terça-feira, setembro 01, 2015

Reflexões lentas - Desempregados e mal-empregados

Querem convencer o "bom e ordeiro povo" que vive em democracia porque ele pode votar de vez em quando. Por isso, e para isso, é utilizada e dirigida a chamada informação para transmitir aos eleitores - que são a parte de "bom povo" que, em democracia, interessa ao poder - aquilo que, e como, convém que ele tome como representação da realidade. Com o constrangimento da relação de forças e alguma preocupação de que, por excesso, a mentira e a manipulação não se desmascarem a si próprias. Sim, porque a bondade e a (c)ordeirice do "bom e ordeiro povo" tem limites...
E como a necessidade primeira do ser humano é a do trabalho, acção humana para aproveitar os recursos e forças da natureza - in maxime, a sua força de trabalho - para satisfação das suas necessidades vitais e sociais, nessa campanha (e nas campanhas...) de (des)informação usa-se abusivamente dos números do emprego/desemprego para se apresentar uma representação da realidade... que não a representa. E discutem-se, à exaustão, décimas de percentagem de indicadores "à maneira", isolados da realidade, ignorando-se mobilidade demográfica e suas migrações, desconhecendo-se ou escondendo-se vertente social, a qualidade e a estabilidade dos empregos enquanto postos de trabalho.
Cometendo o pecadilho da auto-citação, na minha tese de doutoramento de há 30 anos baseei-me na concepção - que em nada cedo ou condescendo, antes procuro afinar com o que vou aprendendo e apreendendo - de que o emprego é epifenómeno do trabalho*.
A "política" das polémicas e "bocas" (deveria talvez dizer sound bites mas... não quero!) à volta da evolução, em décimas de percentagem,  da taxa de desemprego, segundo informações do IEFP e do INE, exaspera-me. 
A fronteira entre a discussão dos números dos desempregados inscritos (em percentagem de uma "coisa" chamada população activa**), e sua evolução, o número de empregos criados, e sua evolução, e a informação actualizada e o estudo da situação da população em idade activa, o número de empregos, seus horários, estabilidade contratual, respeito por salários e direitos, é a fronteira entre o que não é sério, é manipulador, é aldrabado e o que é sério e as gentes têm o direito a conhecer!  

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* - (...) A conexão entre a realidade e o seu conhecimento, que se procura através do “ponto de partida”, leva à consideração do trabalho como necessidade primeira e, depois, do emprego como seu epifenómeno. Esta conceptualização confronta os conceitos operacionais (ou habitualmente operativos), sublinhando-se as limitações e reservas, de raíz teórico-institucional, que possam merecer, sempre se procurando denunciar o feiticismo que leva a que se utilizem, operativamente, noções e conceitos alienados da sua origem e do seu processo de conceptualização (...).
** - por exemplo: 10 desempregados que emigram diminuem o numerador da fracção (desempregados) mas não diminuem o denominador dessa mesma fracção (população activa), pelo que diminuem duplamente a taxa de desemprego estatística.

1 comentário:

Olinda disse...

E atê äs legislativas,vamos levar com a manipulacao dos nûmeros do emprego/desemprego,atê ä exaustao!Uma mentira dita muitas vezes,acaba por alguêm acreditar!Bjo