segunda-feira, março 20, 2006

O dia do pai foi ontem


E os meus filhos manifestaram-se!
Confesso que fiquei muito contente.

Não tanto como se me dissessem que vinham netos a caminho... mas fiquei contente.
O mais pequenino (36 anos, lá para quase um metro e oitenta e 100 quilos) ofereceu-me um CD com um concerto de 19.11.2004, na "Cité de la Musique", da Orquestra Filarmónica da Rádio France, que tocou a deutsche sinfonie opus 50 (1935-1947), de Hanns Eisler, sobre textos de Bertolt Brecht, a partir de correspondência entre os dois, de 1935.



E não resisto a traduzir para português meia dúzia de versos, que estão em alemão, inglês e francês no caderno que acompanha o CD.
E mais. Não resisto a, por minha conta, risco e atrevimento, fazer uma adaptação para português actual (de 2006) de alguns desses versos.

(...)
Deram-nos boletins de voto,
pelo nosso lado, entregámos as nossas armas.
Eles fizeram-nos promessas
e nós demos-lhe a nossa espingarda.
E disseram-nos: “os que quiserem
ajudar-nos-ão a partir de hoje,
só temos de nos pôr em acção,
e vocês farão tudo o resto para nós”.
Então, deixei-me dobrar outra vez
e comporto-me como é preciso,
sossegado, e penso:
está certo da parte da chuva…
se é para cima que ela quer cair.

E quase logo ouço dizer
que tudo está nos seus devidos lugares.
Se um mal menor nós o suportarmos,
nos será dada a prenda de um mal maior.
Engolimos o cura Brüning(*)
para evitar que fosse o Papen.
Engolimos o cavalar Papen
se não seria a vez de Schleicher.
E o cura passou ao soldado
e o soldado passou ao general,

e a chuva sempre a cair, a (es)correr para baixo,
a tombar lá de cima, colossalmente.

_______________________________________
(*)

Escolhenos o beato Guterres
depois de ter engolido o sapo Cavaco.
Apanhámos com um durão Barroso
para não suportar um ferro Rodrigues.
Estamos a aguentar um pragmafilósofo Sócrates
a quem demos o lugar sampaiamente concedido a santanas Lopes,
e aí está a parceria com o mesmo Cavaco de má e esquecida memória,
cá regressado à custa de alegres Soares e de sisudos Louçã(s).

e a chuva sempre a cair, a (es)correr para baixo,
a tombar lá de cima, às vezes a cântaros, em doses colossais.

6 comentários:

Anónimo disse...

Se o Mário Mata,
a Florbela Espanca,
o Armando Gama
e o Jorge Palma,
o que é que a Rosa Lobato Faria?

E, já agora:

Talvez a Zita Seabra para o António Peres Metello

Anónimo disse...

Um pai que fica com um brilhozinho nos olhos, quando apresenta os filhos, é um bom pai!
Tive a oportunidade de ver como és um bom pai!
Tens uns bonitos filhos! Mas não conheci nenhum com 100 quilinhos!!!
Sortudo! Grande prenda!

Bjs, por seres um bom pai.

GR

Sérgio Ribeiro disse...

O Mário (é) Abreu, 'tá baril!
Lá o que a Rosa Faria e com quem quem é lá com ela (e como o que escolhido tenha sido).
Quanto à outra maldadeZita já Seabriu o que tinha a Seabrir, e que o António Peres (vá) Metello onde lhe aprouver.
Obrigado GR. Quanto às avaliações sobre as qualidades paternais está no molho das dúvidas...

Anónimo disse...

Sem dúvidas, meu amigo... Nesse campo da paternidade não tens que ter dúvidas...

Anónimo disse...

Bertolt Brecht, iria gostar muito da tua adaptação!
Brilhante análise política!
Parabéns,

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, mia, gostei de te "ver" por aqui, sempre a ajudares-me. (Re)obrigado GR.