quinta-feira, abril 23, 2009

Uma efeméride!

Foi por acaso que vi:
O Decreto-Lei n.º 26 539, de 23 de Abril de 1936 criou o Campo de Concentração do Tarrafal, em Chão Bom, no concelho do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.
Em 18 de Outubro de 1936 partiram de Lisboa os primeiros 152 presos. Com a chegada destes, o Campo da Morte Lenta começou a funcionar em 29 de Outubro de 1936.
Ali morreram 32 prisioneiros, entre eles, em 1942, Bento Gonçalves, secretário-geral do Partido Comunista Português, com 40 anos, depois de muitas prisões e desde 1936 no Tarrafal.

7 comentários:

Bruno disse...

O wikipedia em inglês diz isto:

"Tarrafal (also known as Campo da Morte Lenta, "Camp of the Slow Death") was a concentration camp in the Cape Verde Islands, then a Portuguese colony, set up by the dictator Salazar before the Second World War (1936) where anti-fascist opponents of this right-wing regime were sent.".


Desconhecia que lhe chamavam também "Campo da Morte Lenta".

Vai de encontro a algo que tenho tentado confirmar. Que os regimes fascistas - ao contrário dos regimes socialistas, ditos totalitários - fazem culto à morte. Embora neste exemplo o nome não deverá ter sido empregue pela malta do regime... ou foi?


Sobre isto, João V. Aguiar escreveu:
http://asvinhasdaira.wordpress.com/2009/03/16/comunismo-e-fascismo-uma-critica-das-teses-dominantes/

"2) Num âmbito ideológico, no movimento comunista não há um único exemplo de apelos do género: “Somente a guerra pode levar todas as energias humanas à máxima tensão” (Mussolini); “Só gostamos do sangue quando o vemos jorrar das artérias” (Marinetti, poeta futurista e apoiante do fascismo italiano); “Talvez a morte seja o único acontecimento da vida” (Margenrot, filme de Gustavo Ucicky projectado em Berlim 3 dias depois da nomeação de Hitler como chanceler e assistido e aplaudido por este); “O mais belo aspecto da vida é a morte” (Corneliu Condreanu, líder fascista romeno); “Viva la muerte” (general franquista Millán Astray)., etc."

Sérgio Ribeiro disse...

A designação de Campo da Morte Lenta não foi dada pelo fascismo... mas resulta de os prisioneiros terem sido recebido, pelo chefe dos carcereiros, com expressões como "vocês vieram para aqui para morrerem" e parecidas expressões-cultos (ou culturas?...) da morte. E muitos morreram, lentamente, de picadas de mosquito e outras doenças a que foram destinados com a deportação para aquele lugar.
Reajo negativamente à designação de totalitários como pressuposto para os regimes socialistas, ainda que amaciada por "ditos totalitários" (está lá a subliminar - explícita, se isto não é contraditório... - mensagem).

É muito interessante a anotação de João V. Aguiar. E, acho eu, comprovativa de uma coerência ideológica: socialismo é futuro, é vida a viver, ou a ser vivida no futuro.

Saudações.

Bruno disse...

Obrigado pela resposta. Ela ajudou-me a alargar a perspectiva sobre este pormenor acerca do Tarrafal.

Quanto à expressões "regimes socialistas" e "totalitários":
na minha perspectiva não faz sentido essas duas expressões serem dadas como sinónimos, e muito menos que o totalitarismo seja pressuposto dos regimes socialistas.
As minhas palavras, no comentário anterior, não estão em conformidade com o que pretendia ter escrito.

Anónimo disse...

Aprendo muito neste blogue, por isso estou sempre cá "caída".
Hoje,mais uma vez, verifiquei que a aprendizagem se faz de muitas maneiras. A meu ver, os principais ingredientes são a honestidade e a frontalidade, tanto nas perguntas como nas respostas. O Bruno e o Sérgio deram-me duas grandes lições. E, não sei porquê, comoveram~me.

Campaniça

Justine disse...

E lá estaremos, a recordar, daqui a uma semana:))

olga disse...

Pois é, devemos todos os anos comemorar com muito afinco a Revolução dos Cravos para lembrar a todos aquilo que muitos tentam esquecer ou apagar.
Um dos primeiros livros que li foi exactamente o "Tarrafal Campo da Morte Lenta", lembro-me que o meu pai me apanhou a ler aquilo e ficou chocado visto eu ter apenas 10 anos, fiz-lhe uma série de perguntas pois o livro era dele, e respondeu-me a todas sem me esconder nada.
Vivo numa aldeia (A-dos-Loucos)que tem muitos ex.presos politicos, muitos deles muito chegados a mim, inclusive o meu pai e a minha mãe estavam para ser presos quando felizmente se deu o 25 de Abril,conheço bem a realidade de Peniche e Caxias, desde sempre que ouço histórias na 1ª pessoa, uma das coisas que mais me comoveu até hoje foi quando tinha 12 anos que assisti a uma visita guiada pelo camarada Álvaro no Forte de Peniche, nunca hei-de esquecer!
Recomendo a toda a nossa juventude que se inteire do que foi a ditadura em Portugal, para que nunca mais haja a remota possibilidade de voltar a acontecer.

Sérgio Ribeiro disse...

Bruno - um abraço.

Campaniça - olá! É tão bom comovermo-nos... e há, por estes dias, tantos motivos.

Justine - viva, vizinha! Vai ser bom, voltar a Cabo Verde é sempre bom. Ir ao Tarrafal é, sempre, renovar forças com o exemplo lembrado.

Olga - a Alice tem a quem sair na precocidade! Aos 10 anos a leres livros desses?! Só quem tem pais com livros desses. Cada vez desejo mais ir visitar-vos.

Abreijos