domingo, janeiro 05, 2014

Dias em que fomos Peniche!

03/04.01.2014

Manhãs tristes. Sob temporal. Também dentro de mim chove e venta.

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Mas eu não sou só eu, eu sou – também – todos os outros, os de antes, os de agora e os de depois.

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Dias em que não só estivemos em Peniche, em que não só fomos a Peniche.

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Dias em que fomos Peniche!

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Dias que foram do mesmo dia e do mesmo mês em 1960, e que foram de 10 de Novembro de 1913 e de 25 de Abril de 1974, em que tantos tanto fomos e que tantos fizemos dias tão nossos.

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Dias 3 e 4 de Janeiro de 2014! De chuva e ventania. De temporal. De alertas de várias cores e desastres que despertam solidariedade.

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Dias de chuva e ventania. Menos em Peniche. Em que até sol houve e nos aqueceu.

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Fomos Peniche nestes dois dias. Muitos!

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 Não todos os que o somos.

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Porque uns temeram, timoratos, as intempéries, uns perderam o autocarro (!), uns não se/nos encontraram, porque outros… porque não!

(em 60 anos de luta, edições avante!, 1982)

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Não somos, os que fomos, um grupo que sonha utopias, que está fora do tempo real, do espaço em que vive e firma os pés.

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Fomos os que sabemos e queremos que sejam, aqueles dias, dias marcados na nossa agenda histórica, e que outros se lhes somem e que faremos nossos.

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Não fomos/somos um grupo que se afirma em grito e luta apenas porque não quer o que está mas que também se afirma e conquista no espaço e em espaços em que já é poder –ainda que nunca estático, definitivo –, em que, aqui, é Poder Local.

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Dias e espaço simbólicos e reais, por nós vividos no tempo e no espaço em que somos.

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Em que, na ressaca de muitos quilómetros, de muita conversa descozida e de alguns silêncios, de muitos (imensos) encontros e abraços e beijos, de reconstituições emocionadas, de vozes e bandeiras ao alto, de duas bifanas no mesmo canto esconso povoado de gente como nós (sabê-lo-á?), em que, nestoutro tempo e espaço tão próximos, tenho o querer de escrever isto. 
  

E de isto dedicar, 
assim, com caras, corpos e nomes, 
ao Luís e ao Pedro, 
à Sara e à Yolexis 
(viva Cuba!
o exemplo e a força da solidariedade internacionalista).

9 comentários:

Pata Negra disse...

Ir a Peniche. Fugir de Peniche. Sair de casa. Entrar em Peniche. Porque foram para Peniche? Porque fugiram de Peniche? Um lar que acolhe fugitivos. Como? que importa? Mais que a porta que se arromba, importa a porta que se abre! Um abraço duma taberna de Peniche que não denúncia nem é denunciada - é esse o abraço que se encontra na sala grande de uma escola em crescimento.
Um abraço peniche

Graciete Rietsch disse...

Tão lindo o que escreveste!! Comovente.
Não fui lá por razões pessoais, mas estive lá com o meu coração e toda a minha confiança na luta e resistência de que essa fuga é testemunho.

Um beijo.

GR disse...

Peniche é, também Palavras.
As tuas! Tão belo texto.
Muitos não tendo ido, estiveram lá, outros não estando, não se perdoarão por não terem ido.
Quando queremos mesmo; a chuva não molha, o vento não sopra, o sol não queima.
Querer é poder!
Mas quando este desgoverno nos rouba os filhos, (ficamos insanos) Peniche é distante.
Saímos correndo contrariando o vento e apanhando chuva, chegando mais tarde, trocamos horários.
Vi na Tv a Recriação histórica e também a intervenção do camarada Jerónimo de Sousa.
Perdemos Peniche e o (r)encontro de Amigos, o abraços dos camaradas, a memorável iniciativa.
Começo mal o 2014!

Gd BJ,
GR

Anónimo disse...

Peniche é um romance. Gostei muito de folhear as suas páginas este fim-de-semana.
Abraço
Pedro

Teodósio disse...

Bonitas palavras!
Memorável, comovente, a iniciativa que evocou o passado(heróico!)projectando-o para o Hoje e o Amanhã.
Obrigado SR, que, como sempre és assertivo.

Ana Alves Miguel disse...

Aqui no concelho de Loures o sábado também acordou em temporal.
Durante o caminho nos dois autocarros recordámos a fuga heróica, as muitas idas à fortaleza-prisão quase sempre acompanhados pelo António e pelo Domingos. Mas também recordámos que há oito anos quando foi feita a revelação de termos conquistado a câmara rumámos a Peniche e deixámos como sempre uma fita vermelha não na porta do segredo como era habitual mas no segundo portão da fortaleza-prisão.
Neste sábado chegámos muito cedo ao restaurante que o temporal convidava a estar debaixo de telha e à comida quente.
Juntámo-nos a centenas de camaradas e amigos em desfile para o comício. O sol entrou no pavilhão juntamente com a nossa determinação.
Neste sábado não houve tempo para entrar na fortaleza-prisão mas a fita vermelha foi deixada (novamente) no segundo portão.
Durante o comício fiz ondular o meu lenço dos Pioneiros (que usei pelas primeira vez há 39 anos).

trepadeira disse...

Abraço solidário,

mário

Anónimo disse...

Não nos vimos porque não nos calhou em sorte, talvez porque éramos muitos. Apesar da chuva, conseguimos chegar ainda a tempo para a visita guiada (meia hora atrasados, com o Domingos a protestar e com razão). As palavras da dona da pastelaria onde tomámos um café emocionara-me. De tudo o que ela disse só recordo: "Álvaro Cunhal era um político coerente, nunca se vendeu. Era um homem de confiança".

Campaniça

Olinda disse...

Palavras tao sensîveis,estas que escreveste!Tao ä tua maneira.Visitei Peniche,hâ jâ alguns anos,com o camarada Dias Lourenco ,depois almocei com ele.Foi um dia inesquecîvel.Pela maneira como o camarada contou os acontecimentos na primeira pessoa,sempre com uma disposicao alegre.Compreendi que na coragem dos imprescindîveis,nao existe vaidade.


Um beijo