Um amigo, muito ligado a Ourém, mandou-nos este seu poema, já publicado na revista Seara Nova. Não o publicamos como comentário porque consideramos merecer maior relevo. Obrigado.
TORTURA
A todos aqueles que heroicamente suportaram os horrores da PIDE
Não! Não me apontem ao peito as lanças do medo!
Prefiro morrer no lodo de uma sarjeta
do que esfaquear a esperança que me alimenta a fome de viver!
Se for preciso para calar a dor
eu grito ...
Se for preciso vazar-me de raiva
eu volto a gritar...
Mas em caso algum sairei do meu espaço
para viver na cloaca do vosso subterrâneo!
Não me façam esperar as noites de espanto
que eu não falo ...
Não ladrem raivosos os latidos do medo
que eu não digo ...
Não dancem à minha volta de punhos soltos,
nem fiquem parados a olhar a sombra da minha estátua de carne viva
que eu não sinto os chocalhos do vosso riso!...
Estou de pé do lado de lá (as grades da prisão não amarram o meu sonho nem as vossas garras seguram o meu querer)
na companhia dorida de companheiros distantes
que esperam de mim a boca muda do silêncio
e a força tenaz que um dia vos vencerá ...
Já não tenho carne nem ossos para moer,
nem sangue para verter ...
Agora, sou o granito duro e firme do vosso desespero
de não me verem sofrer!...
Prefiro morrer no lodo de uma sarjeta
do que esfaquear a esperança que me alimenta a fome de viver!
Se for preciso para calar a dor
eu grito ...
Se for preciso vazar-me de raiva
eu volto a gritar...
Mas em caso algum sairei do meu espaço
para viver na cloaca do vosso subterrâneo!
Não me façam esperar as noites de espanto
que eu não falo ...
Não ladrem raivosos os latidos do medo
que eu não digo ...
Não dancem à minha volta de punhos soltos,
nem fiquem parados a olhar a sombra da minha estátua de carne viva
que eu não sinto os chocalhos do vosso riso!...
Estou de pé do lado de lá (as grades da prisão não amarram o meu sonho nem as vossas garras seguram o meu querer)
na companhia dorida de companheiros distantes
que esperam de mim a boca muda do silêncio
e a força tenaz que um dia vos vencerá ...
Já não tenho carne nem ossos para moer,
nem sangue para verter ...
Agora, sou o granito duro e firme do vosso desespero
de não me verem sofrer!...
Alexandre de Castro
Lisboa, Março de 1985
Lisboa, Março de 1985
4 comentários:
Poema lindíssimo.
Quanto força nos dá a sua leitura, quanta alegria me deu vê-lo postado aqui, sei que vai ser visto por muita gente.
Obrigada, Camarada!
Este poema comovente é, tão forte, tão belo!
Este poema é, um hino à coragem dos Resistentes!
Um hino à tua coragem Sérgio e de tantos outros Resistentes!
Estou a terminar o livro «Dossier Tarrafal». Fui ler o significado de «Calejão», “Local sem instalações sanitárias e com ratazanas em abundância igualmente destinado a presos sujeitos a castigo, em geral castigos colectivos”
Querem fazer crer que não houve fascismo em Portugal!
Fascismo nunca mais!
GR
É destes poemas que eu gosto! Haverá algo de mais poético, de mais belo, de mais estético, como se costuma dizer, do que a expressão da vida, da luta da vida contra a morte numa composição poética como esta?
Vida autêntica a de quem luta sem qualquer recompensa em troca a não ser a vida ela mesma e a convicção da construção de uma nova sociedade.
A vida dos resistentes antifascistas de ontem, dos comunistas de hoje e dos muitos mais camaradas do futuro como súmula da gloriosa vida futura liberta do nojo, da vassalagem, da porca e vil condição de vida que a burguesia quer incutir e inculcar em toda a gente, dos assassinatos, da barbárie imperialista mais abjecta e mais sanguinária.
Basicamente, é da luta da Vida contra o lado mais sombrio do capitalismo - o fascismo - que trata este belo poema!
Em forma de link aqui fica também a minha homenagem aos Heróis, ao Alexandre de Castro.
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