quinta-feira, março 18, 2010

Reflexões... lentas - sobre ética na política e moral na economia

... noutros termos, carecerá de fundamentação uma "ética do político", por esta ser substituída por diferentes ontologias de políticos, ou seja, ser político não consiste em uma maneira definida de ser, identificada pela materialidade de um estatuto ou de uma posição institucional. Um político social-democrata teria uma ética que não coincide com a ética de um político comunista porque, enquanto políticos, são ontologicamente diferentes, porque o são ideologicamente.

... ainda noutros termos, e sobre outro tema, o da moral na economia, é preciso logo acrescentar que há mais que uma economia, que há economias familiares, economias regionais, economias nacionais, a dita europeia, a global... E há uma moral própria da economia? De qual? Da do detentor dos meios de produção ou da dos seres humanos que lhe vendem a sua força de trabalho? Da dos que arrecadam mais-valias (de toda a origem... etimológica) e dos que recebem chorudísssimos prémios por servirem o capital financeiro(mesmo quando abusam e caem nas larguíssimas malhas das suas leis)? Ou da dos seres humanos que têm carências (até frio e fome, hoje!), que têm os salários, primeiro contidos, depois congelados, a seguir estagnados, por fim em causa, da economia dos que estão no desemprego ou tudo aceitam sob o cutelo desta ameaça?
Escreva-se (ou leia-se) sobre... economia política enquanto ciência da produção de riqueza (das nações...). Aproveitem-se os Manuscritos de 1844: «A moral da economia política é o ganho, o trabalho, a parcimônia, a sobriedade e - no entanto, a economia política promete satisfazer as minhas necessidades.»
E mais e melhor se dizia que o que há é uma economia política da moral, que seria «a riqueza em boa consciência, em virtude, etc.,» logo se perguntando como poderia ser virtuoso quem não tivesse condições dignas para estar vivo e como poderia ter uma boa consciência quem nada sabe e é mantido na ignorância ou na mentira? Aliás, havendo uma economia política da moral, a Moral não quereria ter contas com a Economia Política.
Como escrevia Marx, essa Dona Moral, e uma outra "senhora", a Dona Religião, são apenas primas afastadas da tal Dona Economia Política.
Tudo em duas frases:
  • "a minha moral e a minha religião não têm nada a objectar do ponto de vista económico... só tem a ver com os direitos humanos."
  • "a minha política é o trabalho!... ou o desemprego..."

8 comentários:

aferreira disse...

--Ora bem.
Somos todos irmões mas, cada um trata de comer o melhor que pode o seu semelhante. -Mas cuidadinho, se o parente pobre levanta a tola - logo lhe deves cair em cima com os teus direitos de exploração dos outros humanos.

José Rodrigues disse...

E não há também uma outra prima,afastada ou próxima, que se dá pelo nome de Justiça? De Classe?!...

aferreira disse...

-A conversa não é comigo.Mas... atrevido como sou, lá vou meter a colherada

-Justiça? -Que é isso de Justiça?
-É uma nova deusa?

Justine disse...

Excelente reflexão - que, prevejo, irá dar "pano para mangas" e muito trabalho para casa...:))

samuel disse...

Triste... quando a ética se arrasta penosamente por comissões parlamentares e a moral "que interessa" é imposta.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Gostei muito do teu post e da maneira simples mas compreensível como apresentas os problemas.
Obrigada e um beijo.

Antuã disse...

Não me digas que a Minha política é o trabalho que me faz lembrar esse Jorge Coelho que jamais viveu da política.

Maria disse...

É uma excelente reflexão! E tão clara...

Beijo.