quarta-feira, outubro 24, 2012

Três breves comentários a notícias do dia e "ao volante"

Na ida a Benavente (na excelente companhia de Cesário Verde e ao encontro de jovens que me deram a enorme alegria de confirmar e reforçar a esperança no futuro, no caminho da História), ouvi, inevitavelmennte, as notícias e as opiniões na telefonia do carro. Não resisto a breves comentários:
  1. Bagão Félix fez o seu "número" habitual. Disse coisas certíssimas no plano técnico - sem grandes rasgos... mas certíssimas - e, por essa via, demonstrou que este OE13 é um desastre. Pegou na questão da tributação sobre os capitais e mostrou como tudo estava amalgamado, como não distinguia a aplicação especulativa (por vezes, sobretudo quando muito vultuosa, na fronteira da legalidade) e a pequena poupança depositada num banco. E logo deixou escapar o seu veneno ideológico, ao dizer esta barbaridade: "à boa maneira marxista...". Vá estudar, dr. Bagão Félix! E leve consigo o Relvas...
  2. A diminuição proposta pelo Ministério da Solidariedade (da quê?...) de diminuir em 10% o subsídio de desemprego (aos poucos que o recebem dos muitos desempregados, e porque para ele descontaram) é um roubo e um ludíibrio. Um roubo porque vai tirar a quem ganhou esse direito por ter descontado, um ludíbrio porque já se  veio dizer que o Governo está disposto a reduzir a fatia do roubo. Assim a modos de "vou tirar-te 10%... ah! protestas e não queres?... 'tá bem, tiro-te só 5%, isto é, devolvo-te 5%... e deves ficar todo contente porque te devolvi 5%!"
  3. O ministro das finanças, no seu conhecido jeito, foi à AR dizer coisas que denunciam o que tem escondido (mal), o seu verdadeiro fanatismo ideológico. Criticou o regime político e, segundo ele, “é preciso repensar as funções do Estado”. É um ministro de Estado em constante golpe-de-Estado desde o início das suas funções. Na sua concepção, aquilo que os portugueses pagam de impostos não é para terem os direitos a que têm direito, mas para pagar aos ministérios das finanças, da defesa nacional, da administração interna e dos negócios estrangeiroa, além,  claro, dos enormes e crescentes juros pelas "beneméritas ajudas".

3 comentários:

Anónimo disse...

Cheguei a trabalhá-lo nas aulas, embora pouco conhecido. De vez em quando lembrava-me dele. Mas só hoje depois do teu "post" resolvi procurá-lo, pois tinha perdido as referências. Praticamente emparceira com o Soeiro Pereira Gomes.

Um abraço

Jaime







DESASTRE


Ele ia numa maca, em ânsias, contrafeito,
Soltando fundos ais e trêmulos queixumes;
Caíra dum andaime e dera com o peito,
Pesada e secamente, em cima duns tapumes.

A brisa que balouça as árvores das praças,
Como uma mãe erguia ao leito os cortinados,
E dentro eu divisei o ungido das desgraças,
Trazendo em sangue negro os membros ensopados.

Um preto, que sustinha o peso dum varal,
Chorava ao murmurar-lhe: "Homem não desfaleça!"
E um lenço esfarrapado em volta da cabeça,
Talvez lhe aumentasse a febre cerebral.

Flanavam pelo Aterro os dândis e as cocottes
Corriam char-à-bancs cheios de passageiros
E ouviam-se canções e estalos de chicotes,
Junto à maré, no Tejo, e as pragas dos cocheiros.

Viam-se os quarteirões da Baixa: um bom poeta,
A rir e a conversar numa cervejaria,
Gritava para alguns: "Que cena tão faceta!
Reparem! Que episódio!" Ele já não gemia.

Findara honradamente. As lutas, afinal,
Deixavam repousar essa criança escrava,
E a gente da província, atônita, exclamava:
"Que providências! Deus! Lá vai para o hospital!"

Por onde o morto passa há grupos, murmurinhos;
Mornas essências vêm duma perfumaria,
E cheira a peixe frito um armazém de vinhos,
Numa travessa escura em que não entra o dia!

Um fidalgote brada e duas prostitutas
"Que espantos! Um rapaz servente de pedreiro!"
Bisonhos, devagar, passeiam uns recrutas
E conta-se o que foi na loja dum barbeiro.

Era enjeitado, o pobre. E, para não morrer,
De bagas de suor tinha uma vida cheia;
Levava a um quarto andar cochos de cal e areia,
Não conhecera os pais, nem aprendera a ler.

Depois da sesta, um pouco estonteado e fraco
Sentira a exalação da tarde abafadiça;
Quebravam-lhe o corpinho o fumo do tabaco
E o fato remendado e sujo da calica.

Gastara o seu salário - oito vinténs ou menos -,
Ao longe o mar, que abismo! e o sol, que labareda!
"Os vultos, lá em baixo, oh! como são pequenos!"
E estremeceu, rolou nas atrações da queda.

O mísero a doença, as privações cruéis
Soubera repelir - ataques desumanos!
Chamavam-lhe garoto! E apenas com seis anos
Andara a apregoar diários de dez-réis.

Anoitecia então. O féretro sinistro
Cruzou com um coupé seguido dum correio,
E um democrata disse: "Aonde irás, ministro!
Comprar um eleitor? Adormecer num seio"?

E eu tive uma suspeita. Aquele cavalheiro,
- Conservador, que esmaga o povo com impostos -,
Mandava arremessar - que gozo! estar solteiro! -
Os filhos naturais à roda dos expostos...

Mas não, não pode ser... Deite-se um grande véu...
De resto, a dignidade e a corrupção... que sonhos!
Todos os figurões cortejam-no risonhos
E um padre que ali vai tirou-lhe o solidéu.

E o desgraçado? Ah! Ah! Foi para a vala imensa,
Na tumba, e sem o adeus dos rudes camaradas:
Isto porque o patrão negou-lhes a licença,
O inverno estava à porta e as obras atrasadas.

E antes, ao soletrar a narração do fato,
Vinda numa local hipócrita e ligeira,
Berrara ao empreiteiro, um tanto estupefato:
"Morreu!? Pois não caísse! Alguma bebedeira!"

Graciete Rietsch disse...

Que comentários tão elucidativos!!!
Eu semepre desconfiei das palavras dos que hoje se sentem entristecidos e"revoltados" com a situação que também ajudaram a criar. O venenozinho lá aparece.
Quanto ao Cesário Verde, sem palavras.

Um beijo.

Olinda disse...

Esta seita ,que compoe o desGoverno,nao esconde a sua ideologia neofascista.Sentem-se fortes,com a conjuntura europeia mas,esquecem-se da potencialidade dos povos.

Bjo