- Nº 2477 (2021/05/20)
Escombros
A barbárie de Israel reduz a escombros a Faixa de Gaza, essa enorme prisão a céu aberto onde vivem dois milhões de refugiados de 73 anos de guerras de Israel. Em poucos dias, contam-se mais de 200 mortos, incluindo 60 crianças. As bombas israelitas destroem torres de apartamentos, serviços médicos, escolas e empresas. E também as instalações da comunicação social internacional, tentando esconder os crimes que cometem. É a receita usada pelos EUA contra a TV sérvia na guerra da Jugoslávia ou contra o Hotel Palestina em Bagdade, em 2003.
Com os mortos de Gaza e o terror dos bandos sionistas nas ruas de Israel, perecem também décadas de propaganda imperialista. As mentiras «democráticas», «humanitárias» ou da «responsabilidade de proteger populações civis» usadas para desencadear guerras de agressão – dos Balcãs ao Médio Oriente, do Norte de África à Ásia Central – jazem sob os escombros, esses sim reais, da Gaza mártir. A inaceitável conivência dos EUA, mas também da UE e seus governos, incluindo o Governo português, com os crimes de Israel é uma vergonha. Não se trata duma, já de si condenável, equidistância entre agressor e agredido, entre ocupante e vítima. É pior. Os EUA impedem que o Conselho de Segurança da ONU ponha fim à agressão e em plenos bombardeamentos enviam mais 735 milhões de dólares de armamento para Israel (RT, 17.5.21). O Alto Representante da UE para os Assuntos Externos (12.5.21) considera «inaceitável» o «lançamento indiscriminado de róquetes pelo Hamas e outros grupos contra civis israelitas», mas face aos bombardeamentos duma das maiores potências militares do planeta sobre a população cercada de Gaza não diz uma palavra de condenação.
O mito dos «valores» das «democracias ocidentais» também sucumbiu nos massacres de Israel. Na França republicana, o ministro do Interior proibiu e reprimiu as manifestações de solidariedade com a Palestina. A criminalização da solidariedade alastra, sob a falsa e miserável capa do combate ao anti-semitismo, como se viu na campanha contra o ex-dirigente trabalhista britânico Jeremy Corbyn. E enquanto os povos do mundo, incluindo em Portugal, descem às ruas em grandes manifestações de solidariedade com o povo mártir da Palestina, os governos ao serviço do grande capital colocam-se ao lado de Israel. Como os herdeiros do verdadeiro anti-semitismo, desde Bolsonaro e outros golpistas latino-americanos ao – ironia da História – governo da direita extrema na Áustria, que decidiu flutuar a bandeira de Israel em edifícios oficiais.
Na Palestina enterram-se os mitos de que o problema palestiniano desapareceria com o tempo, com o eterno incumprimento das promessas, com a lenta mas inexorável limpeza étnica, com a cumplicidade euro-atlântica e com a traição das ditatoriais petro-monarquias árabes.
Dos escombros de Gaza ergue-se uma realidade impetuosa: a Resistência dum povo é o caminho da sua liberdade. Foi assim nas agressões ao Líbano, à Síria, ao Iraque, ao Iémen. É assim na Palestina mártir. Quem durante décadas fechou as portas às soluções políticas não tem qualquer legitimidade para condenar hoje a resistência, sob as mais diversas formas, nos territórios ocupados, na diáspora, e agora também entre os palestinianos cidadãos de Israel.
A resistência de muitas décadas do povo Palestiniano é heróica. Com enormes sacrifícios – demasiadas vezes das próprias vidas – os palestinianos estão a conquistar o seu Estado soberano e independente. Que vai ser uma realidade. A Palestina vencerá!