- Nº 2509 (2021/12/30)
Duas décadas de notas e moedas de euros - a realidade desmente a propaganda
No primeiro dia de 2022 passarão 20 anos desde a entrada em circulação das notas e moedas de euros, momento em que a esmagadora maioria da população passou a ter um contacto mais directo com o euro.
A adesão de Portugal à moeda única dera-se, todavia, em 1999, quando deixámos, de facto, de ter uma moeda própria. Os escudos que durante três anos ainda trouxemos nas carteiras não representavam senão uma fração do euro, nele convertíveis a partir de uma taxa fixa, inalterável. Não foi preciso muito tempo para que a prática quotidiana viesse desmentir inapelavelmente as promessas que andaram a fazer ao povo português.
A realidade desfez a propaganda dos arautos da moeda única e do «pelotão da frente» - PS, PSD e CDS. Ficou a amarga confirmação dos alertas atempadamente feitos pelo PCP.
Prometeram a convergência com os países mais desenvolvidos da UE. A realidade, porém, trouxe-nos a divergência económica e social, que se acentua a cada nova crise.
Prometeram a melhoria dos salários e do poder de compra. Tendo a mesma moeda dos alemães, diziam os mais afoitos, passaríamos um dia a ter também os seus salários. A realidade, porém, trouxe-nos a degradação dos salários e do poder de compra. Em Portugal, o Governo PS impôs para 2022 um salário mínimo de 705 euros. Na Alemanha, o salário mínimo atingirá os 2000 euros. Em Portugal, o salário médio está pouco acima dos 1000 euros. A média da Zona Euro eleva-se acima dos 1900.
Os preços de bens e serviços essenciais, esses, diferem menos do que os salários. A prometida baixa inflação não evitou que o poder de compra fosse corroído por «actualizações» salariais quase sempre abaixo da inflação. É este o resultado da «moderação salarial» imposta pelo euro.
Prometeram mais investimento. A realidade, porém, trouxe-nos um brutal desinvestimento, desindustrialização, terciarização e financeirização da economia, desnacionalização de empresas estratégicas, uma explosão do endividamento externo. Foi com o euro que a banca (privada) se converteu num gigantesco sorvedouro de recursos públicos. Consolidou-se uma divisão do trabalho no espaço da UE desfavorável a Portugal. Os capitais, com a sua circulação lubrificada pelo euro, voaram para as economias de maior produtividade. Para os outros sobraram as migalhas do investimento e mesmo estas sob exigências de «domesticação» da mão-de-obra (que se quer barata e «flexível») e de chorudos benefícios à conta de recursos públicos. As restrições ao investimento público impostas pelo pacto de estabilidade e seus sucedâneos – governação económica, semestre europeu, tratado orçamental – provocaram o subfinanciamento crónico dos serviços públicos, impulsionaram a sua privatização e degradaram as funções sociais do Estado.
Prometeram crescimento económico, mais e melhor emprego. A realidade, porém, trouxe-nos estagnação económica, desemprego mais elevado, maior precariedade, emigração dos mais jovens.
O euro não foi feito para Portugal, para melhorar a capacidade produtiva nacional e os salários dos portugueses.
O euro foi feito à medida das necessidades e dos interesses da Alemanha e de algumas outras potências europeias, dos seus grupos económicos e financeiros, da sua vocação exportadora.
O euro promoveu uma redistribuição do rendimento nacional a favor do capital, em desfavor do trabalho.
Os constrangimentos associados ao euro não desapareceram com a chamada «reforma da Zona Euro». De certa forma, agravaram-se. Estão hoje presentes nos principais problemas que os trabalhadores, o povo e o País enfrentam: nos baixos salários e pensões, na insuficiente protecção social, na degradação dos serviços públicos, na emigração da força de trabalho, na debilitação do aparelho produtivo nacional e na sua fixação em torno de um modelo assente numa fraca especialização e em baixos salários.
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