- Recebeste o ofício da CNA para a declaração do IRS, em que se diz que o nosso rendimento mensal é o mesmo do ano passado?...
- … o rendimento mensal bruto…
- Pois!, até porque já vi o que depositaram em Fevereiro e o valor líquido já é mais baixo… mas não percebo nada do que foi deduzido e do que foi – como é que eles dizem?... – restituído do subsídio inconstitucional roubado o ano passado.
- Eu só vou ter esse depósito líquido – ou liquefeito… – lá para o dia 20…
- … mas ajuda-me lá, para ver se percebo alguma coisa…
- … não contes comigo para essas contas…
- … mas tu é que és economista…
- … disseste bem, economista!, não financeiro ou vidente. Estas contas estão todas embrulhadas… porque nos querem embrulhar nelas.
- E não és capaz de as desembrulhar?
- Não! Elas estão propositadamente completamente embrulhadas. E então se tivéssemos a “generosa” oportunidade de escolher entre receber o subsídio a que alguns trabalhadores têm direito ou por duodécimos ou na altura própria, pior seria…
- …mas isso não é bom para eles?
- Claro que não. Não só embrulha mais as contas, como é um passo para acabar com os subsídios, no meio e no fim do ano, que estavam já integrados nos planeamentos e orçamentos familiares. E há, também, a baralhada com as sucessivas diminuições nas indemnizações por passagem a desempregado. e as …
- Tá bem! Pára aí... no nosso caso, que já não podemos ir para o desemprego…
- Ah, não?! Desempregados de reformados… e sem indemnização, é o que estamos a ser.
- Mas o que eu queria saber era quanto vou receber em Março?... o mesmo que recebi agora em Fevereiro?
- Sei lá. Há quem se esfalfe a fazer contas mas, ao certo, ninguém sabe. E o que “eles” querem é isso mesmo; que cada um se consuma a fazer as suas contas, a ver se descobre qual é a sua situação, com os descontos, os impostos, as taxas, os escalões, os duodécimos, as percentagens, as oscilações nos combustíveis, o IVA... cada um com as suas continhas individuais…
- Não estás a ajudar nada…
- Eu sei, e tenho pena… mas também te digo que não me quero esforçar a perceber o que “eles” nos atiram à cara. precisamente com a intenção de nos entreter. Cada um para si e com as suas contas. Aliás, este fim-de-semana ainda vão reunir – num forte qualquer e em mangas de camisa – por causa daqueles míticos 4 mil milhões com que nos querem assaltar e se tornaram numa Gasparina obsessão… até para distrair de tudo o resto. Por mim, faço-lhes um manguito e vou à luta. Hoje, amanhã, no dia 16...
- Sabes que eu também… mas… acho que tinha direito a saber.
- Claro que tinhas! Mas isso dos direitos é coisa em que eles querem mesmo embrulhar-nos, colocando-os como nossas lutas individuais, entre os pingos da chuva de uma enxurrada que molha todos…
-Todos?
- É modo de dizer porque há uns que estão debaixo de telha e no ar condicionado, quando alguns – muitos – deviam era estar no xelindró… Por outro lado, há uma coisa que quero evitar: que esta situação – esta conjuntura!... – tenha o efeito que “eles” também desejam: destruir a nossa sanidade mental!
- Bolas para isto!
- Porra, digo eu!
3 comentários:
Grande explicação . Acertaste mesmo naquilo que eu penso.
Um beijo.
E Sábado, 16, lá estaremos, a lutar por um Portugal com futuro!
Com um abraço, desde Vila do Conde,
Jorge
Conversa que tão bem retrata o tempo "kafkiano" que estamos a viver...
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