Cotações. A converseta sobre se fulano é um político profissional ou o raio que o parta não tem qualquer sentido que decorra de juízo discernido. Um gajo até pode beneficiar de uma regalia qualquer por ter sido senhor primeiro-ministro durante dois lustros que, venham quantas porras vierem, isso não faz desse gajo um político profissional. Ele até pode não saber mastigar bolo-rei, balbuciar migalhas, ser marido da senhora sua esposa e ter tido como ministro, em governos por si presididos, o senhor dr. Fernando Nogueira; não é isso que define um político profissional. Em democracia, político profissional é coisa que, assim como assim, não existe. Aliás, o conceito é tosco e canhestro. E, no mínimo, é estranho que seja pronunciado por quem alardeia a respectiva formação humanista, em filosofia e história, e supostamente tem uma concepção estruturada de democracia. Na classificação nacional de profissões haverá algo aproximado, mas não equivalente. Titular de cargo político. Mas isso não faz da missão política uma profissão. Quanto muito uma ocupação. Precária. Porque um gajo não é político nos mesmos e exactos termos em que é vendedor de bolas de berlim entre as dunas e os areais ou menina de alterne. A nobreza dos métiers até pode ser de semelhante calibre. Mas um gajo não é político apenas porque lhe apeteceu ou lhe deu na real gana. Não, não. Padecendo de vontade conforme, um gajo é político apenas depois de ter sido ou eleito ou nomeado. Daí que, neste caso concreto, no cálculo e no sorteio a quem se deve emprestar a honra de chefe de Estado, o que é relevante, quanto muito, é aferir em que proporção os senhores candidatos a senhor presidente da República vivem para a política e vivem da política. E por estes parâmetros, a galeria dos cinco horrores, todos potenciais membros da família Adams, vale o que vale e não é necessário desperdiçar mais prosa. Nicky Florentino.
(de Albergue dos danados)
Onde se fez o comentário que segue e serve de indispensável ressalva de-ontologia:
Um texto excelente, de antologia... até às penúltimas e últimas linhas.
Porquê essa preocupação (obsessão?) de meter todos o mesmo saco quando são, evidentemente, de sacos diferentes?
Como dizem os brasileiros... "não há saco"!
anónimo do sec.xxi
2 comentários:
Pois, pois...Estava a ler e pensei "sou eu que devo ter percebido mal." Afinal não. Os pontos voltaram aos ii.
Pois é... é preciso ler sempre tudo até ao fim.
É como no futebol: o jogo tem 90 minutos!
E assinalo-te, querida redcat, que aquele nicky é um tipo porreiro... só tem aquela coisa de pender para o cinismo e não estar treinado a perspectivar a história como sendo uma luta de classes. Enquanto.
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