segunda-feira, setembro 02, 2019

COMENTA DOR(es)-3 - entrevista de Jerónimo de Sousa


COMENTA DOR(es)-3

no Expresso de 31 de Agosto
(a entrevista de Jerónimo de Sousa
e mais uns trocos)
  
A entrevista de Jerónimo de Sousa é… de ver e ler (uma, duas, três vezes?... as que forem precisas!). É um exemplo de seriedade, de humildade revolucionária, de sentido de Estado.
Contra o habitual (para com ele e outros seus camaradas), a paginação, as fotos, merecem ser vistas e – a meu ver – merecem o entrevistado.
Uma cara marcada pela idade, pela vida dura e de entrega, um homem cansado, que por vezes parece no limite das capacidades humanas mas que continua, firme e lúcido, na luta de sempre. Que se sente magoado… porque é boa gente e nem a tudo pode ficar indiferente quem boa gente é!

Para os entrevistadores, apetece-me o comentário de que, na sua postura, talvez apesar do encargo que tinham, para além da leitura que terão da vida e da sociedade, foram… correctos, profissionais, respeitadores.
Não foram usados truques, manhosices, não mostraram a cretina auto-suficiência que por aí abunda na comunicação social de dito topo.

Jerónimo, na minha leitura, esteve excelente no relativo a este mandato da AR, de que nunca será demais lembrar a sua frase histórica (não exagero!) que interrompeu as felicitações de António Costa a Passos Coelho pela “vitória” deste nas eleições de 2015 (como se as legislativas fossem o que não são!), de cuja autoria, aliás, Jerónimo não reclama autoria, na sua coerente e natural modéstia. Frase que abriu um caminho que, para poder ser começo do que veio a ser, tinha de confrontar um PR politicamente reaccionário até dizer basta e medíocre culturalmente até dizer chega!
E, na sua sequência dessa frase e da “angústia” e desespero de Cavaco perante a alternativa, Jerónimo sublinhou a necessidade de um… papel, de um “acordo” que nada teve de pré-nupcial, mas sim de compromisso que só exigem os que precisam de provas escritas para acreditar que se cumprirá palavra dada ou intenção afirmada.

Tudo isto dito de forma que ajuda a reflectir (quem o queira fazer, esteja onde estiver) e se confirma nas posições sobre o futuro, sobre o que vem aí.
Em tudo está um fundo e fundamento de classe, da classe que Jerónimo quer e sabe representar, apenas me parecendo um pouco peado na afirmação explícita de que há classes de que há luta de classes. Não falta a permanente preocupação com a correlação de forças, mas este leitor/comenta dor gostaria de maior clareza (marxista-leninista) na definição da fronteira de clivagem.
Por outro lado, a entrevista, se muito me diz, e com ela reflicto e aprendo[1], não  atenua (bem pelo contrário) as preocupações pela ausência de alerta para o que pode estar para vir, para o que me esfalfo, por outras paragens e comentários, a fazer contas que desejava úteis.
E, se é certíssima a assumpção da centralidade da AR na legislatura que acaba, esta centralidade pode ficar inquinada com resultados que exijam o reforço de outras centralidades.

A propósito, nesta edição do Expresso, calhou-me (é o caso… desafiado pelo título) ler texto de Ricardo Costa de onde retiro parágrafo que será oportuno (ou não) comentar :

“O raciocínio de Boris Johnson é simples e, na origem, correto: a democracia representativa decidiu dar a palavra à democracia direta num referendo em 2016; agora tem de consumar a vontade popular” (Lenine chegou a St. Pancras, pg. 40 do Expresso).

As mangas para que daria este pano…:
·       “a democracia representativa decidiu…
o   … mas a democracia (para ser democracia…) não tem de ser representativa E PARTICIPATIVA?;
·       “(dar a palavra) à democracia direta num referendo…”
o   … mas a democracia directa é o mesmo que democracia participativa?, e o referendo é única forma (e redutora) da democracia que não é a representativa?
·       “agora tem de consumar a vontade popular.”
o   … e quantas vezes a democracia representativa, depois de decidir (!) dar a palavra (!) à democracia participativa, só assume o que esta decide (!) desde que seja o que ela já antes assumiu… antes de dar a palavra.
O que  se chama a isto? Democracia? SEM ASPAS?


[1] - e começam, hoje, os debates entre as figuras cimeiras dos partidos e coligações candidatas, fazendo esquecer que se elegem deputados por 22 círculos eleitorais, debates em que muito menos se aprende e menos se encontra matéria para reflectir (sobre o que importa, é urgente!, reflectir e aprender).

1 comentário:

Olinda disse...

Gostei !É sempre com muita alegria quando tomo conhecimento que ainda existem profissionais que respeitam quem deve ser respeitado,que a honestidade é um valor intrínseco de quem defende um jornalismo sério.Obrigada,camarada,foi um bom trabalho,de revolucionário!Bjo