quarta-feira, março 06, 2019

98 anos. Parabéns (a mim, ao colectivo... a todos)


O começo do século XX foi de profundas transformações. Como todo o tempo o é, mesmo que disso não se dêem conta os coetâneos.

No primeiro quartel do século XX, Portugal instaurou a república, participou na guerra de 14-18, viveu em grande instabilidade social e política.

Até este canto da Europa (que já existia antes de uma coisa chamada União Europeia) chegavam ecos de mudanças pelo mundo fora.

Já não era a revolução francesa, que por aqui entrara de armas e violência, era ainda (e por muito tempo) a colonização das periferias, sobretudo anglófona.
Éramos o país do sol e da vinha, vantagem comparativa – à David Ricardo (e Tratado de Methuen, e anteriores da Aliança mais antiga da História entre países “civilizados”) – que se contrapunha à das inovações tecnológicas dos teares para têxteis, das máquinas a vapor, dos transportes e comunicações. E aqui chegavam os sinais e ecos de verdadeiras transformações que vinham de mais longe, que vinham de lá onde acabava a Europa nos Montes Urais.

Sem rádio nem (ainda menos) televisão chegavam notícias que vinham ao encontro de sentires e de tomadas de consciência social. O movimento operário não esperava por informação mas crescia e estimulava-se com a informação que chegava, lenta e cheia de escolhos.

O movimento associativo sindical ganhara ímpeto e dividia-se, mas guardava e germinava na boa semente da participação e do associativismo.

Faltava algo de essencial.

Realizaram-se várias reuniões nas sedes de alguns sindicatos, com o intuito de se construir uma vanguarda revolucionária. Formou-se uma Comissão Organizadora para a criação do Partido Comunista Português, que começou, em Janeiro de 1921, a elaborar as bases orgânicas da nova formação política.
Por essa altura, em diversos países formavam-se associações desse tipo a partir de cisões de outros partidos, nomeadamente de partidos socialistas. Não foi o caso do Partido Comunista Português que se constituiu na base do movimento associativo, com sindicalistas que representavam o que havia de mais vivo, combativo e revolucionário no movimento operário português.
Foi na sede da Associação dos empregados de escritório, em Lisboa, que em 6 de Março de 1921 se realizou uma assembleia que aprovou os estatutos da associação e elegeu a primeira direcção do PCP.

Por isso, hoje se assinala o 98º aniversário deste partido, do PCP.
Como associação (política) que é, formou-se com associados, um estatuto que definia objectivos, princípios e regras, e uma actividade que está próxima do centenário.
A sua história merece ser conhecida. E respeitada!
Não tenho a pretensão de a contar. Não teria fôlego para isso, mas vivo-a como sei e posso. E dá-me vontade de fazer algumas analogias talvez simplistas.
Como é natural (e evidente), os fundadores do PCP já morreram todos, a sua actividade teve de se inserir numa sociedade em transformação, os seus estatutos tiveram de se ir adaptando ao evoluir dos tempos, mas os seus objectivos, princípios e regras foram mantendo-se os mesmos. Ou, a não ser assim, a associação teria desaparecido ou deixado de ser o que era quando formada. Há 98 anos. E, ao que parece, de boa saúde e… jovem.
Ao longo de seu percurso de vida, o colectivo que formou com os seus associados (que se afirmam como militantes) passou por momentos em que tudo foi posto à prova. Dos nove. Ou da realidade.
Em alguns desses momentos, para além das dificuldades próprias do que tem de se transformar e adaptar para vivo se manter num contexto sempre hostil e não raro de extrema violência, a associação teve, por vezes (não poucas), internos confrontos e mesmo cisões relativamente à forma de continuar ou, até, de sobreviver.
Na maneira de analogias simplistas em que pretendo manter-me nesta despretensiosa abordagem, nem por isso menos séria e reflectida, é como se associados de um colectivo formado para se jogar xadrez, tendo de se adaptar a tabuleiros e peças mutáveis, encarassem a alternativa de mudar de modalidade desportiva e propusessem passar a jogar às damas, em tabuleiros novos, com outras pedras e movimentações outras.
De acordo com as regras das associações, essas mudanças só seriam concretizáveis se, em assembleia-geral (ou – chame-se-lhes – plenários ou congressos), a maioria dos associados estivesse de acordo em alterar objectivos e princípios.
Cá por mim, continuo a querer ser jogador de xadrez e, para o continuar a jogar, discuto e aceito o que a maioria dos que comigo querem continuar a jogar xadrez. Como há 98 anos!   

2 comentários:

Olinda disse...

Viva o PCP!A luta continua!!!Bjo

João Baranda disse...

Parabéns ao PCP!
Pergunto só porque não se falam dos líderes antes do Bento Gonçalves ... José Carlos Rates entre outros ... tem de ser o JPP da Marmeleira a falar do assunto na sua biografia, não autorizada e ainda incompleta, de Álvaro Cunhal.
Abraço.
Também desejo longa vida ao PCP