sábado, março 09, 2013

“questões de moral”-10 – falemos então de salários

Peguemos num salário. Mal acomparado, como Gedeão fez com a lágrima de preta.
Antes de mandar vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais que “políticos” como Passos Coelho e “economistas” iguais a António Borges e banqueiros como Ulrich e muitos mais manipulam para multiplicar os capitais, observemos que há duas maneiras de lhe pegar.

1. Uma, a destes, com o pré-conceito (os antolhos, que é outro modo de dizer a ideologia, o pensamento único seu) de que o salário é um custo, igual aos outros das suas cont(h)abilidades feitas pelos seus cont(h)habilidosos mas, também, diferente porque é, de todos os custos, o que mais julgam poder diminuir, comprimir, reduzir ao que mantenha vivo e produtivo e competitivo o continente do “factor de produção” (ou de distribuição) a que é pago esse custo, o trabalhador. Aliás, dizem e repetem e até convencem, sempre propenso a exagerar, a querer viver acima das suas/dele possibilidades.
Diga-se, ainda, que alguns destes sabem mais. Porque leram todo o Marx na creche, ou em livros da estante dos esoterismos, sabem que há coisas que se chamam mais-valia e que todo o lucro material nasce do tempo de trabalho não pago e que, por e para tanto, é tudo como os vasos comunicantes, quanto mais se baixa nos salários mais sobe o lucro, e este só da fome daquele se alimenta e engorda.

2. Outra maneira é a dos possuidores dessa mercadoria, e que contra salário a vendem. Por isso lhe pegam como o seu rendimento, o que está nos antípodas do tal custo pelos “outros” considerado como seu exclusivo conceito (embora estes, depois, tenham periódicos problemas – crises lhe chamam… – porque quem produziu o que em distribuição está não tem meios para o realizar por troca com os salários de que dispõem quem produziu e distribui… mas isso é outra história). Importante para esta é sublinhar que, como rendimento, é com o salário que os trabalhadores têm acesso àquilo com que satisfazem as suas necessidades, com que compram os melões como se diz popularmente, sendo estes exemplo da matéria com que matam a fome. Mas há outras necessidades, sempre crescentes e novas. Porque o que ontem não o era, hoje o é. Os auto-móveis e os electro-domésticos, por exemplo. Pelo que as suas “possibilidades” estão sempre dependendo (e em crescendo) do que eles próprios/trabalhadores vão criando, milénio a milénio, século a século, dia-a-dia.
Não são muitos os que o sabem. E, por isso, não sabem – todos – a força que têm, e muitos pegam no salário como algo que lhes é oferecido pelos “outros”, e quase como favor para que emprego tenham, como se ser proprietário dos meios – desde o meio-dinheiro, aos edifícios e máquinas e ferramentas – (e sabe-se lá por que bulas…) fosse, também, ser proprietário de horas de vida dos trabalhadores.

3. Por isso, enquanto uns ligam o salário a lucro, a ter como seu o que é de todos; outros ligam salário a ser, necessidades, a vida (mesmo que ainda não tenham consciência das conexões).



4 comentários:

Justine disse...

Muito didáctico - contigo aprendo sempre!

Pata Negra disse...

Boa lição! Eu, mesmo sendo burro-porco velho, vou aprendendo!...
Um abraço do meu salário

Artur Ricardo disse...

Eles (os capitalistas) e os lacaios ao seu serviço (Governo, comentadores e outros fazedores da opinião publicada) tudo fazem para que os trabalhadores não tomem consciência dessa conexão.
Mas não o conseguirão para todo o sempre, estou certo disso.
Um abraço
Artur Ricardo

Graciete Rietsch disse...

Que grande lição !!
Se o Povo tomasse consciência da sua força e as pessoas que atribuem as culpas aos que,segundo elas, gastam acima das suas posses, reconhecessem que, hoje, as necessidades são outros, talvez não fosse tão difícil prosseguir o caminho da esperança.
E também nesse sentido temos que lutar!

Um beijo.