sexta-feira, maio 19, 2006

Em 19 de Agosto de 2005, publicámos este post: Sobre Luandino Vieira - Alguma irritação e uma moderada indignação


Por razões várias e algumas pessoais, acompanho a vida (e a obra) de Luandino Vieira há muitas décadas. Mais de 40!
Estávamos presos, ele no Tarrafal e eu no Aljube em trânsito para Caxias, quando soube (ou confirmei) que ele existia, como escritor e como preso político tal como eu o era. Com o pormenor, não sei bem ao certo quando conhecido por mim, de que Luandino Vieira – José Vieira Mateus da Graça – era natural da “minha terra” que, afinal, não é aquela onde eu nasci – Vila Nova de Ourém – mas aquela onde ele nascera. Nascidos os dois no mesmo ano de 1935, ele em 5 de Maio e eu em 21 de Dezembro.
Ido com meses para Angola, luandino se tornou enquanto crescia, e cedo aderiu à luta pela independência do País que passou a considerar seu. A sua obra publicada começou em 1957, na revista Cultura, e teve textos editados pela Casa dos Estudantes do Império que me levaram a conhecê-lo (ou pré-conhecer) e Luuanda foi escrito na prisão, entre Luanda e o Tarrafal.
Foi livro que muito me impressionou por ter começado a fazer o que nenhum outro escritor em língua portuguesa fez como ele, embora muitos tenham tentado e alguns com muito bons resultados, do ponto de vista literário: usar uma espécie de bilinguismo, fazendo coexistir o português-língua oficial com as línguas digamos naturais. Eram contos e novelas em que esse bilinguismo reflectia, na literatura, nas histórias muito bem contadas, muito densas de humanidade, muito cheias de gente de Luanda, as contradições e tensões de uma ocupação colonial “à portuguesa” que, por ser “à portuguesa”, não era menos colonial.
Em 1964, Luuanda recebeu um prémio literário em Angola, e em 1965, o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores.
O que deu origem a um dos maiores escândalos políticos da década de 60, por todas as reacções que provocou e pelas repercussões que teve. O governo fechou, brutalmente, a Sociedade Portuguesa de Escritores, perseguiu membros do júri e escritores que reagiram e afirmaram solidariedade, conseguiu alguns raros e pusilânimes apoios que chegaram à baixeza de diminuírem a qualidade literária da obra premiada. Foi um caso!
E se assim foi em meados da década de 60, já com o autor em liberdade – bem condicionada pois tinha residência fixa em Lisboa com a única possibilidade de se deslocar a Vila Nova de Ourém, devidamente autorizado!, para visitar os seus pais – uma edição de 1972, pelas Edições 70, onde Luandino trabalhava, foi apreendida motivando um recurso jurídico, com o suporte da avaliação de qualidade literária assinada por Jorge de Sena e Ferreira de Castro.

Por tudo isto, a alguma irritação minha e a minha calma indignação quando na badana da última edição de obra de Luandino Vieira, Macandumba, da Editorial Caminho, Lisboa, por cortesia da Editorial Nzila, Luanda, (e atmbém na nota sobre o autor na net) vi esquecida a referência à terra onde nasceu Luandino Vieira e de que nunca cortou totalmente as ligações, e li que “…foi libertado em 1972, em regime de liberdade vigiada em Lisboa. Iniciou então a publicação da sua obra…” sem qualquer referência a Luuanda e a tudo o que este livro representou – e representa! – na vida literária, política, social portuguesa e angolana.

Fica, também, como protesto a tornar público.

Hoje, 19 de Maio de 2006, retomamo-lo com a grande alegria pela atribuição do Prémio Camões a Luandino Vieira!

5 comentários:

Margarida Bonvalot disse...

Ainda não vi a edição da Ed. Caminho de que fala, mas subscrevo a sua indignação. Com veemência.

Pedro Figueiredo disse...

40 de'cadas? :)

Anónimo disse...

Bem apanhado!
Eu escrevi:"Há mais de 40 anos!" mas os "anos" perderam-se não sei em que passagem computadorizada...
De qualquer modo, gostei da caça da gralha...
Obrigado, Pedro!

Anónimo disse...

Quando ouvi a notícia, fiquei muito feliz!
Gostei muito do romance “A verdadeira vida de Domingos Xavier” e “Macandumba”. De realçar a capa dos livros (para mim) são verdadeiras obras de arte!

GR

Anónimo disse...

ola sergio!que bom reencontar um amigo que ainda se lembra do XEXE.E ainda se lembrara da Linda, em Ourem e em Luanda na magnifica Marginal. Hoje mesmo estive com o Jose Luandino. Na proxima semana voltaremos a vernos e ja falaremos de ti...ABRS