sexta-feira, junho 19, 2020

Um tanto perplexo

Há uma certa perplexidade no ar.
Uma perplexidade latente, talvez inexprimível. Por enquanto. Porque tem muito de surpreendente, e atropelando-se, o que a provoca.
Passou-se do quase pânico a partir de uma informação invasiva e assustadora para uma contida alegria contentinha por termos sido tão capazes, tão disciplinados, tão exemplares perante a ameaça.  Saltou-se da situação de emergência em estado de calamidade para a situação de calamidade pública.  Depois, logo, logo, veio a descompressão, o relativo alívio com o elogio da sageza e as novas formas de viver, de trabalhar, "é assim mesmo", "ora aí está". Apareceu o ludíbri(lh)o (nos olhos) da conciliação de não precisar de sair de casa para ir trabalhar, para levar as crianças à escola, com só umas saídas ao super, hiper-mercado para renovar os stocks do frigorífico, da arca, da despensa.
"Eureka", a economia digital, o tele-trabalho, o tele-tudo no telemóvel e no tablet.
E até voltou o futebol.
Com calma! Não vamos ter pressa demasiada. O mais importante já está. Está no tablet, no tele-móvel, no tele-visor, na tele-escola, no tele-trabalho, pois então. É a digitalização da economia a juntar ao 1 bilião e 350 milhares de milhões que vem aí perdidos de fundos.
Ah! a digitalização da economia! Que sonho. Com os trabalhadores em lay-off, e/ou a darem ao dedo entre duas espreitadelas ao duelo Porto-Benfica ou duas em conversas entre amigas ou vizinhas... ao tele-fone, claro e com muitos beijinhos virtuais.
E eis que: a sensacional notícia/surpresa, há muito esperada da Liga dos Campeões em Lisboa (também no Porto, claro... tenham calma). O auto elogio, o prémio pela boa condução das coisas públicas. A recompensação. Anunciada com a pompa e circunstância de informação dada (sem máscaras) pelos maiores de nós. Da República, da Assembleia, do Governo, do Futebol, de Lisboa. Só 5! Assim é que é! Muito espaço aberto, e pouca gente. Assim é que é. Como manda o bom senso que outros não tiveram. Porque ainda não sabiam que assim é que era.  Ou não quiseram saber. Mas esses... cala-te boca. Assim é que deveria ter sido no 1º de Maio. Como foi no 10 de Junho. Muito poucos e todos sentadinhos enquanto só dois é que falam. Um de cada vez, claro. Vêem como é. Ele até é professor. De muita coisa. Nasceu para isto. Para ser o que é.

Mas... cuidado!, em Lisboa e Vale do Tejo há números a crescer, e aquela festa no Algarve!?, e o café do senhor não-me-lembro-do-nome?, e hoje no I.P.O.?
Cuidadinho!
Mas... afinal? Ou, em francês; m'enfin!
Estou perplexo, pode-se ou não "poderá-se" ir assistir à Liga dos Campeões? Terá algum jeito o sucesso nacional que se anuncia, a meio  de Junho, como a realização piramidal que, nos noticiários, se ensanduicha com os que morreram com o virus (teria sido?), com os números dos que foram descobertos infectados que não se resolvem a diminuir consistentemente (e quantos estarão sem serem testados?), dos que hospitalizados estão e dos que hopitalizados deixaram de estar que-são-os-que-francamente-aliviam-os-que-o-poderão-vir-a-ser-hospitalizados. Sim, porque são muitos os que saem curados e dos cuidados intensivos. Haja saúde...

Bom... e se mudasse de assunto? O quê?, do Centeno?, do Novo Banco?! (diz uma vozinha dentro do perplexo... que reponde:) Por favor... Mais perplexo do que já estou, NÃO!!!


3 comentários:

Maria João Brito de Sousa disse...

Neste campeonato de clausuras, jogo em casa.

Concordo que precisamos de nervos de aço. Concordo que é bem provável que a procissão ainda vá no adro e que o bicharoco - que nem bicharoco é - continua por aí a sondar a melhor forma de fazer estragos, mas não demasiados porque isso não lhe convém, nem lhe garante a... "sobrevivência" das estirpes.

Não é o SARS-CoV-2 que me deixa perplexa, são os eternos novos bancos e coisas que tais.

Abraço

Olinda disse...

Estamos infectados por uma informação de interesses que o melhor é confinar-nos .Por mim,tomo medidas,deixei de ver TVs.Bjo

João Baranda disse...

Bem captado o momento ... já enjoa tanta ladainha ...
Abraço