domingo, agosto 21, 2005

Não deixar (re)adormecer as consciências, hoje despertas, hoje em "carne viva"


Da porta de minha casa-na tarde de 20.08.05

Não pode ser! Isto é um pesadelo.
Mas é um pesadelo que vivemos acordados, assustados, a ver as chamas a lamberem as encostas logo ali à frente, a ouvir o crepitar que parece que é mesmo aqui ao lado, a respirar o ardido, este tecto de sombra e cinza que sobre nós caiu… e nós molhando ao redor das casas como se não foose secar logo depois. Mas, ao menos!, a fazermos alguma coisa para termos a ideia de que estamos a fazer alguma coisa. Agora!

A indignação é grande. Como se chegou a isto?
Como se abandonou a lavoura e os campos, como não se ordenou a floresta, como não se limparam as matas e os quintais, como se permitiu que assim se construísse, como se consente que se ateiem fósforos impunemente, como nos desleixámos tanto? Todos!
Denuncio uma política que criou condições para o que está a acontecer, denuncio especulações que aproveitam das tragédias, acuso, na minha insignificante mas insubstituível indignação, os responsáveis.
Mas não se pense que quero denunciar e acusar com um endereço pré-fixado. Não!
A responsabilidade é de todos mas não como forma de, por ser de todos, não ser de ninguém.
E se é de todos a responsabilidade, esta é a oportunidade de se falar às consciências de todos. Dos governos, centrais e locais, dos bombeiros, das “defesas civis”, dos indivíduos – isto é, de cada um de nós – para que todos se interroguem, nos interroguemos, se tudo fizeram/mos para prevenir o que podia e devia ter sido previsto. Este é o momento, porque estão despertas as consciências, vivas, algumas em carne viva.

Indo mais concretamente a um aspecto. Que não de somenos.
Ourém está na ponta de um distrito. É a triste exemplificação da ausência de regionalização e de descentralização. Quando a coordenação é fundamental, quase diria vital, Ourém é o último concelho a ser coordenado, entregue à sua sorte, por Santarém, e é o primeiro a ser esquecido por Leiria, à espera do que não vem ou chega tarde.

Há tanto para corrigir!

9 comentários:

Elvira disse...

Fui dar uma volta ontém e lá estava outra vez o mesmo cenário infernal. Uma coluna enorme de fumo negro, chuva de cinzas, sol incandescente... Sinto-me triste e revoltada. Quando é que se faz alguma coisa?

Anónimo disse...

Subscrevo o lamento e a revolta das vítimas que somos nós, sempre nós - os que trabalham, os que lutam, os que pagam! Mas, afinal, quem tem um fósforo para lançar o rastilho aos que com isso ganham?

Anónimo disse...

Calma que o “nosso” primeiro já chegou de Ngorongoro.
Daqui a duas (ou três semanas) já não há incêndios. :)

Só ontem é que descobri o anónimoséc.XXI, mas já o tenho nos favoritos.
Um abraço, até terça.

Sérgio Ribeiro disse...

Benvindo. caro rpx... e boas viagens!

Sérgio Ribeiro disse...

... só agora reparei no "até terça"...
Fui ver o teu blog. Já o meti nos favoritos, camarada.
Até terça!

Unknown disse...

Limkei este post no Santa Cita porque me parece mais que oportuno.

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, vizinho.
Um abraço

Anónimo disse...

Excelente abordagem desta triste e lamentável situação. Sem dúvida que somos todos vítimas quando respiramos um ar asfixiante, quando os nossos pátios se enchem de cinzas e os nossos horizontes se pintam de castanho e cinzento. Mas sem dúvida que também somos todos culpados!Mesmo adorando as nossas florestas, mesmo dando valor ao "ar verde" que respiramos, somos culpados de apenas nos lembrarmos de limpar os nossos terrenos quando eles já arderam, de não "levantar poeira" pelos direitos de quem não pode falar, por nos esquecermos do assunto quando caiem as primeiras chuvas!
Mas somos vítimas, pois somos! Mas não maiores do que os animais que morrem carbonizados, das criaturas que morrem de fome sem alimento, das árvores que viviam há mais décadas do que nós ou das espécies que já não nascem e se extinguem. Nós, tristes, vamos testemunhando, assistindo, resistindo,..., mas vivendo (por enquanto).
Raquel

Menina Marota disse...

Junto-me a ti, neste grito, nesta dor...