quinta-feira, novembro 23, 2006

De um livro (que não escreverei) com um único leitor (que não serei)

Eu queria ter nascido nesta casa.
Naquele quarto onde meu pai nasceu, e por onde começo as "visitas guiadas" para os que são "primeiras visitas" dizendo, quase declamando: "neste quarto, nasceu o meu pai em 21 de Janeiro de 1898".
Aqui, onde estão as raízes que fiz minhas mas onde não nasci, gostaria de ter nascido e aqui gostaria de ter "andado à escola", ido aos pássaros, descoberto os "seios crescendo debaixo da blusas", sacholado umas leiras, pontapeado bolas de trapo ou bexigas de porco. Gostaria de ter vivido todo o tempo o que só vivia nas fugidias férias de "menino da cidade" que lá nascera e por lá vivia.
E tenho as memórias do que fui contrastadas com as memórias do que queria ter sido. O romance que escreveria com elas! Para o único leitor que eu seria.

Sérgio Ribeiro

5 comentários:

Anónimo disse...

As tuas raízes estão lá!
Em cada quarto, em cada canto.
As tuas memórias, estão lá!
Em cada olhar, no ranger do chão, na fragrância de cada estação!
Viveste todo o tempo na casa grande e lá permaneces!
Juntas-te a memória à saudade e começou (talvez) um romance!!!

Lindíssima casa!

GR

Anónimo disse...

Faço minhas, com todo o descaramento, as belíssimas palavras de gr.Além disso, a minha mamória está povoada de recordações vividas por esses sítios e, posso dizer, embora pareça contraditório,que são das melhores que guardo daquele tempo cinzento. Por isso, por favor,não deixes de escrever.

Anónimo disse...

Já agora acrescento que sou a "campaniça" isto é, a Mariana.
E não é "mamória" nem má memória,mas sim memória e da boa.

Rosa dos Ventos disse...

Belo texto cheio de intimismo!
Um abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado.
A minha casa é vossa...