segunda-feira, março 11, 2013

"questões de moral" - 11

Estas “questões de moral” estão a ocorrer com assiduidade. São… ondas! E a questão é se não se trata tudo,na verdade, de questões de moral. Basta ir ao dicionário e confirmar.

Ora o facto é que as ocorrências surgem sob a forma dicotómica (ou dialéctica): classes e luta entre elas, trabalho e força de trabalho, salário como custo e como rendimento, e, agora, esta do desemprego e do que chamaria tempo livre.

É com o emprego de horas da força de trabalho, trabalho vivo como capital variável, a juntar ao trabalho cristalizado, meios de produção como capital constante (que nada acrescenta se não se lhe der vida com o trabalho vivo), que se cria valor e se distribui o que foi criado. Por isso, a grande questão (moral, e segundo as morais) é a de como a sociedade assim estruturada mantém vivos os portadores de força de trabalho que não têm emprego de horas em que produzam (ou distribuam) o que satisfaz as suas necessidades. O que os mantém vivos e humanos, querendo isto dizer com usofruto dos frutos criados pelo trabalho ao longo de anos, séculos, milénios.
Quem, estando em idade activa – isto é, tendo-se preparado para tornar útil a sua força de trabalho e tendo menos que certa idade –, não está a empregar a sua força de trabalho, é desempregado e soma-se a todos os que ainda não são “activos” e aos que já não o estão, segundo uma certa moral, compondo o grupo dos que "já estão a mais” porque não produzem e se atravem a consumir (e outras coisas) porque vivos insistem em continuar.

A questão do pleno emprego (nunca total) tem decorrido destas circunstâncias, variáveis mas recorrentes. A correlação de forças sociais tem determinado como se organiza a sociedade e, no capitalismo crescido, particularmente no pós-guerra, estruturou-se o chamado "Estado social" (na esteira do mutualismo e outras solidariedades), em que se reserva parte do produzido para socorro a situações de não-trabalho (desde maternidade, formação, a doença, reforma, velhice).
Dizem agora cálculos crípticos que não chega o que foi sendo reservado, e procura-se que se esqueça o que alguns estratos escandalosamente abusam.
A esta situação e catastróficas previsões pode contrapor-se a moral do tempo livre. O que se diz desemprego pode ser visto como o resultado do ser humano se ter dispensado de esforços penosos (de enxada, foice, martelo e etc.), ter dominado (muitas vezes levianamente) a natureza de que é parte, andar sem ser apenas com as suas pernas, comunicar muito para lá da sua voz e grito. E muito mais. 
Assim o ser humano ganhou tempo livre, liberto do domínio da natureza, que as relações sociais transformaram em desemprego. Porque, se o ser humano não se tivesse tanto libertado do que era penoso, transferindo trabalho vivo para trabalho morto, cristalizado, objectos e instrumentos de trabalho, haveria mais procura de emprego da força de trabalho. A doença social do desemprego é tópica do capitalismo. Em sociedade estruturada com sentido de Humanidade, muito tempo de desemprego seria tempo de conhecer, de lazer, de cultura, de trabalhar como necessidade humana e não de venda da força de trabalho.
Num inquérito, perguntaram a um camarada meu quantas horas trabalhava por semana, e ele respondeu: “cerca de 80!... das quais 35 em que vendo força de trabalho”. Logo, digo eu, 45 horas semanais de tempo livre… a trabalhar.
Cá por mim, e na idade em que estou, não raro ultrapasso essas horas semanais de trabalho (na minha concepção)… já sem ter necessidade de vender força de trabalho. Por enquanto.

tudo isto é discutível
e para ser discutido

3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Gostei desta análise dialética(será que digo bem) das expressões emprego, força de trabalho, desemprego, ausência de trabalho produtivo e tempo livre.
Penso que assim como o trabalho é um direito, também o tempo livre o é. E pode até resultar em aumento de conhecimentos. O que eu aprendi desde que me aposentei!!!

Um beijo.

Olinda disse...

Hâ ainda outros casos que nao se enquadram
no que aqui foi exposto,e muito bem.Repara,eu sou pequena empresâria,por isso,a venda da forca (raio do cedilhado)de trabalho,nao se adapta ao conceito clâssico,para alêm das horas de trabalho excederem,quase sempre as 8 horas/semana.Hoje as condicoes existentes,nao me deixam muita disposicao,para usufruir o tempo livre.


Um beijo







GR disse...

O emprego/trabalho neste momento (em muitas empresas e instituições) está a destruir a vida dos trabalhadores. Alargamento de horários ou turnos, menos salário e muito mais trabalho diversificado, devido aos trabalhadores que foram despedidos, reformados ou deslocalizados terem o trabalho ter de ser realizado por quem ficou ou seja o trabalho terá de ser feito com menos trabalhadores. Tornando o ambiente laboral mais stressante, com a angústia diária de amanhã o trabalhador ser despedido. Sabendo o trabalhador que se for para a reforma irá passar talvez para pior, com a reforma de miséria.
O que resta de tempo livre para muitos trabalhadores não é a ocupação na cultura, no lazer é sim, o desinteresse por tudo, o medo, a tristeza. Este capitalismo selvagem roubou aos trabalhadores o futuro e a possibilidade de sonhar.

Gostei muito dest post.
E a Luta Continua!
Baixar os braços nunca!

Bjs,
GR