sexta-feira, junho 24, 2011

Pretextos

Posso afastar-me deste local de trabalho que os pré-textos vão aparecendo e acumulando-se para tratamento posterior. E são tantos que muitos se perdem.
Uma das fontes mais pródigas é a do rádio do carro. Há sempre mais conversa que música. E é cada conversa...
Ainda agora, ao regressar da festa de encerramento do ano lectivo da Universidade Sénior, e da passagem pela Assembleia Municipal, onde assisti (da assistência!) a parte da sessão, em que a representação do PCP eleita nas listas da CDU estava bem entregue, ouvi debater o tema das eleições no PS e os perfis e as hipóteses dos dois candidatos.
Cheguei a casa sem incidentes (admiro-me sempre!) e fui à estante buscar um livro que me serviu de base para o recomeço das aulas no ISEG, quando voltei do Parlamento Europeu em 1999, e que terá sido um dos causadores do meu prematuro abandono daquela docência. É que fui inegrado numa equipa em que tal livro - Introdução à política económica, de Jacques Généreux - era básico... e eu não me consegui adaptar. Pelo que rumei a qui à aldeia e, tendo sido convidado para ir "dar economia" no Politécnico de Tomar por lá andei, com muito gosto... até que o Ministério da Educação resolveu que o reformado que eu era não podia acumular com "dar aulas". Isto é, parece que eu seria um obstáculo à formação naquela escola de um quadro de docentes nativos. Coisas estranhas...
Ainda cheguei a respingar (além de ter completado o semestre como "conferencista"), mas o regresso ao Parlamento Europeu em 2004, por necessidade e opção partidária, encerrou de vez a minha docência formal.
Porque estou a lembrar isto? Porque, como as cerejas, o Magno a falar do Seguro e do Assis me lembrou o Généreux, e este me lembrou a minha "indocência".
É que o tal livro, começando por abordar a políticia económica com muito aproveitável pedagogia, às tantas, no capítulo 5 da Parte I - Os objectivos políticos - trata a política como um qualquer outro mercado, um mercado em que a mercadoria é o voto.
Haverá, decerto, quem ache muito natural, mas foi-me insuportável a convivência com o seguinte sumário:
5. Os objectivos politicos
5.1. Limites da abordagem tradicional
5.1.1. A dimensão política dos problemas económicos
5.1.2. As motivações dos homens políticos 
a) A impossível identificação das preferências colectivas
b) Os objectivos dos decisores políticos
5.2. A lógica da acção política
5.2.1. O mercado político
a) A oferta política
b) A procura política
c) o equilíbrio do mercado político
5.2.2. Uma nova análise da política económica
a) o que é uma política eficaz?
b)A globalização dos problemas
c) A preferência pelas políticas conjunturais
d) O peso dos grupos de pressão mais eficazes

Ao percorrer este livro, sumário e estas páginas, que terão muitos "parentes chegados" no que serve para formar "economistas" percebe-se a "onda" de separação do político do social, como, em política económica, tudo se reduz a mercado, com regras simplistas de funcionamento, e com a mercadoria-força de trabalho a ter um tratamento igual ao de qualquer outra mercadoria-factor de produção.
No entanto, se há política económica (e políticas económicas) - que não se reduz(em) à(s) que, "généreusement", inoculam nos jovens formandos em economia - é porque há, também, economia política enquanto ciência social. Com teoria do valor, mais-valia, classes sociais, trabalhadores, burgueses (às vezes malteses), exploração, especulação  e essas coisas.


3 comentários:

samuel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
samuel disse...

Analisados por estes cérebros formatados e anestesiados, até "les amoureux des bancs publics" podem ser considerados à luz do mercado... mas a coisa nunca soará tão bem como o Brassens!

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Mesmo com a minha ignorância em assuntos de Economia penso que, devido á minha formação ideológica absorvida em alguns livros e até na observação da sociedade, Economia e Social devem andar de mãos dadas.
O ser humano é um grão de poeira neste imenso Universo.Mas sem o seu trabalho e esforço onde estaria o Planeta Terra que neste momento ainda é o único local conhecido onde sobrevive como espécie?
A valorização do trabalho, a Paz, a Solidariedae impõem-se até como meio de salvar a Humanidade.

Um beijo.