domingo, março 03, 2019

Venezuela na Voz do Operário

 - Edição Nº2361  -  28-2-2019

Solidariedade com a Venezuela ecoou na Voz
INICIATIVA Um enorme abraço fraterno ao povo da Venezuela que defende a paz e o direito a decidir o presente e o futuro da sua pátria, foi enviado a partir da Voz do Operário num acto político-cultural realizado a partir do final da tarde de sexta-feira, 22, em Lisboa.



No histórico salão nobre da sociedade de instrução e beneficência operária, que assinala 140 anos em 2019, a iniciativa promovida por mais de duas dezenas de organizações prolongou-se por cerca de três horas. Primeiro, com as intervenções políticas. Depois, com estas a darem lugar às palavras cantadas solidariamente por Tiago Santos e Sofia Lisboa, Jorge Rivotti, El Sur (Rui Galveias e Joana Manuel), Freddy Locks e Sebastião Antunes. Tudo apresentado pelo actor Fernando Jorge Lopes, a quem coube, a meio do espectáculo, declamar dois poemas a propósito: «Mãe deixa-me lutar», do compositor e intérprete venezuelano Ali Primera, e «Ode à Paz», de Natália Correia.
Sentados nas primeiras filas da plateia que se estendia até àqueles que não conseguiram lugar sentado, e que por mais do que uma vez repetiram consignas como «Paz sim! Guerra não!» ou «Venezuela vencerá», encontravam-se os embaixadores da  Venezuela, de Cuba, da Federação Russa e da Palestina, bem como representantes das mais de vinte organizações promotoras da iniciativa.
E foi dali que saiu Ilda Figueiredo, presidente da Direcção Nacional do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), que destacando desde logo o importante «alcance político» da sessão «face à ameaça da administração norte-americana de invadir a Venezuela e agredir militarmente o seu povo», reafirmou que o povo daquele país «não está só» na rejeição de uma guerra de semelhantes motivações como as levadas a cabo pelos EUA e os seus aliados contra os povos da Jugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria ou Iémene.
Tambores de guerra que ressoam impulsionados por uma «imensa operação de ingerência» e uma «ampla campanha de desinformação» , destacou ainda Ilda Figueiredo, para quem os objectivos desestabilizadores dos EUA e dos seus subordinados são claros: garantir através da divulgação de «mentiras sem escrúpulos» e da «infame propaganda do ódio», da «asfixia da economia venezuelana e do agravamento das condições de vida do seu povo, incluindo da numerosa comunidade portuguesa que reside naquele país», voltar a impor «o domínio sobre as riquezas naturais daquele país» e «quebrar o exemplo de desenvolvimento e progresso soberano» oferecido pela Revolução Bolivariana em curso.
Em nome da CGTP-IN, também Augusto Praça considerou que o papel que a Venezuela bolivariana tem desempenhado na conquista de direitos sociais e laborais por parte dos povos da América Latina, incomoda o imperialismo. Facto que, aliado ao desejo de deitar mão ao petróleo venezuelano motivam o lançamento de mais uma «guerra de saque» pelos EUA, disse, por seu lado a Embaixadora de Cuba em Portugal.
Usando da palavra a partir do palco, Mercedes Martínez alertou, consubstanciando com elementos concretos, para a real possibilidade de uma intervenção militar dos EUA. Uma agressão que está em marcha «com acções encobertas» a partir de bases militares norte-americanas em «total desrespeito pelos governos dos territórios onde se situam», e que, como noutros casos, «invoca pretextos humanitários».
A «narrativa humanitária», a exploração de «causas nobres reconhecidas unanimemente», não é novidade. E por isso impõe-se novamente uma forte mobilização que afirme que «a ajuda verdadeiramente humanitária» não se compagina com a «violência e a violação do Direito Internacional», acrescentou a diplomata da República de Cuba, que reiterou, igualmente, a «invariável solidariedade para com o presidente constitucional da Venezuela, Nicolás Maduro».
Querem ajudar?
Nicolás Maduro, aliás, é um dos alvos da campanha de intoxicação pública, notou, por seu lado, o embaixador da Venezuela no encerramento do período das intervenções. Caucionando como «presidente interino» um indivíduo que se autoproclama chefe de Estado, que foi eleito deputado em segundo lugar num círculo eleitoral com pouco mais de 90 mil votos, ou 0,29 por cento do total dos eleitores venezuelanos, em detrimento do presidente eleito, em Maio de 2018, por mais de 6,2 milhões de venezuelanos, o imperialismo e o aparato golpista prossegue o plano posto em marcha desde o passado mês de dezembro, denunciou Lucas Rincón Romero.
«Mas quem é Juan Guaidó?», questionou o embaixador da República Bolivariana da Venezuela em Portugal, explicando, logo em seguida(tendo como pano de fundo num ecrã no palco imagens que atestavam as suas palavras), tratar-se de um operacional da CIA. Um «fantoche» adestrado como «desestabilizador profissional» em programas de «mudança de regime» desde 2005; participante de primeira linha nos actos terroristas (guarimbas) ocorridos na Venezuela nos últimos cinco anos.
«Ninguém pretende negar que há uma crise económica na Venezuela. Nem o presidente Nicolás Maduro», disse igualmente Lucas Rincón Romero. Contudo, precisou, ela é provocada pelo bloqueio económico e financeiro imposto pelos EUA e seus vassalos, acusou.
«Querem ajudar a Venezuela?», insistiu o embaixador venezuelano. «Acabem com as ingerências e o bloqueio». «Devolvam-nos o dinheiro que têm sequestrado», acrescentou, calculando em seis mil milhões de euros, em moeda e em ouro, o total cativo só nas instituições europeias, justamente para agravar a crise na Venezuela e sustentar o golpe de Estado em curso, concluiu.



Provocação aberta
O acto político-cultural na Voz do Operário decorreu a poucas horas da concretização de uma «provocação em larga escala» na fronteira da Venezuela com a Colômbia, como a qualificou o embaixador Lucas Rincón Romero. Operação que contou com ampla difusão de informação manipulada e distorcida, como de resto provou o dignitário.
Tudo começou com uma mensagem do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, na mais popular rede social na América Latina, alegando que «o povo venezuelano necessita desesperadamente de ajuda», a qual «não chega porque os militares e Maduro não o permitem».
A mensagem, acompanhada de uma foto de uma ponte que liga a Colômbia à Venezuela, foi replicada em primeiras páginas de jornal e tele-noticiários «sem que jornalistas e editores se preocupassem em averiguar a veracidade de factos simples».
Factos tais como: como mostra a foto, a cerca e os blocos de cimento que bloqueiam a ponte Tienditas estão do lado da Colômbia, tendo sido este país a colocá-los; a foto foi tirada há 18 meses, portanto os obstáculos estão lá desde então e não foram colocados agora por ordem do governo bolivariano da Venezuela; a ponte, paga pela Venezuela, ainda não foi inaugurada porque se mantém um diferendo entre a Colômbia e a Venezuela, portanto a sua abertura ou encerramento nada tem a ver com a actual conjuntura.
Neste contexto, aduziu Lucas Rincón Romero depois de realçar aqueles «factos simples», resulta claro que a manobra na ponte Tienditas e o prazo dado pelos EUA e outros apoiantes do golpe para a entrada da «ajuda humanitária», «não foi mais do que uma provocação mediatizada para justificar uma intervenção militar».
«Operação de ajuda», salientou ainda, «que foi inclusivamente rejeitada pela Cruz Vermelha Colombiana», organização que se demarcou prontamente da manobra.
Imagens e informações difundidas durante o fim-de-semana e posteriormente por órgãos de comunicação social não-corporativos e nas redes sociais, mostram que os camiões com «ajuda humanitária» parados na ponte Tienditas, no sábado, 23, foram incendiados por indivíduos que se encontravam do lado colombiano da fronteira.

Governo seguidista

A dirigente do CPPC Ilda Figueiredo, na sua intervenção, não deixou de expressar a indignação colectiva perante «a posição do governo português» de «submissão e suporte do golpe de Estado levado a cabo pelos EUA contra a Venezuela e o seu povo».
Posição «vergonhosa e seguidista» que «desrespeita e afronta a Constituição Da República Portuguesa e o Direito Internacional», e torna o Governo «cúmplice» da intentona visando «o legítimo presidente Nicolás Maduro e o regime constitucional venezuelano», frisou.

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