O começo do século XX foi de profundas transformações. Como todo o
tempo o é, mesmo que disso não se dêem conta os coetâneos.
No primeiro quartel do século XX, Portugal instaurou a república,
participou na guerra de 14-18, viveu em grande instabilidade social e política.
Até este canto da Europa (que já existia antes de uma coisa chamada
União Europeia) chegavam ecos de mudanças pelo mundo fora.
Já não era a revolução francesa, que por aqui entrara de armas e
violência, era ainda (e por muito tempo) a colonização das periferias,
sobretudo anglófona.
Éramos o país do sol e da vinha, vantagem comparativa – à David Ricardo
(e Tratado de Methuen, e anteriores da Aliança mais antiga da História entre
países “civilizados”) – que se contrapunha à das inovações tecnológicas dos
teares para têxteis, das máquinas a vapor, dos transportes e comunicações. E aqui
chegavam os sinais e ecos de verdadeiras transformações que vinham de mais
longe, que vinham de lá onde acabava a Europa nos Montes Urais.
Sem rádio nem (ainda menos) televisão chegavam notícias que vinham ao
encontro de sentires e de tomadas de consciência social. O movimento operário
não esperava por informação mas crescia e estimulava-se com a informação que
chegava, lenta e cheia de escolhos.
O movimento associativo sindical ganhara ímpeto e dividia-se, mas
guardava e germinava na boa semente da participação e do associativismo.
Faltava algo de essencial.
Realizaram-se
várias reuniões nas sedes de alguns sindicatos, com o intuito de se construir
uma vanguarda revolucionária. Formou-se uma Comissão Organizadora para a
criação do Partido Comunista Português, que começou, em Janeiro de 1921, a elaborar
as bases orgânicas da nova formação política.
Por
essa altura, em diversos países formavam-se associações desse tipo a partir de
cisões de outros partidos, nomeadamente de partidos socialistas. Não foi o caso
do Partido Comunista Português que se constituiu na base do movimento
associativo, com sindicalistas que representavam o que havia de mais vivo,
combativo e revolucionário no movimento operário português.
Foi
na sede da Associação dos empregados de escritório, em Lisboa, que em 6 de
Março de 1921 se realizou uma assembleia que aprovou os estatutos da associação
e elegeu a primeira direcção do PCP.
Por isso,
hoje se assinala o 98º aniversário deste partido, do PCP.
Como
associação (política) que é, formou-se com associados, um estatuto que definia
objectivos, princípios e regras, e uma actividade que está próxima do
centenário.
A sua
história merece ser conhecida. E respeitada!
Não tenho a
pretensão de a contar. Não teria fôlego para isso, mas vivo-a como sei e posso.
E dá-me vontade de fazer algumas analogias talvez simplistas.
Como é
natural (e evidente), os fundadores do PCP já morreram todos, a sua actividade
teve de se inserir numa sociedade em transformação, os seus estatutos tiveram
de se ir adaptando ao evoluir dos tempos, mas os seus objectivos, princípios e
regras foram mantendo-se os mesmos. Ou, a não ser assim, a associação teria
desaparecido ou deixado de ser o que era quando formada. Há 98 anos. E, ao que
parece, de boa saúde e… jovem.
Ao longo de
seu percurso de vida, o colectivo que formou com os seus associados (que se
afirmam como militantes) passou por momentos em que tudo foi posto à prova. Dos
nove. Ou da realidade.
Em alguns
desses momentos, para além das dificuldades próprias do que tem de se
transformar e adaptar para vivo se manter num contexto sempre hostil e não raro
de extrema violência, a associação teve, por vezes (não poucas), internos
confrontos e mesmo cisões relativamente à forma de continuar ou, até, de
sobreviver.
Na maneira de
analogias simplistas em que pretendo manter-me nesta despretensiosa abordagem,
nem por isso menos séria e reflectida, é como se associados de um colectivo
formado para se jogar xadrez, tendo de se adaptar a tabuleiros e peças mutáveis,
encarassem a alternativa de mudar de modalidade desportiva e propusessem passar
a jogar às damas, em tabuleiros novos, com outras pedras e movimentações
outras.
De acordo com
as regras das associações, essas mudanças só seriam concretizáveis se, em assembleia-geral
(ou – chame-se-lhes – plenários ou congressos), a maioria dos associados
estivesse de acordo em alterar objectivos e princípios.
Cá por mim,
continuo a querer ser jogador de xadrez e, para o continuar a jogar, discuto e
aceito o que a maioria dos que comigo querem continuar a jogar xadrez. Como há
98 anos!
2 comentários:
Viva o PCP!A luta continua!!!Bjo
Parabéns ao PCP!
Pergunto só porque não se falam dos líderes antes do Bento Gonçalves ... José Carlos Rates entre outros ... tem de ser o JPP da Marmeleira a falar do assunto na sua biografia, não autorizada e ainda incompleta, de Álvaro Cunhal.
Abraço.
Também desejo longa vida ao PCP
Enviar um comentário