segunda-feira, setembro 10, 2012

Depois da Festa

página de uma espécie de diário ao jeito de crónica

CRÓNICA DE UMA VIAGEM NA MADRUGADA.

SÓ E MAL ACOMPANHADO

A camarada do som anunciava repetidamente que a Festa do avante! de 2012 terminara. Muitos não a ouviam, ou não a queriam ouvir. Continuavam em festa!

Como tinha uma longa viagem a fazer, a idade não perdoa e o cansaço era bastante, fui dos que a ouviram e, assisadamente, engrossei a corrente dos que foram descendo a rampa da Medideira ou subindo à Princesa para, pelos transportes públicos ou pelos carros próprios, rumarem aos lugares de origem e destino. Ainda com a Festa dentro de cada um. Num ambiente que mereceria crónica. Outra. 
Esta é a crónica da minha viagem, encontrado o carro no campo do Amora. Só. No regresso a casa.

Olhei o relógio “de bordo”: vinte para a meia-noite! Ah! se fosse noutro tempo… voltaria para trás e iria fazer o “fim da festa”, “a festa dos festeiros”. Mas... a idade não perdoa e o cansaço era muito (já escrevi isto, não já?!...).
Percorri o calvário do pára, arranca, pára, até apanhar a A2. Lá ia eu, sozinho e acompanhado pela antena 1, automaticamente ligada, e ainda apanhei o noticiário da meia-noite nessa exasperante travessia.
Logo me incomodou.
O “professor Marcelo”, no resumo e no miolo do noticiário, a ser reproduzido com a grande “descoberta” de que o primeiro-ministro corria o risco de ter entrado em “pré-ruptura psicológica” com o povo. Segundo ele, por canhestrice na comunicação, por o primeiro-ministro ter sido desastrado na forma ou na embalagem da cicuta (dispenso-me da rima que improperei…). E só por isso, não pelas medidas que anunciara…
O “professor”!, em indirecto e em directa gravação. A dizer que, agora, teria que vir o ministro das finanças e o propriamente dito Passos Coelho dar explicações, juntar os cacos do cântaro que tão desastradamente levara à fonte.
Se estava incomodado com lenta marcha para a A2, fiquei possesso. Como possessos teriam ficado os que compunham a esmagadora maioria dos quase 30 mil comentadores da mensagem no facebook que o primeiro-ministro, travestido do cidadão, de pai e do raio que o parta, assinara como Pedro no final de uma lamurienta carta. Alguns desses comentários (dos lidos… porque muitos não seriam legíveis por serem de censurada audição) eram a expressão dessa “invenção marceliana” da “pré-ruptura com o povo”, segundo ele até agora evitada, ou encaminhada para cúmplices do primeiro-ministro na desgraçada governação a mando da troika.

Já na A2 respirei fundo e indignei-me por o noticiário se ter esgotado sem uma palavra sobre o acontecimento de onde vinha e, por isso mesmo, sem uma palavra relativa ao discurso de Jerónimo de Sousa. Coloquei-me a dúvida se já palavras teriam sido ditas em anteriores noticiários, ou até com pedacinhos de directo, mas isso não apagou a indignação perante o critério editorial que repetia e repetia Marcelo e os seus malabarismos e silenciava o maior comício que se faz em Portugal pela única força política capaz de o fazer, sem um comentário à realidade real trazida a uma mole imensa e viva (nada mole…) de gente viva e atenta, e em luta, com alegria, muita preocupação e determinação. Sobre “essa coisa”, o noticiário da meia-noite nada ou zero. Algo dito estragaria o efeito daquela da “pré-ruptura psicológica do primeiro-ministro com o povo” e o balanço facebookiano. Que, isso sim, isso é que é informação para a Antena 1!...

Os quilómetros foram-se acumulando e, com eles, os minutos (ou vice-versa), com paragem em Aveiras para estender as pernas, lavar os olhos, beber um galão (este não “morno e claro”, como costumo pedir).
Mas, também, acumulando noticiários, o da 1 da manhã e o das 2 da manhã. Repetindo-se no dito e no não dito, actualizando os números e os comentários à mensagem do Pedro mais conhecido por Passos Coelho e outros epítetos. E eu, com as mãos crispadas no volante, sem sono, com a indignação a tomar-lhe o lugar.

Ainda um apontamento sobre a madrugada e viagem só e mal acompanhado.
Depois do noticiário das 2, a repetição de um programa Visão Global (que, por má sorte, ouvira ao meio-dia quando a caminho da Atalaia, com o prato forte das eleições nos Estados Unidos). Nesse programa, um embaixador-comentador de plantão, ao referir-se às eleições angolanas, contrafeito no reconhecimento do rigor e da seriedade democrática do acontecimento, acrescentou explícitas ou insinuadas reservas e interpretações insidiosas sobre a situação no país, e deixara-me uma pulguita atrás da orelha.
É que o comentador-embaixador concluíra, de manhã (e reedição na madrugada), com um esclarecedor conceito de democracia segundo o qual os angolanos tinham escolhido democraticamente “quem iria mandar neles”. E eu a pensar que a democracia, qualquer a desvirtuação que dela possam promover, é sempre para o povo escolher os seus representantes e não quem mande nele!...

Como se pode calcular, com estas más companhias o sono de cansaço com que terminei a jornada teve sonhos pouco agradáveis, e acordei esta manhã com este texto pré-escrito… e em pré-ruptura psicológica (e em ruptura se não denunciasse isto que me povoou a madrugada).

4 comentários:

cid simoes disse...

UM ABRAÇO!

Jose Rodrigues disse...

A gente bem faz força para ser bom serviço público,pluralista e de qualidade,mas...



Abraço

samuel disse...

Já nem se pode estar só... :-)
(E o lançamento foi coisa para quantos metros? Tanto que queria estar presente...)

Abraço.

Olinda disse...

Pronto,lâ te estragaram o espîrito da FESTA.Mas,tambem,jâ os conhecemos bem,outra coisa nao era de esperar.Com a imensa alegria,proporcionada,pela imensidao do comîciọ -tanta gente-eu regressei a casa,ouvindo mûsica.


Beijo