quarta-feira, setembro 19, 2012

Os conselheiros de estado barulhentos e os conselheiros de estado silenciosos

O Presidente da República convocou o Conselho de Estado. É suposto que, de acordo com as regras constitucionais, para ser aconselhado, em situação considerada séria ou grave em que é chamado a tomas decisões.
Alguns conselheiros, para além da sua mediatização habitual - nalguns casos em exposição semanal garantida - "estão na montra": quem quiser (e mesmo quem não quiser..) já sabe que "conselhos" irão eles dar no Conselho de Estado.
Que alguns não-conselheiros tivessem tornado pública a sua opinião parece-nos natural, mas, pelo contrário, é "curioso" que os que têm o encargo constitucional de, ao nível de Conselho de Estado, servirem de conselheiral apoio ao P da R se exponham tanto quando deveriam guardar alguma reserva mediática.
Salvo - ao que parece - 4 excepções, conhecem-se as posições dos outros 15, e nalguns casos com enorme ruído. Aliás, o próprio P da R, apesar da sua gestão de silêncios, não esconde o que pensa da axtual situação, sempre na sua postura de lembrar que "ele já tinha dito", que "ele já avisara", que "ele já aconselhara" (antes de ouvir conselhos).

Para quem gosta de teatro, este episódio da vida política portuguesa tem o seu quê de "vaudeville" para que se se prepara um "grande final"... ou um (des)dramático adiamento. Que sairá, mediaticamente, desta encenação?
Entretanto, não se cansam os cont(h)abilosos de procurar soluções para que os números dêem certos com as novas e recentíssimas previsões já que as anteriores projecções falharam em toda a linha.
Confessa-se, aqui, que no tal Conselho de Estado, a única posição que nos merece atenção, nem é a dos conselheiros discretos e mediaticamente silenciosas, é a do não-membro "convidado especial", do ministro Vitor Gaspar.
Como irá ele descalçar a bota em que meteu os pés pelas mãos, depois de tantas meses em que representou o papel do "certinho" da companhia? Este ministro, que nunca foi considerado remodelável - e que, eventualmente, nunca o poderá ser pelas sua função de "ponte" com a "troika" exterior e agressora - tornou-se, em termos objectivos, o mais remodelável dos ministros, se isso de remodelar fosse solução para alguma coisa...
É cada vez mais evidente que só há uma saída, e que ela não pode ser considerada por quem é aconselhado e por quem foi escolhido para aconselhar: uma outra política!

2 comentários:

trepadeira disse...

Com outros conselheiros,com outros aconselhados e com o povo a varrer o lixo e enterrar o esterco.

Um abraço,
mário

Anónimo disse...

Olá.

Deixo um comentário que mais do que comentar este "post", pega na sua última frase para colocar uma questão que me anda a atormentar..

Nestes tempos de preparação do que se espera que seja um grandioso/poderoso Congresso em 30/11 e 1/12 e 2/12, tenho debruçado-me sobre o estudo (teórico) da nossa actividade e do nosso programa.
Ora, pegando na última frase, a realçada ("É cada vez mais evidente que só há uma saída, e que ela não pode ser considerada por quem é aconselhado e por quem foi escolhido para aconselhar: uma outra política!"), não posso deixar de concordar em geral mas, salta-me à vista uma contradição:
A. Quem aconselha e quem é aconselhado, representa (ou até é mesmo..) o grande capital (nacional mas não tenho dúvidas que também o transnacional). Portanto é correcto dizer que a saída (a que queremos, a que o povo deve querer) não pode ser considerada por estes..
B. Por tudo o que tem sido dito e escrito, não há dúvidas da necessidade da saída (a tal que queremos) só poder ser encontrada no quadro de uma outra política, que também já muito temos desenvolvido sobre as características centrais.
1. Por toda a análise que temos vindo a fazer, só pode ser claro que essa outra política não será nunca concretizada (excepto em pequenas concessões de carácter necessariamente temporário) por estes protagonistas. Fará então sentido, não será então enganador para as massas, todas as palavras de ordem que se restrinjam à exigência de uma mudança de política sem colocar a questão central da tomada do poder pelas massas proletárias?
2. Recentemente já avançámos nas palavras de ordem introduzindo, além do rasgar do acordo com a troika, a queda do governo. Se do ponto de vista táctico, isto me parece um avanço, do ponto de vista estratégico parece-me que continuamos muito recuados. Poder-se-á em algum momento admitir que faça sentido estarmos a partilhar o poder com o capital para conseguir algumas reformas? A capacidade de empreender reformas estruturais depende não apenas de um governo diferente, com eventual participação nossa e com o apoio das massas populares, mas também do controlo dos meios de comunicação social, das forças armadas e da própria representação externa (dependência da PR), da própria estrutura económica, da propriedade dos principais meio de produção e da capacidade do capital boicotar medidas como eventuais nacionalizações que se conseguissem? Não é então necessária uma revolução (a democrática burguesa já foi há mais de um século e a democrática e nacional já implementou as liberdades formais básica há 38 anos, portanto para mim seria a proletária/socialista que tinha que lhes seguir)? Não é reformismo o estarmos a hipotecar a revolução necessária ao não preparar as massas para ela (do Autoridade Nacional tiro esta pérola sobre a manifestação de dia 15: "Se aqueles milhares de pessoas tivessem um programa revolucionário podiam fazer a revolução.") e, voltando ao início, enganarmo-nos e às massas imaginando que "uma outra política" é possível sem essa revolução, fazendo das reformas que se conquistem o fim (objectivo) da luta?

Será esta uma discussão para ter noutros locais mas não queria deixar de colocar aqui, onde tão abertamente têm sido colocados os pontos de vista de quem quer mesmo contribuir para o melhor para Portugal e os portugueses, no sentido de não deixar esquecer a necessidade da discussão constante destas questões de fundo.

Saudações