quarta-feira, janeiro 18, 2012

entre|palavras

Por pedido de uma professora, fui "dar uma ajuda" a uma turma de escola da minha terra que está a concorrer a uma iniciativa do Jornal de Notícias, cheia de boas (palavras de) intenções, chamada entre|palavras.
Como, para tal fazer, me fui informar à fonte, a edição deste ano, a 8.ª, «contará com uma comissão de honra, mais uma vez apadrinhada pela jornalista Fátima Campos Ferreira e por outras personalidades conhecidas da nossa sociedade. Os temas para este ano são:
"Poupança"
tese: "A poupança é uma atitude, uma forma de estar na vida, pratica-se diariamente nos gestos mais simples – no apagar da luz; no uso dos transportes públicos; no tipo e quantidade de alimentação que fazemos, etc."
"Honestidade"
tese: "Para quê ser honesto quando à nossa volta tudo é corrupto e parece que os desonestos é que têm sucesso?"
"Criatividade".
tese: "A criatividade tem mais a ver com a motivação do que com a inteligência, sendo essencial para a resolução de problemas!"»

Depois de ler "isto" (a Fátima Campos Ferreira a apadrinhar uma comissão de honra formada por outras personalidades conhecidas da nossa praça!, e - mais importante! - as palavras escolhidas e as teses enunciadas...), hesitei em responder ao convite... mas fui.
Foi uma excelente manhã.
Se o que me era pedido era pôr a minha experiência parlamentar a ajudar um grupo de 20 jovens de 12 a 15 anos a exercitar debate e argumentação, acho que fiz muito mais que isso.
Conversámos sobre aquelas palavras, com base no que considerei o oportunismo da escolha de uma delas - poupança - e o carácter manipulador dos enunciados das teses.
Sobre poupança, procurei alertar para a diferença entre o conceito (keyneseano) de poupança - o que sobra do consumo e pode transformar-se em investimento - e a ideia de desperdício e de irracionalidade no uso dos recursos que nos satisfazem as necessidades;
sobre honestidade, sublinhei que ela começa por sermos honestos connosco próprios, e contei histórias do meu pai e do livro que lhe ofereci nos seus 80 anos, a ele, pequeno comerciante com valores e princípios inabaláveis de honestidade enquanto respeito pelos outros, e que considero que teve uma vida de... sucesso (e o que é isso?, como se mede?, em euros?).
sobre criatividade, conversámos sobre a actividade criativa como algo que não se limita a repetir e a imitar actividades de otros e de antes.

Atirei as minhas opiniões (e vivências) para o debate, e tive hora e meia de convívio e conversa animada e atenta (de parte a parte), que me deu grande satisfação.
Eles querem que eu lá volte, fizeram-me chegar, com insistência, que querem conversar mais comigo. Fiquei mesmo contente, porque a vontade é recíproca.    

6 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Foi uma excelente iniciativa que valeu mais pelo convite que te fizeram. As nossas crianças precisam de ser esclarecidas para que possam ver o futuro que as espera se não forem alertadas para a situação que se vive e a necessidade de luta.

Um beijo.

Mário Pinto disse...

Bela iniciativa, ainda que, não comparta a sobriedade com a qual te referes à criatividade. Questão de tempo, seguramente.

Um abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Graciete - Obrigado pelo teu rápido e amigo comentário. E eles, os jovens, são tão abertos... quando se lhes fala respeitando-os!

CRN - Terás alguma razão. Embora não tenha sido tão sóbrio como parece. Mas os jovens tinham de escolher uma palavra para a ela se dedicarem, e estavam inclinados a escolher poupança (decerto por influência da pressão mediática) com ligeira vantagem sobre honestidade (por idêntica razão dada a conotação perversa a corrupção). Não sei como teriam ficado depois da nossa conversa e convívio. Saberei...

Abreijos

samuel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
samuel disse...

Boa malha!

Abraço.

Justine disse...

A juventude: fonte onde vais beber a tua:-)))))))