- Ângelo Alves
- O que move o AKEL é a luta contra a ocupação da Turquia
Eleições no Chipre
No próximo domingo o povo cipriota será chamado às urnas
para, na segunda volta das eleições presidenciais, eleger o chefe de Estado e de
governo que sucederá a Dimitris Christofias, presidente da República desde 2008,
Secretário-geral do AKEL entre 1988 e 2009. Os resultados da primeira volta do
passado dia 17 ditaram que a decisão será entre o candidato da direita,
Nicos Anastasiades, dirigente do partido DISY, e
Stavros Nalas, candidato independente apoiado pelo AKEL. Um resultado que
contrariou todas as vozes, e até projecções, que davam como certa a vitória do
candidato da direita à primeira volta.
Estamos perante umas eleições importantes. As atenções
estão voltadas para a difícil situação económica. A explosão em Julho de 2011,
que praticamente destruiu a principal central de
produção eléctrica do País; o jogo especulativo de um dos maiores bancos
cipriotas com títulos da dívida grega; o impacto da crise do capitalismo num
país com uma economia com um regime de off-shore, estarão na origem da presente
situação. Uma situação complexa, já com graves implicações sociais, que, numa
polémica decisão, forçou o governo cipriota a, depois de várias tentativas de o
evitar, estar neste momento a negociar o acesso ao mal chamado «Mecanismo de
Estabilização» da União Europeia.
Esta situação económica e a possível decisão de um mal
chamado «resgate» são demonstrativas das limitações a que o governo de coligação
do AKEL – agindo numa situação de minoria na Câmara dos Representantes, com um
governo em que o partido mais votado tem uma minoria de ministros, gerindo um
país capitalista, com uma imprensa dominada pelo grande capital e com uma
economia com alto grau de financeirização – esteve e está sujeito. Limitações
essas acentuadas pelo colete-de-forças da União Europeia (a que o Chipre aderiu
na esperança de ver por aí resolvido o seu problema nacional) e pelas medidas
que a pretexto do «resgate» se tentam impor (e às quais o presidente cipriota
tem resistido) como as privatizações de empresas e serviços públicos ou a
tentativa de «abocanhar» a exploração e gestão das grandes reservas de gás
natural recentemente descobertas nas águas territoriais cipriotas.
Mas então qual a razão pela qual um partido comunista
decide gerir um país nestas condições e se propõe continuar a fazê-lo, «estando
no poder» mas não tendo de facto o poder, e tendo que agir no quadro da União
Europeia? A resposta não é simples e suscita inúmeras dúvidas e contradições,
como a realidade o está a provar. Mas o que move o AKEL, um partido comunista
com uma forte implantação no seu povo, um partido verdadeiramente ligado às
massas, com uma forte organização e uma história heróica de resistência contra o
fascismo e a ocupação, é a resolução do principal problema daquele povo – a luta
contra a ocupação de mais de um terço do seu território pela Turquia desde 1974
e a reunificação da sua pátria. O AKEL é historicamente, e na actualidade, o
grande partido da causa nacional cipriota. Um partido que se lança nos mais
complexos, difíceis e contraditórios desafios para persistir no objectivo
central de devolver ao seu povo a sua pátria reunificada. Isto não é coisa
pequena no acto de decidir, quando, do outro lado, a direita e a
social-democracia, ou instrumentalizam ou «deitam a toalha ao chão» no que toca
à questão nacional. Mas não só. No próximo domingo estará também em cima da mesa
uma de duas opções. Resistir à imposição de uma reconfiguração neoliberal do
Estado cipriota, protagonizada pelo DISY, ou resistir, em difíceis condições é
certo, a esse objectivo.
1 comentário:
O capitalismo asfixia. Mas o Povo cipriota, sujeito ao garrote que o capitalismo lhe impõe, poderá dar a volta, como já deu, às previsões eleitorais e tomar o destino nas suas mãos. A situação é grave, mas o dia da esperança chegará.
Um beijo.
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