quinta-feira, janeiro 22, 2015

Crónica internacional

 - Edição Nº2147  -  22-1-2015




A Europa e a Grécia
Como o PCP alertou, os acontecimentos de Paris estão a ser aproveitados pelos sectores mais reaccionários, pelas principais potências imperialistas e pela União Europeia para fazer avançar aquilo que há muito tentavam. Sustentados numa paranóia securitária de natureza islamofóbica, direita e social democracia unem-se para adoptar um conjunto de medidas que levam mais longe os atentados às liberdades individuais e colectivas, à democracia e à participação popular e abrem campo à extrema-direita. Ao mesmo tempo que se instiga a paranóia, avança-se, no plano ideológico, na teoria maquiavélica do choque de civilizações. Pelo meio, com pezinhos de lã, lá se vai também falando dos «extremismos de esquerda». Entretanto em Londres uma enfermeira é suspensa por rezar por uma sua colega muçulmana e multiplicam-se na Europa as manifestações de extrema direita contra as minorias religiosas e os imigrantes.
O Big Brother europeu está em marcha e a Europa fortaleza reforça-se. «O inimigo está entre nós», todos somos potenciais «jihadistas». Por isso, os nossos movimentos, viagens, compras, acções, opiniões vão ser «monitorizadas» pelos «guardiões» da nossa «segurança» que acumularão o poder de decidir quando e como os exércitos sairão à rua para «garantir» a nossa «tranquilidade». A União Europeia está mergulhada no medo, empurrada para o racismo e a intolerância e corroída por uma profunda crise social e económica. A realidade, essa, fica submersa no mar de desinformação e condicionamento ideológico, ocultando-se que estamos a ser vítimas das políticas «europeias» e «atlânticas» que instigam ao ódio, à guerra, ao conflito, à divisão – seja na Síria, na Líbia, no Iraque... ou na Ucrânia, onde o exército de Kiev bombardeia sem dó nem piedade o seu próprio povo em Donetsk. Tudo isto em nome dos «valores da democracia ocidental» e da proclamada «liberdade de expressão e de imprensa».
É esta «Europa», decadente, em crise e em que o medo e a chantagem são armas de domínio, que vai também estar em julgamento nas eleições do próximo domingo na Grécia. Um país destruído economicamente, asfixiado por uma dívida imposta, vendido a retalho e ao preço da chuva ao grande capital estrangeiro, completamente submetido aos ditames dos seus «credores» e senhores e com um povo a sangrar feridas sociais, de dignidade e de soberania – é este País que vai a votos no domingo. Um povo massacrado e ferido, mas também um povo que há quase uma década protagoniza lutas sociais e de massas de grande envergadura para as quais o movimento sindical de classe e os comunistas gregos deram e dão contributos decisivos.

O desejo popular de mudança e de recusa das políticas do PASOK, da Nova Democracia, da troika e da União Europeia é mais do que evidente. Isso é já uma vitória para a Grécia, indissociável da luta popular. E é uma derrota para a União Europeia do capital e do medo. O povo grego está a demonstrar coragem, quer mudar e acredita numa mudança real substantiva. Essa é a razão por que, nervosos, os «donos disto tudo» se lançaram numa imunda campanha de chantagens e pressões contra a liberdade de expressão e de decisão do povo grego. Porque a liberdade do povo põe, como sempre, em causa a «liberdade» de mandar, de explorar e oprimir. Compete às forças políticas gregas interpretar e respeitar este fundo sentimento nascido da luta, que é propriedade exclusiva do povo. Porque, tal como em Portugal, será com o povo e a sua luta que se podem operar as rupturas necessárias para a Grécia respirar liberdade, justiça, dignidade, desenvolvimento, progresso e soberania. O tempo na Grécia e na Europa não é de meias verdades e muito menos de novos cozinhados para as mesmas receitas. É de construção de um futuro novo que exige rupturas, coragem, verticalidade e frontalidade. E que não tolerará enganos ou desilusões.

Ângela Alves

3 comentários:

Olinda disse...

Estamos a passar por uma situacao histôrica muito sêria.Acredito,que os povos saibam travar as ameacas de agressao do grande capital.Excelente crônica do Angelo ,jâ com uma ajudinha,para reflexao.

Beijo

Jorge Manuel Gomes disse...

Muito bom Camarada,

Um GRANDE ABRAÇO desde Vila do Conde,

Jorge

Justine disse...

O artigo está muito bom, e espero que o Ângelo não se importe com a mudança de nome :-))))))))))))