com a "quinta coluna" UGT.

... mais uma derrota tranformada em vitória...

...... disse...

Adorei esta reflexão... sente-se a milhas que é sentida.
Não querendo acrescentar mais categorias.... não posso deixar de incluir os que que não são ex-comunistas porque nunca o foram ou quiseram deixar parecer que o fossem (seja por cobardia ou por falta de afirmação... o que o faz necessariamente um "não comunista") mas que nem por isso deixam de partilhar muitos dos seus ideais e que, de uma forma modesta e discreta, os colocam em prática ;)