segunda-feira, dezembro 14, 2020

Seja clara!

 

Mensagem subliminar em prova prática

de autoria de conspiradora teórica

 

A jornalista Clara Ferreira Alves (CFA) tem, pelos serviços que presta e a quem, uma enormíssima responsabilidade cívica. Choca por isso a leviandade com que emite opiniões que, sabe-se, têm enorme divulgação. Mas, dir-se-á, são opiniões, e não é por se ser jornalista que se fica inibido de ter opiniões e de as exprimir à sua maneira.

No entanto, pode causar estranheza, ou até considerar negativo que, na apreciação de figuras públicas, se utilizem critérios que melhor estariam em confissões de alcova ou de romance cor-de-rosa como a de que um determinado protagonista político tem (ou tinha) “olhos azuis de aço afiado e magnetizado pelo chamado carisma”. Mas vá lá… pode remeter-se para uma questão de estilo. E o estilo é o homem… ou a mulher.

Ganha outra dimensão social se a prosa que se publica intenta tratar de tema da maior gravidade como foi um acidente (se acidente foi) que motivou a morte de 7 seres humanos, entre eles esse político e de 6 seus companheiros de viagem, entre eles um outro tinha elevadíssimas posições no aparelho de Estado, e fazer desse tratamento um esquisso de ensaio sobre teoria da conspiração.

Com o título Os mortos de Camarate e uma frase de chamada com esta importância para definir o tema do textoImaginar que foi atentado significa atestar que o Estado de direito falhou, a justiça falhou. O encobrimento venceu. Teorias da conspiração cada um tem a sua.”, deveria esperar-se um texto de enorme seriedade, apesar da possível atenuante da quase contradição de cada um poder ter a sua teoria da conspiração, como se fosse… “à escolha do freguês”.

É bem verdade que essa frase de chamada reflecte a lamentável e inaceitável posição do Presidente da República que, em posição pública sugere tudo o que CFA colocou na frase. E mais, o PdaR vai tão longe, ou tão abaixo da sua função, que afirma ter o que seria uma sua teoria da conspiração. No exercício do mais alto cargo do referido Estado de direito, o PdaR tem o dever de defesa e cumprimento da Constituição e não pode referir opinião pessoal (que qualquer um pode ter) sem que a leve até à comprovação. Na impossibilitasse, ou calar essa opinião ou dizer porque não a pode levar à prática.

A jornalista e editorialista não pega por essa ponta que enunciou em cabeçalho, pega pela outra (também enunciada) da sua/dela teoria da conspiração ilustrada com o caso Dominique Strauss-Kahn (DS-K), mais como manobra de diversão que introdução. É que, além do caso ser longe (em quilómetros) do nosso Estado de direito, que é o que está em causa, não meteu morte de homem (ou de mulher) e muito menos de 7 homens e mulheres! Ou até nisso deveremos demitir-nos da nossa soberania, e entregar a questão a Bruxelas se não a queremos encerrar?!

Passado o átrio de introdução ou diversão, CFA entra em Camarate e seus mortos e faz-se esquecida de que está a expor uma sua teoria de conspiração para se debruçar sobre o contexto em que se deu o acidente (se acidente foi, insisto porque outros insistem na dúvida e sinto-me em puro estado virgem de teorias de conspiração).

O desenho da situação nas vésperas do dia das eleições de 1980 que é feito por CFA é o seu, e apenas diria que cada um tem o seu desenho e o meu não coincide com o dela. O que é natural, e não tem nada de estranho. O que me traz à escrita, e nos deve trazer à reflexão é, veja-se lá, apenas uma palavra, um adjectivo, colocado como se nada fosse, como se não tivesse importância, como se fosse consensual: perigosíssimo!

A frase é esta: Na sombra, apoiado por Moscovo, o brilhante e perigosíssimo Álvaro Cunhal ainda esperava a hora de derrotar o 25 de Novembro de 1975.”


Mesmo quem pouco conheça (para além da “bengala” da wikipédia) da pseudociência de mensagens subliminares e de teorias da conspiração, não terá grandes dúvidas em descortinar que CFA fez um inqualificável exercício ou prova prática nessa área[1]. O que, no mínimo e com poupança de adjectivações, se considera execrável é a utilização de um facto histórico a exigir clareza (num Estado de direito) para a elaboração de um texto em que se mistura muito informação e opinião que se aceita ainda que deslocada para elaborar uma subliminar ficção em que há um carismático de olhos azuis de aço afiado e magnético vítima de brilhante e perigosíssimo (o superlativo é denunciador), que manobrava encoberto na sombra, e apoiado por forças do Mal, e esperava a hora da vingança de acto, data, responsáveis, que o tinham derrotado.

Poder-se-á argumentar que esta é interpretação eivada de complexos de perseguição. Noutra perspectiva e contra-argumentação, diria que não são complexos mas efectiva e muito real luta de classes.


[1] - o que uma inexcedível tentativa ou incasável esforço de compreensão e tolerância poderá considerar como talvez não consciente ou intencional

3 comentários:

Maria disse...

Eu já não consigo ler nem ouvir esta CFA. E tenho pena, mas é visceral.
Abraço.

Olinda disse...

Teoria da conspiração a rondar a loucura!Bjo

Adalberto disse...

Tudo resumido, e bem, no último parágrafo. Deixo no entanto um reparo, jornalista não é um título académico, ou se é ou se não é, e decididamente a senhorinha há muito deixou de o ser.