quinta-feira, dezembro 01, 2011

O dia de hoje, uma janela e um palácio

Quando fui para a cama, já bem entrado o dia de hoje, antes de adormecer (e durante o sono?) vi-me acompanhado por duas recordações curiosas. Daquelas que nos assaltam e de nós tomam posse.
Uma, relativa a um verbo, o verbo defenestrar. O 1º de Dezembro é dia ligado a este verbo. E é um verbo interessante. Desde logo, pela sua origem etimológica que a liga a "fenêtre" e, assim, nos liga, a nós, à língua francesa. Defenestrar, atirar pela janela.
Mas não atirar qualquer coisa. Atirar Miguel de Vasconcelos, que estava ao serviço dos ocupantes espanhóis, e que os "restauradores" acharam ser a forma mais expedita de o fazer sair do palácio (e do armário...) que ocupava, no Paço da Ribeira. Desta forma se simbolizou a reconquista da independência portuguesa, Aliás, a duquesa de Mantua, também vice-rei (não vice-raínha porque o rei era rei, o III de cá e o IV de´Espanha), de quem o Miguel defenestrado era secretário, parece ter sido convidada a ir pela porta (da prisão) se não quisesse ter a mesma saída aérea e pouco airosa.
E quanto a defenestrar é tudo, até porque parece que foi verbo arranjado para o 1º de Dezembro e para aquela janela que viria a ser a janela da Independência, ficando também, com esse nome, um Palácio em que tudo teria sido conjurado.
A segunda recordação é sobre a utilização dada a tal Palácio durante o fascismo, ao serviço da Mocidade Portuguesa, organização de má memória entre a panóplia de quejandas instituições. Depois, depois do 25 de Abril, sem ter havido defenestrações, foram recuperadas tais instalações para actividades bem de outro jaez, como realizações do movimento da Paz, dos deficientes das Forças Armadas e ao serviço do povo.
 Agora, parece que alberga uma Sociedade Histórica da Independência de Portugal (e outras), de que não há grandes notícias. Para gente comum, claro. Talvez venha a informar-me. Por curiosidade desperta. E para corrigir eventuais imprecisões históricas

10 comentários:

Fernando Samuel disse...

Vá lá saber-se porquê, também me veio à memória, hoje, essa abençoada defenestração...

Um abraço.

Carlos Gomes disse...

O verbo defenestrar provém precisamente do francês défenestration e significa atirar pela janela. E, a sua razão de ser é interessante e pouco estudada. A França, ao tempo de Luis XIII e do Cardeal Richelieu, vendo-se cercada por um conjunto de países governados pelos descendentes de Carlos V (Casa de Áustria), encetou uma estratégia que passou nomeadamente pelo apoio à revolta fracassada na Catalunha e aos conjurados portugueses. A defenestração constituiu, pois, uma moda importada que denuncia o patrocínio do Cardeal Richelieu à causa restauracionista em Portugal.

Jaime Ramalhete Neves disse...

Existiu a forma latina "fenestra".Em português medieval existiu "freesta" que, por via popular, deu "fresta" (abertura na parede)."Defenestrar" é uma forma erudita.
Mas o que interessa neste momento é saber quantos e quais são os "Miguéis de Vasconcelos"

Carlos Gomes disse...

A propósito da Restauração, seria curioso analisar como a seguir a 1580 a Espanha aliciou muitos portugueses, principalmente da nobreza e das camadas mais favorecidas da sociedade da altura. Como sempre, estes processos não se realizam sem cumplicidades, quase sempre compradas. Talvez encontremos muitas situações de certo modo comparáveis à actualidade... aliás, creio que nunca como actualmente foram muitos portugueses distinguidos com prémios, condecorações e outras distinções por parte de Espanha!
E, já agora, compreendendo que determinadas instituições utilizam preferencialmente a linguagem dos símbolos, porque terá sido dado ao herdeiro do trono espanhol o nome de Felipe e não Manolo ou outro qualquer da extensa lista onomástica castelhana?

Sérgio Ribeiro disse...

A conversa vai interessante e adequada ao dia. Há, em Aquilino, no seu entusiasmente No Cavalo de Pau com Sancho Pança, informações, observações, comentários muito úteis sobre 1580-1640, e edição do D. Quixote em Lisbao e várias coisas.
Quanto à origem de defenestrar, não sou filólogo, nem vou por aí, pela evidente origem latina, mas quando ouço o verbo - e só o ouço a propósito do 1º de Dezembro - só me lembra a fenêtre francesa, e a observação do Carlos Gomes é interessante.

Abraços e saudações

Graciete Rietsch disse...

Quando andava na Escola Primária e também durante o Liceu, sempre ouvi falar ,com reverência, nos 40fidalgos conjurados que restituiram a independência a Portugal. Mas nunca ouvi falar no Povo oprimido e subjugado pelo opressor que sempre, sempre colaborou na causa da liberdade e restauração da indepedência.

Um beijo.

Jaime Ramalhete Neves disse...

De facto foi isso que nos obrigaram a aprender: eram os quarenta e do resto do povo quase não se ouvia falar, reservando-se-lhe um olhar quase estático no Terreiro do Paço. Caso curioso foi o da Senhora Duquesa de Mântua obrigada a um recolhimento em Santos-o-Novo (salvo erro...) local priviligiado da nobreza. A talhe de foice, e dado que se falou da revolução de 1383-85,também nunca nos foi dito das hesitações de opção política por parte do Mestre de Aviz quando este, e tendo já falecido D.Fernando, procurou Leonor Teles, a "Graça de Altura" para consorte. Sem sorte. A senhora não esteve pelos ajustes.
O Mosteiro de Santos-o-Novo teve ao longo dos tempos múltiplas funções. Talvez que as suas funções no séc.XVII tenham passado para lugares de decisão, chefia e outros em grandes empresas, nos séc.XX e XXI.
De qualquer maneira é de considerar uma estratégia o encontrar de um tempo comum, descrito por D.Francisco Manuel de Mello, em "Historia de los Movimientos, Guerra y Separación de Cataluña".
Como diz muita gente: há que aproveitar sinergias...

Anónimo disse...

Muito estimulante chegar aqui e ler sobre o 1º de Dezembro (com maiúscula). As defenestrações eram «moda» daqueles tempos: assim começou a Guerra dos Trinta Anos (na qual se pode incluir os acontecimentos de 1640), com a Defenestração de Praga em 1619, dos representantes do Império dos Habsburgos (dos mesmos que mandavam cá). Também já antes tinha acontecido por lá nas revoltas hussitas por 1418, tal como cá em 1383 com o arcebispo de Lisboa lançado da torre da Sé e a morte do 2º conde de Ourém (o famoso conde Andeiro). Mas tal como em 1383-85, a Restauração teve grande apoio popular e foi precedida de grandes revoltas em 1637-38 contra o aumento de impostos, perda de liberdades, recrutamento forçado (Évora, Soure, Crato, Abrantes, Santarém, Porto, Viana, etc.) no que foi uma ofensiva espanhola de absorção de Portugal. A Restauração da Independência foi um processo extraordinário que ocorreu nas possessões portuguesas nos 4 cantos do mundo e graças a isso. Agora, sozinhos na Europa, é muito complicado. Tem de haver arrojo, expansão, parcerias com mais países, lusófonos e outros,não austeridade e contracção, ou foi-se

Anónimo disse...

marchar, marchar... não acreditamos em bruxas nem existem maus ventos, mas que as há, há e sopram.
O próximo rei de Espanha será um Filipe e depois uma rainha Leonor (nome de rainhas de Portugal e Aragão, como disse o avó J.C., porque a sabe toda). Nós temos um presidente da República, mas eles também têm presidente (do governo) e têm-no cada Autonomia, e com maior autonomia em relação ao poder central do que esta República (vide TGV, abandono do interior, etc). Se se deixar de celebrar a Implantação da República e a Restauração da Independência, com troikas e directórios a mandar, que diferença de facto e de jure haverá?? Pois, nem ventos nem vê-los.

tesashesh disse...

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