«Ao conceito naturalista da raça, Oliveira Martins acrescentou um elemento espiritualista derivado do organicismo hegeliano, o “génio da nação” (…). O génio português, que se tinha exprimido organicamente nas Descobertas, eclipsara-se em 1580, data em que, segundo Oliveira Martins, Portugal atingiu o seu fim natural como uma unidade orgânica. Daí em diante Portugal limitara-se a não existir, como um fantasma de si próprio, o “Enfermo do Ocidente” (título de um dos capítulos da sua História de Portugal).
(…)
«Depois das Descobertas, o País ficou exangue e o que Camões escreveu foi o seu epitáfio: “Os Lusíadas cantam um passado, e são um epitáfio (p. 374). O povo voltou-se para o Sebastianismo na esperança de uma salvação, mas era a morte que desejava: “só essa”, a morte, “era a ambição do povo!” (pp. 374-375)»
...«Cesário, como Oliveira Martins, conhecia a teoria da “sobrevivência do mais forte”. Que aliás discute na sua poesia. Mas, ao contrário de Oliveira Martins, conclui que os biologicamente “mais fortes”, os sobreviventes, não eram os membros da classe dominante, da “geração exangue de ricos à qual ele próprio pertencia, mas antes o povo comum com “riqueza química no sangue” (nota: Esta tese é desenvolvida por Cesário no poema “Nós”, de onde tirei as frases citadas:
Pobre da minha geração exangueDe ricos! Antes, como os abrutados,
Andar com os sapatos ensebados
E ter riqueza química no sangue!)
(Nós – Uma leitura de Cesário Verde, Helder Macedo,
Editorial Presença, 1999, pp. 31, 44-5)
1 comentário:
Os sobreviventes são os que lutam.
Qu8 bela quadra de Cesário Verde.
Um beijo.
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