Do Aljube fui para Caxias, por lá fiquei uns tempos e de lá saí, depois de julgamento e outras fascistas encenações. Trazia a intenção de comprar o alguns dos livros que tanto me tinham ajudado a passar aqueles difíceis dias e meses, e que lera por empréstimo, entre eles e antes de todos, o No cavalo de pau...
Passaram anos (mais de 42!) e, apesar de por vezes desesperada procura, em nenhum lado achei o livro. Esgotado e não reeditável (porquê?!).
Até que, neste último fim de semana, passeando pelo Porto o regresso do hóquei em Viana do Castelo, entrámos num alfarrabista na Rua da Flores e lá perguntei pelo cavalo de pau com Sancho Pança. Nada e, na conversa, a ideia de que nem pensar.
Saímos desse alfarrabista, eu triste mas resignado (é como quem diz...), e calhou estar logo ali ao lado um outro alfarrabista onde estrámos e eu repeti a pergunta desesperançada. Então não é que sim, senhor... temos aí um exemplar?!. E que exemplar!: 1ª edição (julgo que única), de 1960, numerado (nº 93) e com a assinatura de Mestre Aquilino.
Escusado será dizer que ficámos à conversa com todo o pessoal do alfarrabista (simpatiquíssimo e com um amor à profissão impressionante), atrasámos o resto do programa, e só dali fui arrancado à força...
Que grande alegria! Agora, estou a inventar tempo para ler o "pequeno" ensaio, de 336 páginas, e estou a abrir as páginas com uma faca bem afiada, naquele gozo antes-da-leitura que as nossas edições actuais deixaram de nos proporcionar.
3 comentários:
Lindo texto!
Muita emoção do princípio ao fim! Acho graça, banalizas na narração a passagem pelo Aljube e Caxias, em prol de um livro! Claro que não é um livro qualquer! Que melhor companhia na solidão forçada que um bom livro?
Depois a frustração, o vazio de não se conseguir encontrar “AQUELE” livro. Quantos segredos, pensamentos, dor, recordações sentirás agora, ao lê-lo. Quanta felicidade irás encontrar ao desfolhar, ao sentir novamente “AQUELE” livro!
Claro, na rua das Flores há muitos Alfarrabistas, por vezes visito o Chaminé, falta-me é o dinheiro, porque primeiras edições de grandes romancistas, não faltam. Os Alfarrabistas do Porto mesmo que não se compre nada, é um prazer poder entrar e não só têm livros como relógios belíssimos, gramofones, canetas … e muitas horas de conversa. A minha última compra foi de Rómulo de Carvalho “História da Fotografia” de 1952. Muito interessante, este pequeno livro. Apesar de não gostar do Rómulo de Carvalho e adorar e respeitar o António Gedeão!
Boa e feliz leitura!
GR
Obrigado pelo teu comentário, amiga GR.
Já aqui tinha deixado o agradecimento mas, verifico agora, perdeu-se ...
Dizia-te nele que foi mesmo no Chaminé do Mota (que parece o nome de um tasco..) que comprei o No cavalo de pau.
Dizia-te mais coisas que, agora, não sou capaz de reconstituir, mas que não seriam mais do que este agradecimento pelo teu apoio constante e sobre o encantamento que trouxe da Rua das Flores e do Chaminé...
Que felicidade,
ter um livro para ler
( e o gozo fininho de o abrir com o abre-cartas...)
Fico muito satisfeito por si!
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